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23/12/2009 - 17h45

Poeta Orides Fontela procurou decifrar o enigma da existência

da Folha Online

Juan Esteves/Folha Imagem
Orides Fontela buscou a totalidade na insuficiência e nos desajustes
Orides Fontela buscou a totalidade na insuficiência e nos desajustes

Esqueçam por um minuto as escritoras brasileiras mais conhecidas. Atenham-se demoradamente às linhas de Orides Fontela, uma poeta que ainda permanece no anonimato literário brasileiro por conta de seu temperamento amargo e explosivo. Seu talento, porém, nunca fora negado desde os versos iniciais que compôs.

Orides fez parte da "geração de 60". Publicou seus primeiros poemas em 1956, no periódico "O Município", de São João da Boa Vista. "Transposição", primeiro livro de poesias, foi lançado em 1969. "Helianto" (1973), "Alba" (1983), "Rosácea" (1986), "Trevo 1969-1988" (1988) e "Teia" (1996) foram editados na sequência, e entraram para o rol de livros raros de se localizar em sebos ou em livrarias. Os dois últimos ficaram esgotados durante alguns anos. Em 2006, parte da obra de Orides --"Transposição", "Helianto, "Alba", "Rosácea" e "Teia"-- foi compilada em um exemplar, "Poesia Reunida [1969-1996]" (Cosac Naify, 2006), com bibliografia ampla e atualizada.

Os versos de Orides fazem uma leitura filosófica da literatura. Seus desajustes são traduzidos por meio de um tom lírico e simbólico. A poesia, no estado metafísico e móvel dos seres.

Entre o ser e o nada, numa alusão à filosofia heideggeriana, os poemas descrevem a brevidade mundana. Espelho, pássaro, flor, tempo e a própria fala tornam-se quase criminais, porém essenciais como registro de mundo. As estrofes nascem problematizadas e querem mostrar para o leitor que as felicidades são mal-agendadas por estado de natureza.

Mundo esse que lhe proporcionou momentos agudos de depressão e solidão, além das dificuldades financeiras. Recebeu a ajuda dos amigos Antonio Candido, Davi Arrigucci Jr. e Marilena Chauí. Seu drama pessoal era traduzido além-página. O peso da realidade lhe conduzira várias vezes ao suicídio.

A autora recebeu o Prêmio Jabuti de Poesia, em 1983, pelo livro "Alba", e o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em 1996, por "Teia". "Poesia Reunida [1969-1996]" também ganhou o APCA na categoria "Literatura: Poesia", em 2006.

Orides passou seus últimos anos na Casa do Estudante Universitário, região central de São Paulo. Morreu em 2 de novembro de 1998, na Fundação Sanatório São Paulo, em Campos do Jordão, vítima de tuberculose.

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"Poesia Reunida [1969-1996]"
Autora: Orides Fontela
Editora: Cosac Naify
Páginas: 376
Quanto: R$ 62
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

 
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