Blogueiro narra a conquista do hexacampeonato pelo Flamengo
JULIANA FARANO
colaboração para a Livraria da Folha
Longe da Livraria da Folha ser parcial ou torcer por qualquer time. Por aqui, em nome do bom jornalismo, damos voz aos autores, sejam eles palmeirenses, corintianos, vascaínos, flamenguistas ou torcedores de qualquer outro clube. Assim, se você tem horror a torcedor fanático e não consegue encarar com bom humor as piadas e provocações que fazem parte da rivalidade natural do futebol, melhor nem continuar lendo esta matéria.
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| Publicitário e torcedor fanático Arthur Muhlenberg divulga o livro junto com a atual presidenta do Flamengo, Patrícia Amorim |
Afinal, parte deste texto é uma entrevista com o autor do livro "Hexagerado" (Editora 7 Letras), que acredita que o Flamengo "deveria disputar as eliminatórias da Copa do Mundo como uma entidade política independente do Brasil" e que se refere aos rivais como "arcoirizada". Por aí já dá para ter uma ideia do tom da conversa.
O publicitário Arthur Muhlenberg já é conhecido da nação rubro-negra. Além de assinar a coluna "Planeta Flamengo" na revista oficial do clube, ele escreve o "Urublog", do portal globoesporte.com. E são textos extraídos do blog que formataram a publicação. "Antes do Campeonato
Brasileiro acabar, surgiu a ideia de publicar algo documentando aquele possível hexacampeonato", explica.
Leia um pequeno trecho do livro
Como bom torcedor, Arthur deixou tudo nas mãos de seu editor até o Flamengo se tornar, de fato, campeão, sem deixar de lado a superstição de não comemorar de maneira antecipada. "Achava que não ia ser uma boa ficar tratando desse tema naquele momento", diz.
O resultado é uma narração da conquista, jogo a jogo, que ilustra com máxima fidelidade o espírito de um amante do futebol e, principalmente, apaixonado pelo seu time de coração. Os textos, escritos no calor das partidas, proporcionam emoções que só os fanáticos conseguem compreender.
A Livraria da Folha conversou por e-mail com Arthur, que além de "Hexagerado", também é autor de "Manual do Rubro-Negrismo Racional". Leia abaixo.
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LIVRARIA - Como você se descobriu flamenguista?
ARTHUR - Quando minhas filhas me perguntam isso, respondo liricamente que gosto de pensar na ideia que a célula rubro-negra original já estava presente quando eu era apenas um homozigoto. Mas a verdade é menos interessante. Lembro vagamente de algumas emoções tipicamente flamengas enquanto eu ainda boiava em semiconsciência no líquido amniótico dentro do útero da mamãe.
LIVRARIA - Qual é a sua lembrança mais remota da relação com o clube?
ARTHUR - Meu pai gostava de me dizer que eu já nasci Flamengo porque escolhi criteriosamente uma sexta-feira em que não tinha jogo do Mengão pra nascer. Na verdade, o dia 7 de março caiu justamente entre um amistoso em que o Flamengo venceu o Alianza por 2 x 1, em Lima, e uma rápida expedição disciplinatória até os alagadiços do Pacaembu onde o Flamengo doutrinou o Corinthians por 3 x 1 pelo Rio-São Paulo do cenozóico 1964.
LIVRARIA - Como surgiu o convite para escrever o Urublog?
ARTHUR - O projeto "Blog do Torcedor" foi criado pela equipe do portal "Globo Esporte" em abril ou maio de 2007. Eles selecionaram alguns publicitários indicados para os blogs de alguns clubes e recrutaram através das homes do clubes os demais blogueiros pra fechar os 20 blogs da Serie A. O blogueiro do Flamengo, um publicitário fera chamado Marcio Juniot, não pode mais continuar com o blog porque foi ser VP de criação de uma mega agência ou coisa semelhante. Aí um amigo meu, também blogueiro e rubro-negrissimo, o Lucas Dantas, me indicou pra substituir o Juniot. Sempre gosto de citar e agradecer ao Lucas porque ele foi muito sangue-bom, já que poderia muito bem ter se indicado pra fazer um trabalho tão maneiro.
LIVRARIA - E a ideia do livro, como surgiu?
ARTHUR - A ideia do livro veio muito em função da boa aceitação do "Manual do Rubro-Negrismo Racional", o livro que eu lancei em novembro. A primeira edição, de 1300 exemplares, vendeu rapidinho e coincidiu com a arrancada do Mengão nas ultimas cinco rodadas do campeonato. O meu editor, Jorge Viveiros de Castro, da 7 Letras, sugeriu a ideia de publicar algo documentando aquele possível hexacampeonato. Achei legal a ideia, mas me recusei a sequer falar no assunto antes do Flamengo e Grêmio de 6 de dezembro. Não sou supersticioso, mas dentro da filosofia do sapatinho máximo que até então vinha dando certo, achava que não ia ser uma boa ficar tratando desse tema. O Jorge, como botafoguense, entendeu na hora o drama e se pôs ele mesmo a fazer a seleção e edição dos textos que compõem o "Hexagerado". Ou seja, a ideia do livro foi do editor que apostou na chegada do Mengão.
LIVRARIA - Todos os textos publicados no livro saíram antes no blog?
ARTHUR - Sim, mas é claro que depois de revisados, submetidos à boa norma ortográfica, despidos de seus excessos jaculatórios e organizados cronologicamente pelo meu experiente editor, meus posts mais sem noção ficam até parecendo gente. Eu só escrevi o texto final na terça-feira após a conquista do título, sabendo que ia ser um livro. O resto todo foi escrito no calor dos acontecimentos, naquela onda da "descartabilidade" comum aos textos dos blogs.
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| Autor narra jogo a jogo a conquista do hexacampeonato pelo Flamengo |
LIVRARIA - No livro, você deixa transparecer toda a sua paixão pelo Flamengo como um típico torcedor. Você acha que falta material assim no mercado da literatura sobre futebol?
ARTHUR - Acho que falta. Mas penso também que com o crescimento dos blogs e toda essa onda da internet 2.0, o hábito de ler e de escrever tem se reavivado. E tem muita gente com excelente texto que começa a aparecer. No "Urublog" tenho o costume de sempre publicar material enviado pelos próprios leitores e nos últimos três anos a qualidade tem aumentado muito. Acho que é uma questão de tempo para que mais livros com essa característica de torcedor cheguem ao mercado.
LIVRARIA - Você acompanha os lançamentos de livros sobre futebol?
ARTHUR - Na medida do possível, procuro ficar ligado em tudo o que sai. Mas só compro obrigatoriamente os livros do Mengão. O último livro de futebol que não era do Mengão que eu comprei foi o "Almanaque do Futebol", de Lédio Carmona e do Gustavo Poli.
LIVRARIA - Quais são seus autores e títulos prediletos nesta área?
ARTHUR - Os monstros sagrados das antigas não podem ficar fora dessa lista, como Mario Filho, Nelson Rodrigues, João Saldanha e Sérgio Porto. Qualquer livro deles é item importante na minha biblioteca. O Armando Nogueira também escreveu muita coisa legal nos anos 1960, antes de virar executivo de TV. Tem também os feras da atualidade. O Ruy Castro, com sua biografia do Garrincha e seu delicioso "O Vermelho e o Negro" é um dos meus prediletos. Gosto também do Roberto Assaf, da dupla Arturo Vaz e Celso Junior, e do Paschoal Filho. Acabei de comprar o livro do Carlos Eduardo Mansur e do Luciano Ribeiro.
LIVRARIA - Você acreditava no título do Flamengo desde o início do campeonato?
ARTHUR - No começo sim, mas isso é um desvio de conduta normal entre os rubro-negros e nem posso me gabar por poderes premonitórios. Teve momentos ao longo do campeonato em que eu tive quase certeza de que não ia ganhar nem a pau. E depois voltei a acreditar fortemente.
LIVRARIA - Em sua opinião, qual é o papel de Andrade na conquista deste título?
ARTHUR - Andrade foi fundamental para essa conquista. Por seu background vencedor e por conhecer intimamente as entranhas do Flamengo, ele soube conduzir o time não apenas taticamente, mas, principalmente, soube como manter a cabeça da rapaziada no lugar e evitar o "oba oba" que sempre nos prejudica.
LIVRARIA - O Flamengo foi campeão com jogadores veteranos em campo, como Pet e Adriano. Você acha que a experiência dos dois foi fundamental para a conquista?
ARTHUR - Sem dúvida, mas não apenas pela experiência. É que os dois são bons de bola. Se fossem dois molambos, a experiência deles não ia servir pra nada.
LIVRARIA - Ainda falando dos veteranos, hoje em dia os astros de antigamente estão voltando para o Brasil, vide o caso de Adriano, Ronaldo e, agora, Roberto Carlos. Ao que você atribui tal situação?
ARTHUR - Para os "popstars" do esporte, já consagrados e com o boi na sombra, não deve haver melhor lugar pra viver e trabalhar que o Brasil. Além do mais, o gap entre os salários que essas feras mais rodadas obteriam na Europa e o que eles podem receber no Brasil vem sendo reduzida dia a dia.
LIVRARIA - Você estava no Maracanã no dia da final?
ARTHUR - Claro que eu estava lá. E acredite, a sensação de ser hexa depois de 17 anos é indescritível.
LIVRARIA - Em sua opinião, quais jogadores do elenco atual do clube merecem vaga na seleção brasileira?
ARTHUR - Por mim não vai nenhum, até porque o Flamengo é uma nação e deveria disputar as eliminatórias da Copa do Mundo como uma entidade política independente do Brasil. Desconsideremos esse fato e aí acho que tem vaga pro Bruno, pro Everton (na lateral esquerda), pro Torózinho e pro Imperador.
LIVRARIA - Quais são suas expectativas para 2010 em relação ao Flamengo?
ARTHUR - Ganhar tudo e não deixar nada pra arcoirizada.
LIVRARIA - Pra terminar, qual seria sua seleção de todos os tempos do Flamengo?
ARTHUR - Essa é uma pergunta difícil, pois se choca com o caráter atemporal do Flamengo. Vou fazer um esforço aqui pra colocar no mesmo time alguns dos maiores da nossa história, mas já sei que a lista será sempre incompleta e segue junto um pedido de desculpas pelos monstros que eu deixar de fora. Meu Flamengo eterno vai armado no tradicional 4-3-3 (mas o Uri Geller vai me obedecer taticamente e voltar marcando quando estivermos sem a bola) com Julio Cesar, Leandro, Rondinelli, Domingos da Guia e Junior; Carlinhos Violino, Adílio e Zico; Dida, Leônidas e Julio César Uri Geller.
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"Hexagerado"
Autor: Arthur Muhlenberg
Editora: 7 Letras
Páginas: 104
Quanto: R$ 29,00
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha
