Livraria da Folha

 
23/02/2010 - 22h02

História de escritor transformado em menino satiriza culto à maturidade

da Livraria da Folha

Esta obra do escritor polonês Witold Gombrowicz é uma verdadeira ode à imaturidade. Com um humor surreal, "Ferdydurke" conta a história de um escritor de 30 anos chamado Józio que se vê magicamente transformado em um adolescente e precisa reaprender a lidar com a imaturidade tanto dele quanto do mundo.

Divulgação
Obra usa humor de situação surreal para ironizar a sociedade europeia
Obra usa humor de situação surreal para ironizar a sociedade europeia

O próprio nome do livro é uma chacota, uma vez que "Ferdydurke" não significa nada em idioma algum, não é o nome de nenhum personagem e sequer aparece em qualquer lugar do texto de Gombrowicz. Ou, como Susan Sontag diz em seu prefácio, "é apenas um aperitivo da insolência que virá depois".

Neste prefácio, a crítica e escritora aponta similaridades entre "Ferdydurke" e "Alice no País das Maravilhas" devido ao encolhimento tanto físico quanto mental do protagonista, mas há também semelhanças com obras de autores como Kafka. A metamorfose pela qual Józio passa tem pontos análogos à kafkiana e os constantes entraves para realizar as mais simples das atividades -como sair de um quarto ou de uma conversa-lembram a atmosfera de sufocamento burocrático de "O Processo".

O livro apresenta três arcos narrativos principais, além de dois interlúdios escritos posteriormente e integrados ao texto chamados "Filidor forrado de criança" e "Filiberto forrado de criança". Ambos os contos são prefaciados e apresentam pouca ou nenhuma relação um com o outro, ou com a história principal. Parte da insolência mencionada por Sontag.

Após sua mutação em adolescente, o protagonista retorna à escola, cenário no qual o autor ironiza as divisões entre infantilidade e maturidade, retratando professores como mentalmente tão imaturos quanto os alunos, apenas capazes de citar um maior número de referências literárias.

Depois, Józio segue para uma casa da burguesia urbana, onde encontra uma família obcecada com a modernidade -em especial com a aparência dela- e ele precisa se desvencilhar de uma tal "colegial moderna" que o aprisiona com seus encantos. Por último, o autor ironiza a decadente aristocracia do campo, em particular a ambígua relação de poder e interdependência entre criados e senhores.

Publicado originalmente em 1937, "Ferdydurke" tem um humor muito característico, com a repetição constante de palavras infantis --como a obsessão com "bumbum"-- além de neologismos ou modificação do sentido original de algumas palavras e um humor negro e sarcástico que desconstrói a burguesia europeia do pós-guerra.

 
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