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16/01/2010 - 08h01

Conheça o "Tarzan português", europeu que viveu entre os tupinambás

da Folha Online

Os primeiros anos da história de nosso país são contados pelos ciclos econômicos e por depoimentos fabulosos do novo mundo, um universo exótico pronto para ser explorado pelos europeus.

Divulgação
Após mergulhar na história desses personagens, podemos nos compreender melhor como nação
Um mergulho em nossa história para compreender melhor a nação

Naquela época, as personalidades estavam vinculadas aos feitos de importância heróica e religiosa. Os jesuítas e os bandeirantes, por exemplo, viveram sob a égide de seus bravos feitos até o século 20, quando foram finalmente desmitificados pelos estudiosos.

Contudo, quem foram os homens e mulheres que habitaram e --merecedores ou não-- tornaram-se parte da história do Brasil?

O livro "Eles Formaram o Brasil" é uma biografia bem pesquisada e deliciosamente escrita sobre o período.
Do português Caramuru à índia Bartira, do jesuíta Manuel da Nóbrega ao bandeirante Raposo Tavares, apresenta não apenas os personagens famosos, mas também os que não se tornaram tão conhecidos, como a cristã-nova Branca Dias, o senhor de engenho Fernão Cabral Taíde, o latifundiário revoltoso Manuel Beckman e o tropeiro Felipe dos Santos.

Abaixo, leia um trecho do livro sobre Diogo Alvarez Correa, o Caramuru.

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Personagem envolto em mistérios e controvérsias, Diogo Alvarez Correa ou o Caramuru, como ficaria conhecido, representou a essência do espírito de aventura que conduziu os portugueses do século xvi por terras e mares até então desconhecidos.

Nascido em Viana do Castelo, no Norte de Portugal, em 1485, Diogo chegou ao Brasil em data incerta, mas posterior a 1500. Quando aportou nas novas terras tinha cerca de 17 anos, nada que causasse estranheza à época, quando crianças eram tratadas como verdadeiros adultos em miniatura, a partir dos 7 ou 8 anos.

Constantemente, crianças substituíam adultos mortos em consequência de doenças que se propagavam por ausência de hábitos básicos de higiene e pela alimentação deficitária em vitaminas e proteínas. Dessa forma, elas participavam das grandes navegações portuguesas. Garotos serviam nos navios como grumetes, aprendizes de marinheiros, sujeitos a maus-tratos e encarregados de vários dos trabalhos mais pesados a bordo. Não raro, eram também abandonados em terra e entregues a sua própria sorte.

Foi o que aconteceu com nosso personagem: abandonado na Bahia, Diogo adaptou-se à cultura dos índios tupinambás, terminando por dominá-la como se tivesse nascido entre eles. Quando a missão colonizadora de Martim Afonso de Souza - aquela que iniciou a primeira tentativa de povoamento lusitano em 1530 e que foi responsável pela fundação da capitania de São Vicente - chegou ao Brasil, o jovem Diogo prestou auxílio essencial aos seus conterrâneos portugueses.

Os homens de Martim Afonso não eram muito diferentes do próprio Diogo. Assim como ele, eram jovens sonhadores que esperavam obter uma nova vida em terras do além-mar. Os primeiros colonizadores queriam construir, em terras brasileiras, uma sociedade à imagem e semelhança da europeia, de acordo com moldes medievais, mas com certa mobilidade social, que permitisse a um camponês, por exemplo, tornar-se senhor, cheio de privilégios e com plenos poderes para escravizar indígenas e sujeitá-los à fé em Cristo.

Mais tarde, em 1536, o Caramuru procurou mediar o entendimento entre ameríndios e portugueses. O donatário Francisco Pereira Coutinho, responsável pela administração da capitania da Bahia, vinha enfrentado dificuldades para estabelecer atividades rentáveis desde que havia chegado a Itaparica em 1534. O principal obstáculo eram os ataques indígenas. O Caramuru tentou amenizar os atritos, mas não conseguiu evitar a morte do capitão nas mãos dos nativos.

Tamanha foi a importância de Diogo no projeto de colonização lusitana no Brasil que ele chegou a ter contato com o rei de Portugal através de cartas e representantes. Foi a mando do rei D. João III que ele começou a preparar o terreno entre os índios, a partir de 1548, para a chegada dos conterrâneos portugueses em 1550 e a instalação do Governo-Geral sediado em Salvador.

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"Eles Formaram o Brasil"
Autores: Fabio Pestana Ramos e Marcus Vinícius de Morais
Editora: Editora Contexto
Páginas: 272
Quanto: R$ 43,00
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

 
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