Livraria da Folha

 
04/01/2010 - 21h13

Carente quer ser seduzido, diz autor de "Ciúme, o lado amargo do amor"

da Livraria da Folha

As férias, período de maior convivência de um casal, podem levantar a libido, diversificar o relacionamento, criar situações de maior envolvimento e intimidade, dentro ou fora de casa. Entre os conflitos típicos da temporada, há o lado amargo do ciúme. Em viagens, por exemplo, os dois estão mais expostos às tentações da carne, principalmente em círculos mais animados, boemia, noite, brincadeiras em clubes e espaços públicos. Eles se achavam tão moderninhos e, pá, pintou ciúme na relação.

Divulgação
Ciumento neurótico pode virar psicótico, alerta psiquiatra
Ciumento neurótico pode virar psicótico, alerta psiquiatra

O livro "Ciúme: O Lado Amargo do Amor", do psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos, dá um choque de realidade no ciumento compulsivo, tocando em conflitos de egos, hipocrisia familiar, desajuste emocional.

"Infelizmente, as vítimas do ciúme demoram para percebê-lo e para reagir contra o ciumento. Isso se dá por várias razões, e a principal é que elas são seduzidas pela ideia romântica de que o ciúme é uma demonstração de amor. Podem também colocá-lo em segundo plano, envolvidas pelo entusiasmo que caracteriza os primeiros tempos de uma relação. Podem, ainda, existir motivos indiretos, que são inconsistentes, na escolha de um parceiro ciumento. Por exemplo, há milhares de mulheres que, para fugir do assédio excessivo, real ou não, procuram um homem ciumento que tome posse delas e as proteja", escreve o médico no capítulo "Uma história de Barbie".

Os títulos dos capítulos abrem o apetite para mergulhar nos mistérios de um sentimento tão feroz: "Profissão: desconfiar, Jamais diga: "Você é minha vida", Será que não está faltando empatia? Os acordos secretos do casal, As perguntas essenciais de cada um, A dor da traição já existia antes, As pazes já não são feitas na cama, Uma história de Barbie, Dez da noite. E toca o telefone para ela...De perto, ninguém é normal, Com o lobo mau não tinha papo, O ciúme no seio da família, O ciúme entre irmãos, A química do corpo e o ciúme".

O texto faz interrogações instigantes e pontua logo as respostas, exemplifica, didaticamente.

"Por exemplo: até onde é possível, numa relação, um parceiro dizer ao outro, sem que o mundo desabe, que achou outra pessoa atraente? Eu não saberia responder, mas posso dizer que um casal supostamente maduro iria discutir o problema e fazer um balanço da relação para achar uma resposta e reorientar sua rota. O sentimento de atração indica que o relacionamento não está satisfatório, dando margem para um "acidente de percurso". A pessoa carente está predisposta a ser seduzida por alguém que possa, mesmo que na aparência, atender a seus anseios. Falta apenas a ocasião. Convém lembrar que essa atração também pode ser algo banal, sem nenhuma consistência: acha-se alguém bonito e atraente, e o assunto esgota-se aí. Não há necessidade para levá-lo para casa!"

Eduardo Ferreira-Santos é também psicoterapeuta de adultos e adolescentes. Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, ele especializou-se em psiquiatra. Médico-supervisor no Serviço de Psicoterapia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP, coordena um grupo de atendimento a vítimas de sequestro que desenvolveram o transtorno de estresse pós-traumático. É mestre em psicologia clínica pela PUC-SP e doutor em Ciências Médicas pela FMUSP.

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"Ciúme: O Lado Amargo do Amor"

Autor: Eduardo Ferreira-Santos
Editora: Ágora
Quanto: R$ 28,90
Onde comprar: Na Livraria da Folha

Leia trecho:

"a prática tem demonstrado que pessoas com a serotonina aumentada por meio de remédios sentem melhora na vida emocional e na produção intelectual. Tive clientes que, com três meses de Prozac, saltaram barreiras que até então pareciam intransponíveis na terapia. Mas o que isso tudo tem a ver com ciúme? Vamos voltar ao início do capítulo. O ciumento tem baixa autoestima, que está ligada à falta de serotonina no organismo. Se a pessoa tem um déficit, cresceu enfrentando mais dificuldades e conhecendo fracassos por não conseguir superá-las. Cresceu, portanto, com uma vivência interior de fracasso e de exclusão, com a consciência ou a ideia de valer menos do que os outros, inclusive porque o mundo foi lhe mostrando essa realidade, e isso vai transparecer na sua relação afetiva com alguém. E é claro que vai sentir medo de perder o parceiro para qualquer outro. É então assaltada pelo sentimento de posse do parceiro, abrindo espaço para o ciúme.

Acredito que o déficit de serotonina no ciumento poderia ser corrigido por meio de medicamentos. Eu realizei uma experiência com um paciente ciumento obsessivo-compulsivo, mas se tratava de um caso em que não havia dúvidas, clinicamente falando, sobre a indicação do medicamento. O paciente obteve melhoras fantásticas tanto na obsessão como na compulsão. (Obsessão é cultivar um pensamento fixo e compulsão é agir com base naquilo que se pensa.) Ele continua tomando o medicamento."

 
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