Livraria da Folha

 
15/12/2009 - 11h08

Ainda é preciso ter cautela com a crise, diz autor de "Terremoto Financeiro"

ANDRÉ BENEVIDES
colaboração para a Livraria da Folha

Uma semana após o vencedor do prêmio Nobel de Economia Paul Krugman ter dito que a crise ainda não acabou, a afirmação ganhou coro. Quem reforça a ideia agora é o também norte-americano --mas naturalizado brasileiro-- Norman Gall, autor de "Terremoto Financeiro", livro que analisa as causas e desdobramentos deste que é chamado o primeiro abalo global do século 21.

Divulgação
Norman Gall
Norman Gall acredita que a recente crise financeira ainda exige cautela

"Todo mundo ainda está perplexo com a crise, e as pessoas que acham que ela acabou deveriam ser um pouco mais cautelosas", afirma. Segundo ele, ainda existe a possibilidade de que os países emergentes sintam reflexos tardios da turbulência financeira que sacode o mundo desde meados do ano passado, acrescentando que vivemos uma "fase muito interessante, muito desafiadora".

Apesar de a crise de agora ter alguma semelhança com a de 1929, quando a economia mundial --e principalmente a dos Estados Unidos-- vinha de um longo período de crescimento, outros fatores agora são diferentes. Gall considera que vivemos em uma época de grandes avanços, em que se está consumindo mais e que pessoas que antes eram consideradas pobres estão formando uma nova classe média. "A democracia está espalhada como nunca antes na história. O desafio agora é consolidar este progresso e conseguir passar inteiro pela tempestade".

O problema é que, quanto mais complexa e interligada é a sociedade, tanto maiores devem ser os riscos e as crises. "Nos séculos 17 e 19, Amsterdam era um grande centro financeiro. Quando ele sofria um abalo, havia consequências nos EUA e em outros países, mas elas eram menores do que são hoje, pois estas interligações eram muito mais fortes".

De acordo com Gall, uma das principais recomendações que se faz atualmente para diminuir o impacto de turbulências deste tipo é a redução do tamanho das instituições financeiras e a eliminação de certos tipos de ativos que, na visão do jornalista, seriam verdadeiros "jogos de cassino". Ele é particularmente favorável ao fim dos chamados CDS (Credit Default Swaps), uma espécie de seguro contra o calote de uma determinada dívida e que pode gerar ganhos consideráveis.

Divulgação
O Terremoto Financeiro
Livro tenta explicar a última crise financeira que abalou o mundo

Como não é possível acabar definitivamente com a especulação, a questão seria utilizar "um sistema que tenha um viés para a segurança, e não para o risco --ainda que possa oferecer grandes lucros. Mas, se a procura por estes lucros acontece às custas da sociedade, então ela deve ser restringida", conclui.

Mudanças
Em seu último livro, o autor aborda justamente a crise financeira que, segundo ele, ainda não acabou. Gall, que também é diretor do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, procura desvendar as origens da turbulência, resgatando as lições aprendidas com a Crise de 29 e analisando as estratégias adotadas pelos governos para socorrer os bancos e conter a recessão.

A principal tática utilizada desta vez, diz Gall, foi simplesmente fornecer dinheiro para os bancos e instituições financeiras que, em boa medida, foram os principais responsáveis pela crise. "Em algum momento isso vai acabar, e esta será a ocasião para mudar as coisas", afirma. E ele acredita que esta hora está chegando. Resta saber se isso será feito ou se não passará de apenas mais uma especulação.

 
Voltar ao topo da página