Livraria da Folha

 
15/12/2009 - 14h07

Memorização não é decoreba; leia trecho de "Mentes Brilhantes"

da Livraria da Folha

O pensador alemão Friedrich Nietzsche (1855-1900) dizia: "A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez."

A frase abre o capítulo "Estratégias internas" do livro "Mentes Brilhantes - Como Desenvolver Todo o Potencial do seu Cérebro", escrito por Alberto Dell'Isola.

Ele foi o primeiro brasileiro a participar do Campeonato Mundial de Memória, em 2007 e já quebrou dois recordes latino-americanos (memorizou 289 cartas de baralho em uma hora e 280 dígitos também em uma hora).

Apresentado no livro como "mentatleta" (atleta da mente), o mineiro de Belo Horizonte é consultor, palestrante e membro do LADI (Laboratório de Avaliação das Diferenças Individuais), do Departamento de Psicologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), onde participa de pesquisas e projetos na área de psicologia.

Em linguagem simples e acessível, seu livro apresenta técnicas de memorização e de estímulo da criatividade, além de dinâmicas individuais e em grupo, capazes de eliminar bloqueios e lidar com a rejeição, atingir o aumento da produtividade em reuniões, bem como a elaboração de projetos vencedores.

Leia trecho do livro.

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Divulgação
Livro detalha diversas técnicas de memorização e de leitura dinâmica
Livro detalha diversas técnicas de memorização e de leitura dinâmica

A distração é provavelmente a mais comum de todas as pequenas aflições do dia a dia. Incontáveis vezes, todos nós já "esquecemos" de dar um recado, pagar uma conta, mandar um cartão de aniversário ou até mesmo onde colocamos nossos óculos. Quantas vezes você já guardou algo muito valioso em um local seguro e algumas horas depois se desesperou por não encontrá-lo? Albert Einstein é famoso não apenas por sua genialidade, mas também por sua capacidade de distrair-se, já esquecendo um vultoso cheque perdido dentro de um livro.

Pense por alguns instantes com que frequência você vê pessoas procurando pela chave da porta de casa, pela carteira, pelo guarda-chuva, pelo talão de cheques ou mesmo por uma caneta que "estava há pouco em minha mão". Essas situações podem ser um pouco irritantes e devastadoras. Se você coloca, sobre a estante, um jornal ou uma caneta, e subsequentemente se "esquece" onde os colocou, você pode se irritar um pouco. Mas, considere o caso de alguém que fez os seis pontos na mega-sena e perdeu o bilhete? Não são raros casos como esses.

Existem muitas ocasiões nas quais a distração pode ser embaraçosa e custosa. Se você precisa pagar uma conta e se esquece, provavelmente terá de pagar mais tarde com multa e juros inclusos. Vamos a outro exemplo. Imagine que, após anos de espera, surge o concurso público que você tanto aguardava. Você teria todas as condições de passar, mas, infelizmente, se "esqueceu" de fazer a inscrição ou então de comparecer ao local da prova no dia determinado.

Muitas pessoas têm seus próprios métodos para lidar com a distração. Alguns infestam o computador e a geladeira de recados em post-it. Outros amarram um pedaço de pano ao dedo ou ainda escrevem todas as tarefas no próprio braço. O problema com esses métodos é que, se utilizados da maneira incorreta, não funcionam - você gasta horas olhando para o nó em seu indicador, confabulando sobre o que precisava se lembrar ou tentando decifrar os hieróglifos borrados em seu braço.

Neste capítulo, abordaremos métodos simples e sistemáticos para evitar a distração, criando códigos de memória poderosos.

Diferentes tipos de domínios de memória

Você pode se lembrar de todo o Código Civil ou Penal, mas isso não o tornará capaz de se lembrar de trazer pães na volta para a casa. Ainda que você seja capaz de memorizar um baralho em menos de um minuto, também não terá a garantia de se lembrar do aniversário da namorada ou da consulta com o dentista.

Não existe qualquer relação entre a sua memória para fatos e sua memória para ações futuras e para intenções.

Memória não é uma coisa

A memória tem sido comparada com um armário, uma livraria ou, ainda, com um computador. Apesar de ser capaz de armazenar diversas informações, a memória não é simplesmente um depósito. Memória não é uma coisa, e sim um processo.

Diferentes tipos de informação são tratados de modos diferentes em nossa memória. Você acha que uma lei qualquer é armazenada da mesma forma que um trecho de alguma música em nossa memória? Ou da mesma forma como nos lembramos da (o) namorada (o) ao sentir alguém usando o mesmo perfume que ela (e) usa diariamente? Ou, até mesmo, da forma como lembramos que o número 1.202 vem depois do número 1.201?

Nós temos memórias que envolvem sentidos diferentes. Também temos memórias que envolvem o passado e memórias que envolvem o futuro. Temos memórias de fatos, de pessoas, daquilo que gostamos ou detestamos. Existem memórias de diversos tipos e que pertencem a classes diferentes. Os especialistas costumam chamar essas classes de domínios. Portanto, existe um domínio para fatos, pessoas, eventos, habilidades e um domínio para futuras ações e intenções. Desse modo, para melhorar a memória para ações futuras e intenções é preciso que você entenda como esse tipo funciona.

Gatilhos de memória

Para lembrar-se de algo aprendido ou de experiências passadas geralmente utilizamos gatilhos de memória. Quando avistamos um amigo, diversos gatilhos de memória são disparados: nome, profissão, idade...A pergunta "qual a capital do Brasil?" engatilha a informação armazenada "Brasília". Lembramos da (o) nossa (o) namorada (o) quando passamos por uma loja e sentimos certo perfume, porque sentir o perfume da pessoa amada é um poderoso gatilho de memória.

Uma vez fui ministrar uma palestra sobre técnicas de estudo e memória no colégio em que estudei durante a minha infância. Foi incrível a quantidade de gatilhos de memória que surgiram quando entrei na escola.

Mesmo que aparentemente alguma memória surja em nossas mentes sem qualquer motivo aparente, é provável que houve algum gatilho de memória responsável por essas lembranças. Por conseguinte, surge a primeira regra em busca de uma supermemória: se você deseja se lembrar de fazer algo, concentre-se no gatinho de memória, e não na intenção propriamente dita. Pesquisas têm mostrado que, ao contrário do que se imagina, não existe tanta relação entre a importância dada a um evento futuro e sua capacidade de se lembrar dele, a não ser, é claro, em casos extremos.

Memorização e decoreba

Frequentemente me fazem a seguinte pergunta: "Para que memorizar se eu posso entender?". Ou então já soltam o comentário: "Sinceramente, não consigo memorizar, preciso entender antes." Esses comentários são ingênuos, pois memorização e decoreba são coisas completamente distintas. Ao contrário do que se possa imaginar, esses comentários não são exclusividade no senso comum. Uma vez, li em uma reportagem que "especialistas em educação criticavam o uso de técnicas mnemônicas, visto que elas eram fruto de um descaso com o ensino." É uma pena que Cícero não tenha podido ler isso -ainda que haja tempo para que, aqueles que proferiram essas críticas, possam lê-lo.

Técnicas de memorização referem-se à incorporação de mais gatilhos de memórias, facilitando a evocação de qualquer assunto aprendido anteriormente. Veja que não existe sentido em utilizar técnicas de memorização sem que haja o entendimento prévio do assunto a ser memorizado, visto que, sem o entendimento adequado, é praticamente impossível criar gatilhos de memória eficientes. Assim, ao utilizar um mapa mental para se lembrar das aulas de Direito, o aluno simplesmente cria novos códigos visuais para uma informação já aprendida anteriormente, evitando o esquecimento. Ao se evocar o material estudado, o estudante mais uma vez faz uso de técnicas de memorização, incorporando novos códigos (o som de sua própria voz) à rede de informações em que o assunto está inserido.

A decoreba refere-se à criação de códigos ineficientes de memória. Desse modo, pela repetição pura e simples, o estudante tenta aprender muita informação em um curtíssimo espaço de tempo. Esse é um método completamente equivocado de se adquirir novos conhecimentos, pois, sem o entendimento, não é possível criar uma rede eficiente de memorização. Logo, o aluno que se utiliza da decoreba é incapaz de se articular adequadamente sobre o assunto decorado. Felizmente, minha proposta não é essa - ainda que muitos "especialistas em memorização", sem qualquer formação acadêmica na área, indiquem que memorizar algumas palavras-chave possa resolver qualquer problema de memória.

É difícil se lembrar de intenções

Infelizmente é mais difícil se lembrar de intenções e eventos futuros, uma vez que na maioria das vezes não podemos nos dar ao luxo de esperar que surja algum gatilho de memória que nos remeta à lembrança desejada. Se precisarmos comprar uma blusa nova, nem sempre podemos esperar que avistemos no shopping a blusa desejada. Analogamente, não podemos também esperar que cortem a luz ou a água de nossa casa para lembrar-nos de pagar as contas mensalmente.

É mais difícil lembrarmos de ações futuras quando elas fogem de nossa rotina. Lembrar-se de alimentar os peixes de seu aquário geralmente não é um problema, visto que é algo que você faz diariamente. No entanto, lembrar-se de alimentar os peixes dos vizinhos quando eles estão viajando realmente é bem mais complicado.

Lapsos rotineiros não são falhas de memória

O esquecimento de ações corriqueiras geralmente não é falha de memória, e sim de atenção. Podemos listar como tipos de lapsos de memória:

- Ações que você já esqueceu de ter feito, como checar se a porta de sua casa está fechada ou se o carro está com o freio de mão puxado, mesmo que já tenha feito essas ações.

- Ações substitutivas, como quando você joga a banana no lixo em vez de jogar a casca.

- Ações incompletas, como quando você coloca a panela no fogão e se esquece de acender o fogo ou quando coloca a forma de gelo vazia no congelador.

Nenhuma dessas ações é causada por lapsos de memória, visto que você percebe claramente, logo após o ocorrido, que o que está fazendo não está de acordo com o seu objetivo inicial. O primeiro tipo de erro -duvidar sobre uma ação já tomada-ocorre principalmente quando a ação é parte de nosso dia a dia e é executava automaticamente. Uma dica para evitar esse tipo de distração é simplesmente prestar atenção. No entanto, também existem outras técnicas para essas situações.

Como se lembrar de intenções

Você encontra-se distraído quando toma alguma atitude inconscientemente, sem pensar. A distração não tem qualquer relação com a memória. A prova disto é que grandes professores em universidades e cientistas, dotados de grande memória, tendem a ser distraídos por darem tanta atenção a seu trabalho, esquecendo o mundo que os cerca.

A solução? Pode parecer idiota, mas basta que você preste atenção no que está fazendo. E claro que falar é fácil, mas como você pode ter certeza de que vai se esforçar para se concentrar em tudo, o que faz em situações corriqueiras da rotina?

Inicialmente, reflita sobre os tipos de distrações que você está acostumado a ter. Quais deles são realmente frequentes e irritantes? Para esss, você precisa criar um gatilho de memória para lembrar-se de sua ação futura.

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"Mentes Brilhantes - Como Desenvolver Todo o Potencial do seu Cérebro"
Autor: Alberto Dell'Isola
Editora: Universo dos Livros
Páginas: 208
Quanto: R$ 29,90
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
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