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19/01/2010 - 18h25

Homem carrega culpa por brincadeira gay na infância; leia trecho

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O homem ainda tem de sair à rua, todos os dias, à caça de mamutes, como faziam seus ancestrais, observa o médico-psicoterapeuta Moacir Costa, autor de "Sem Drama na Kama". Hoje, os mamutes são outros (a luta pelo emprego, a loucura do trânsito, a violência no cotidiano), mas a dificuldade talvez seja ainda maior.

Em seu livro, ele se volta para as angústias do homem moderno em lidar com assuntos íntimos e sexuais. Com pós-graduação em psiquiatria pela USP e especialização em sexualidade na Universidade de Cornell (Nova York, EUA), Costa percebe que os rapazes tendem a se isolar, esconder suas fragilidades e dúvidas, sem descarregar suas tensões nem revelar seus sentimentos e emoções enclausuradas.

"Felizmente, o homem mais moderno já começa a compartilhar mais suas dificuldades. Não que seja fácil ou que esse comportamento já se tenha consolidado, mas existe uma tendência para a abertura", escreve o autor, citando dados de uma pesquisa do Datafolha.

Divulgação
Livro faz referência ao "Kama Sutra", manual indiano
Livro faz referência ao antigo manual indiano "Kama Sutra"

A disfunção erétil (ou impotência sexual, como se diz popularmente) é um desses temas que os homens evitam abordar com suas parceiras. Em "Sem Drama na Kama", o médico recorre às referências do manual indiano de posições sexuais "Kama Sutra" para martelar na ideia de valorização do prazer, motivo de alegria e saúde.

Em uma linguagem acessível, simples, Costa detalha, em 12 capítulos, tudo que o homem moderno deveria saber para ter uma vida sexualmente feliz, inclusive aqueles que enfrentam problemas como a perda repentina do desejo, a depressão, o estresse, entre outros inimigos do prazer. O médico fala ainda dos remédios de última geração disponíveis para o combate da disfunção erétil e tira dúvidas sobre namoros e romances.

Leia abaixo um trecho de "Sem Drama na Kama".

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Um dos fantasmas comuns no imaginário é o do tamanho do pênis, um mito que o menino enfrenta cada vez que tem de ir ao banheiro da escola ou do clube. Não há como escapar disso, porque sua genitália é externa. Essa questão o acompanha, sempre, não raro gerando conflitos internos. Não por acaso, 6% das 28 mil ligações recebidas ao longo de 34 meses pelo 0800 do Projeto Amar Bem são de homens (um total de quase 2 mil) se queixando de ter pênis pequeno.

Esse é um detalhe irrelevante para o ato sexual, pois a vagina tem apenas 12 ou 13 centímetros de profundidade. Então, um indivíduo com um pênis em ereção (a média é entre 13 e 17 centímetros) tem todas as condições para chegar ao fundo, embora isso em nada influa na qualidade do orgasmo que ela possa ter, porque os centros de explosão e iniciação desse prazer são o clitóris e o chamado Ponto G, que embora alvo de muita especulação leiga jamais foi localizado pela ciência. Pode-se, porém, dizer que existe. Não em um recôndido misterioso da vagina, mas no cérebro. Assim, carece de todo o fundamento a idealização do superpênis -pode ser até um fator contrário, porque é capaz de provocar dor no colo do útero.

Por outro lado, o mito do pênis pequeno muitas vezes pode fazer com que o homem use essa queixa para encobrir dificuldades pessoais, inseguranças, medos. É uma defesa para não ter de enfrentar seus problemas mais verdadeiros. Para atenuar a ansiedade desses homens, é bom lembrar que a maioria das mulheres não relaciona o prazer e, eventualmente, orgasmos múltiplos ao tamanho do pênis, mas sim aos afetos e à habilidade do parceiro.

Outro exemplo do temor bastante disseminado e que pode reaparecer com a disfunção erétil: muitas vezes o homem carrega ao longo dos anos culpas por brincadeiras na infância, com outros garotos. Elas são extremamente úteis e saudáveis, à medida que a criança teste suas hipóteses de gênero, conhecendo a si e aos outros. É pura e fundamental curiosidade. Mas costuma gerar, depois, o receio da homossexualidade oculta. No momento em que começa a falhar, ele pode pensar: se não funciono bem com mulher, talvez seja porque inconscientemente deseje um homem.

A homofobia, o temor de ser homossexual, costuma ser impingido muito cedo pelos pais: o garoto tem de ser bom de briga, corajoso, disposto a ser dono do mundo. E, mais tarde, um grande conquistador de mulheres - quanto mais, melhor. Por isso, desenvolverá muito pouco a capacidade de dar e receber amor. Quem está focado somente em conquistar ou se autoafirmar, no momento em que consegue se dá por satisfeito. Assim, o plano afetivo se limita às sensações do obter, não do manter.

Isso se aplica até mesmo ao impulso de ter uma família. Sim, ele escolhe a esposa e tem filhos com ela. Mas e o amor e suas sublimes manifestações? Ah, o amor...que será mesmo? Se for a expressão de sentimentos, como alguém que é forçado a esconder os seus sentimentos pode saber do que se trata?

De acordo com padrões conservadores, ainda em pleno vigor, um homem não tem direito a emocionar-se. Mas macho que é macho tem problemas e dores, sim. Claro que em seu íntimo, ele se emociona, mas é condicionado a esconder e de tanto fazê-lo acaba perdendo a sensibilidade, que permanece oculta, sempre tentando manifestar-se por mais adversas que sejam as condições para isso. Por circunstâncias dessa natureza, a maturidade pode ser o momento de uma grande virada, em direção a insuspeitados prazeres, caso haja a predisposição de rever atitudes, reaprender a sentir e, sobretudo, aprender novidades. A cama certamente deixará de ser um vestibular para se transformar em uma usina de prazeres, um parque de diversões ou uma infinita área de lazer.

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"Sem Drama na Kama"
Autor: Moacir Costa
Editora: Prestígio Editorial
Páginas: 110
Quanto: R$ 31,90
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
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