Livraria da Folha

 
07/01/2010 - 14h29

"Original de Laura", de Nabokov, vira best-seller na Rússia

da Livraria da Folha

O livro póstumo e inacabado de Vladimir Nabokov "O Original de Laura", que o escritor russo mandou queimar logo antes de morrer em 1977, seu último desejo ignorado pelo filho, se transformou em best-seller na Rússia. "'Laura' vende muito bem. É um acontecimento literário incomum na Rússia. Estamos falando do livro inacabado de um autor clássico", informou à Agência Efe uma das funcionárias da livraria "Moskvá", no centro da capital russa.

Divulgação
Livro que ficou 30 anos guardado vira sucesso de vendas na Rússia
Livro que ficou 30 anos guardado vira sucesso de vendas na Rússia

O último livro do famoso autor de "Lolita", uma das obras mais controversas do século 20, ficou entre os presentes de Natal favoritos para os leitores russos. "Somos os líderes de vendas em Moscou", apontou a vendedora, que cifrou em milhares os exemplares vendidos só pela internet desde a publicação do livro no início de dezembro.

Na livraria popular Biblio-Globus, o livro de Nabokov, cuja tiragem foi de 50 mil exemplares em versão impressa e outros dez mil manuscritos, é o quarto nas listas de vendas. A versão impressa em russo custa 229 rublos (R$ 12,99), um preço acessível para o ávido leitor russo, enquanto a versão bilíngue em russo e inglês chega até 649 rublos (R$ 36,82).

A publicação do livro decidiu um dilema ético para o filho do autor, Dmitri Nabokov, que durante anos ficou na dúvida sobre se devia ou não cumprir a última vontade de seu pai. Precisamente, o livro começa com uma emocionante introdução na qual Dmitri relata os últimos dias de doença de seu pai e explica os motivos da publicação do texto, o que resultou em críticas por parte de editores e escritores.

Na introdução, o filho lembra que Nabokov também tentou queimar então a minuta de "Lolita", mas que "sua esposa (Vera) lhe arrancou das mãos" no último momento em duas ocasiões. Dmitri, de 76 anos, lembra que Franz Kafka também pediu a Max Brod que queimasse obras como "Metamorfose", "O Castelo" e "O Processo" "consciente de que ele jamais se atreveria a cumprir tal pedido".

"Nabokov agiu da mesma forma ao pedir a destruição do livro a minha mãe", apontou o filho do escritor, que considera que não podia privar o mundo de uma obra literária desse calibre. Escritores como o britânico Martin Amis criticaram duramente a decisão, enquanto outros acusaram Dmitri Nabokov de querer enriquecer com a obra de seu pai.

Outros gênios da literatura como o poeta romano Virgílio e o escritor russo Gogol também pediram, em vão, que suas obras-primas "Eneida" e "Almas Mortas" fossem postas em chamas.

 
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