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14/02/2010 - 16h59

De samba em samba, literatura preenche enredos carnavalescos

da Folha Online

"Dom Quixote", João do Rio e Johannes Gutemberg. As escolas cariocas União da Ilha, Império Serrano e Acadêmicos do Salgueiro, respectivamente, terão em seus sambas-enredo temas literários este ano.

O ingênuo fidalgo espanhol Alonso Quijano que, já em idade avançada, se entrega à leitura dos feitos heróicos de cavaleiros medievais vai ilustrar o samba-enredo "Dom Quixote de La Mancha, o Cavaleiro dos Sonhos Impossíveis" da escola da Ilha do Governador, primeira a desfilar neste domingo (14).

Apaixonado e encantado, o personagem de Miguel de Cervantes cria uma interpretação para o mundo e transmite uma crença a ponto de torná-la coletiva e interferir nos subuniversos daqueles que o cercam.

O público verá como Cervantes aponta o fracasso versus a fé no outro. Dom Quixote acredita na vontade individual, na ilusão do mundo e em sua própria ilusão. Encontra o real, que é o limite. Artistas que fizeram referências ao herói também estarão presentes na apresentação da escola, como Carlos Drummond de Andrade, Raul Seixas e Cândido Portinari.

Quinta escola a desfilar hoje (14) no Rio de Janeiro, a Acadêmicos do Salgueiro contará as "Histórias sem Fim" da literatura nacional e internacional. A escola parte da Alemanha do século 15, quando Johannes Gutemberg pressionou o último bloco de chumbo sobre o papel e colocou o ponto final em sua obra-prima, a Bíblia impressa.

Papiros, pergaminhos e manuscritos copiados por monges medievais ficaram para trás diante do livro impresso. O Salgueiro entra no universo das histórias sem fim, de personagens que compõem os Dez Mandamentos, "Ilíada e Odisseia", "Os Miseráveis", "Memórias Póstumas de Brás Cubas", "O Guarani", "20.000 Léguas Submarinas", "Harry Potter", "A Guerra dos Mundos", "Eu, Robô", "O Livro dos Espíritos" e "O Diário de um Mago".

Veja galeria de fotos com fantasias do Acadêmicos do Salgueiro

Já a escola Império Serrano, do grupo de acesso, escolheu o tema "João das Ruas do Rio". Com o crescente ritmo frenético das ruas, a flânerie tornou-se um exercício da percepção de novos espetáculos. No Brasil, João do Rio foi quem mais personificou a figura do flâneur, no início do século passado.

A obra "A Alma Encantadora das Ruas", do início do século 20, época em que o Rio de Janeiro vivia uma experiência urbana inédita, pautou os passistas da Império Serrano no último sábado (13). Nas ruas do Rio de João, o público explorou o espaço por onde se anda e se passeia.

O tempo passou, surgiram novas ruas cheias de arranha-céus, novos bairros, novos transportes, mas não conseguimos tirar a rua de dentro de nós. A referência é por conta da prática da flânerie.

 
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