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25/01/2010 - 11h33

SP 456 ANOS: Ruas, marginais e monumentos compõem outra cidade; leia trechos

da Folha Online

Divulgação
Cada ilustração é uma pequena obra de arte que apresenta a metrópole de forma diferente
Cada ilustração é uma pequena obra de arte que apresenta a metrópole de forma diferente

Quem caminha apressadamente pelo Viaduto do Chá, enfrenta trânsito matinal na av. Nove de Julho, embarca atrasado no aeroporto de Congonhas ou faz compras na Galeria do Rock não se dá conta de que esses espaços guardam micro-histórias próprias.

Pelo olhar europeu do jornalista e artista plástico italiano Vincenzo Scarpellini, em "San Paolo: Desenhos e Prosas da Cidade", descobrimos outra cidade que vai além de seus aspectos físicos. O sensorial impera na leitura.

Nos trechos abaixo, o autor percorre ruas, avenidas e instâncias públicas nas quais o olhar sentimental toma a cena e dilui qualquer outro tipo de resistência urbana, como o trânsito, a poluição e a violência.

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RUA QUINTINO BOCAIÚVA

Batalha de cores: as placas comerciais fragmentam a arquitetura em uma sucessão de elementos desiguais e a reduzem ao espaço bidimensional de letras e imagens. Mas, com seus estilos diferentes e suas faces cegas, os edifícios não fizeram o mesmo com o território? Certas construções não cortaram o visual, assim como as placas cortam suas fachadas?

RUA NOVA BARÃO VISTA DA RUA 7 DE ABRIL

Que espaço é o centro? Não um só, mas vários. Tantos quanto as possíveis definições e os pontos de vista de todos os que andam pelas ruas. Porém certos espaços, mais do que outros, são "lugares". Permeáveis. Precários e caóticos, mas reconhecíveis. Pontos de encontro e convivência. E quem os atravessa, durante o dia, toma um banho de pessoas.

GRANITO E PSIQUE

Monumentos erram pela cidade. As 36 toneladas de granito e bronze, homenagem a Ramos de Azevedo, esculpidas em 1934 por Galileu Emendabili, foram removidas em 1973. Da Avenida Tiradentes passaram para o Parque da USP. Se fosse possível atribuir um inconsciente ao comportamento da cidade, as vicissitudes de seus monumentos seriam uma manifestação interessante.

NO PONTO

A espera da condução confere aos usuários uma imobilidade melancólica: por cansaço ou resignação, eles assumem aquela expressão imperturbável que reflete apenas as leis imutáveis do Universo e ignora deliberadamente os fenômenos cambiantes da cidade. Seus olhos fixam alguma coisa que não vemos, e o tédio, nesse instante, parece quase um antídoto à trivialidade.

O TRADICIONAL LARGO DA MEMÓRIA

Graças à decadência, o centro é ponto de encontro entre a permanência do núcleo histórico da cidade e a variabilidade do mercado imobiliário. Ao mesmo tempo que corrói o centro, a decadência o protege, pois subtrai a região da lógica do espaço em contínua transformação, na qual os paulistanos vivem, entre a excitante incerteza e a extenuante neurose do imprevisível.

MARGINAL PINHEIROS

Entre as amarguras modernas está o alongamento das distâncias curtas. Os oceanos se atravessam em poucas horas, mas os caminhos intermediários são calvários cotidianos. Num mapa que traduzisse em distâncias o tempo necessário para ir de um lugar a outro, os oceanos seriam rios. E o Rio de Janeiro seria mais próximo da Praça da Sé que a Castelo Branco.

 
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