Livraria da Folha

 
27/02/2010 - 11h51

Celso Unzelte indica 10 livros essenciais para compreender o futebol

JULIANA FARANO
colaboração para a Livraria da Folha

O futebol entrou na vida de Celso Unzelte em 1977, mais precisamente no dia 13 de outubro. "Quando eu vi aquela Copa do Mundo em preto e branco, minha vida mudou", conta o jornalista e pesquisador. Copa do Mundo em preto e branco? Sim, era o Corinthians saindo do jejum de quase 23 anos sem títulos. Depois que o chute de Basílio balançou a rede do Morumbi, os torcedores alvinegros saíram nas ruas, soltaram o grito de campeão entalado na garganta e fizeram a festa na cidade. Foi o suficiente para o garoto de apenas 9 anos ser mordido pelo bichinho das quatro linhas.

Adriana Vichi/Divulgação
Celso Unzelte relaciona 10 livros essenciais sobre futebol
Celso Unzelte relaciona 10 livros essenciais sobre futebol

Hoje, Unzelte é considerado um dos principais especialistas em história do futebol. Ele é um daqueles que cita um lance de um jogo da segunda divisão da década 1960 como se tivesse acontecido há dois dias, tamanha a precisão e o conhecimento que tem dos fatos.

Além de participar dos programas "Loucos por Futebol" e "Pontapé Inicial", da ESPN, o jornalista dá aulas na Cásper Líbero, em São Paulo, e é autor de vários livros, entre eles "Timão 100 Anos", "Os Dez Mais do Corinthians", "Jornalismo Esportivo: Relatos de uma Paixão", "Flamengo Rei do Rio", "O Grande Jogo" e "Grandes Clubes Brasileiros".

A pedido da Livraria da Folha, o historiador e jornalista corintiano selecionou dez livros que não podem faltar em nenhuma biblioteca sobre futebol. Veja abaixo.

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Autor conta histórias de dentro e de fora dos gramados
Autor corintiano conta histórias de dentro e de fora dos gramados

"Futebol ao Sol e à Sombra" - Para captar este fascinante universo de perdas e conquistas do esporte, Eduardo Galeano penetrou nas profundezas da história que se passam dentro e fora das quatro linhas. "O escritor uruguaio fala da vida, das reações políticas entre os homens e países e, também, do futebol", descreve Unzelte.

Dentro de sua prosa consagrada, o autor mostra craques como Pelé, Di Stéfano, Maradona, Zizinho, Didi, Garrincha, Obdúlio Varella (o carrasco uruguaio de 1950), o aranha negra Yachin, Leônidas, Platini, Domingos da Guia e Friedenreich nos seus momentos de esplendor e desgraça.

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"Fome de Bola" - Cinema e futebol trilharam caminhos muito semelhantes no Brasil. Ambos aportaram por aqui no final do século 19 pelas mãos de estrangeiros e caíram no gosto popular, com adeptos ferrenhos e apaixonados. Desde cedo, formaram intensa parceria: inúmeros filmes retrataram o universo por vezes mítico do futebol, trazido ao Brasil em 1894 por Charles Miller, e diversos craques da bola emprestaram sua fama a produções fictícias e documentais revelando uma parte essencial da alma brasileira.

"Como o próprio nome diz, trata-se de um belíssimo resgate dos filmes envolvendo a maior paixão nacional", explica o jornalista. De fato, foi o bate-bola histórico entre a sétima arte e os gramados que inspirou o crítico cinematográfico Luiz Zanin Oricchio a colocar no papel suas pesquisas sobre o assunto.

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Autor mergulha na relação entre o futebol brasileiro e a música
Autor mergulha na relação entre o futebol brasileiro e a música

"Futebol no País da Música" - "Neste livro, o autor faz com a música o que Zanin faz no livro anterior com o cinema, e o assunto, é claro, continua sendo o futebol", diz Unzelte. A obra desvenda as muitas e saborosas relações entre o esporte mais amado do Brasil e a sua música vibrante.

Beto Xavier reuniu entrevistas com jogadores e músicos, trechos de canções e uma extensa pesquisa. Com a leveza de um atacante driblador e a seriedade de um zagueiro xerifão, o autor identifica na cultura popular brasileira seus verdadeiros traços de permanência e valor. Nessa jornada, o leitor descobre que a música antecede em tudo o futebol, mas este, ao longo dos anos, torna-se uma obra coletiva de encanto, arte e inigualável entretenimento.

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"O Negro no Futebol Brasileiro" - Mario Filho, o irmão de Nelson Rodrigues que dá nome ao Maracanã, faz neste livro um retrato primoroso da relação dos negros com o futebol brasileiro. "É um clássico do gênero", garante o corintiano.

Esta edição traz, além de um caderno especial --inserido em papel diferenciado e sem numeração em que o jornalista Mario Neto conta a trajetória de seu avô, o autor do livro-- fotos de alguns dos primeiros craques negros e mulatos do futebol nacional, com perfis assinados pelo historiados Gilberto Agostino. A imagem de capa é do artista plástico Rebolo, que também atuou nos gramados e que, como pintor já conhecido, traçou de forma pioneira na arte uma cena de jogadores de futebol.

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Livro reúne crônicas esportivas assinadas por Nelson Rodrigues
Livro reúne crônicas esportivas assinadas por Nelson Rodrigues

"O Berro Impresso das Manchetes" - O homem que imortalizou o Fla X Flu escreveu também sobre outros esportes, entre eles remo, boxe e alpinismo. Nelson Rodrigues cuidou das modalidades mais diferentes e conseguiu, de igual maneira, retratar o quadro épico nas glórias e derrotas de cada uma. "Esta é uma excelente oportunidade para conhecer as crônicas esportivas assinadas pelo dramaturgo na revista Manchete Esportiva de 1955 a 1959, que acabaram moldando esse próprio gênero", comenta o jornalista.

Mais do que a aridez dos resultados, o que interessava ao cronista eram a atmosfera, os incidentes e os episódios que envolviam os atletas dentro e fora do palco de competição. Estes e tantos outros elogios que podem ser atribuídos a sua obra fazem deste livro um gol de placa da crônica esportiva nacional.

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"A Dança dos Deuses" - No Brasil, o futebol é bastante jogado, mas insuficientemente estudado. Esta constatação estimulou Hilário Franco Júnior a empreender uma abrangente viagem em torno do tema. Segundo Unzelte, o livro é uma "análise da relação entre futebol, sociedade e cultura feita por um dos maiores medievalistas do Brasil". A obra está dividida em duas partes, uma histórica e outra de viés analítico. Do ponto de vista histórico, o autor mostra como o futebol não pode ser dissociado da história geral das civilizações. Exemplo eloquente encontra-se na lógica da sua propagação e rejeição, a partir da Inglaterra, tendo sido bem aceito nos países que sofriam forte influência cultural inglesa, mas nunca devidamente incorporado em países que constituíram o império, como Austrália e Canadá. A própria evolução das regras e das táticas do esporte respondeu, é fato, a necessidades específicas do jogo, mas também só pode ser entendida em contextos de adaptação do futebol às mudanças no mundo.

Na segunda parte, o autor procura investigar o esporte como metáfora sociológica, antropológica, religiosa, psicológica e linguística. Os leitores são levados a pensar, por exemplo, sobre os diferentes usos políticos da modalidade, seja por regimes autoritários ou democráticos, tanto uns quanto outros sempre abraçados ao nacionalismo. A obra ainda convida a refletir sobre os sentidos ocultos em toda a ritualização do mundo esportivo, nos nomes dos times, nas cores das camisas, nos escudos, e ainda recorre a Freud para examinar a fascinação que o esporte exerce.

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Escritor narra a trajetória de um dos maiores ídolos do futebol
Escritor narra a trajetória de um dos maiores ídolos do futebol

"Estrela Solitária" - Respeitado no mundo todo, o futebol brasileiro deve muito deste prestígio a Manoel dos Santos, conhecido popularmente como Mané Garrincha (1933-1983).

Graças a ele, a seleção brasileira conquistou a Copa do Mundo de 1958 e, principalmente, a de 1962, na qual Pelé se contundiu. Com esta biografia, considerada pelo jornalista como a "melhor já escrita quando o assunto é futebol", Ruy Castro vai desde a infância pobre do craque das pernas tortas até seus últimos momentos. O autor fez cerca de 500 entrevistas com 170 pessoas que conviveram com o mito, nascendo um relato de alegrias e tragédias, glórias e dramas. Entre amores e conquistas, o livro fica como um documento definitivo do jogador que era conhecido como a alegria do povo.

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"Veneno Remédio" - Neste livro, o futebol não é mero "reflexo" da sociedade, e tampouco se desenvolve à margem dela. Lançando mão de um sofisticado instrumental crítico que bebe na filosofia, na sociologia, na psicanálise e na crítica estética, José Miguel Wisnik desce às minúcias do jogo da bola e de sua evolução ao longo das décadas. "O autor tenta explicar a relação entre o futebol e o próprio Brasil enquanto país. E consegue, com muita maestria", relata Unzelte.

Nas páginas deste ensaio, craques como Domingos da Guia, Pelé, Garrincha e Romário põem à prova, com sua linguagem não-verbal, ideias sobre o país, elaboradas por escritores como Machado de Assis, Mário e Oswald de Andrade, sociólogos como Gilberto Freyre, e historiadores como Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior.

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Confira a evolução das camisas dos principais clubes brasileiros
Confira a evolução das camisas dos principais clubes brasileiros

"A História das Camisas dos 12 Maiores Times do Brasil" - O futebol desperta os mais diversos sentimentos no torcedor: paixão pelo time, pelos jogadores, pelo escudo, pelo estádio, pela mascote, pelo hino. E paixão pelas camisas.

Este livro é o resultado de uma pesquisa inédita, traz mais de 1.900 camisas dos 12 maiores times do Brasil --Atlético-MG, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco-- e entra para o rol de documentos históricos do futebol brasileiro. "Trata-se de um excepcional trabalho de pesquisa que mostra em detalhes, por meio de ilustrações, as mudanças pelas quais passaram os principais clubes brasileiros", explica Unzelte.

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"Como Eles Roubaram o Jogo" - A transformação do esporte em fábrica de lucros inimagináveis está intimamente ligada à administração de João Havelange. Foi após sua ascensão à presidência da entidade, em 1974, que o futebol realmente chegou a todos os cantos do planeta. No entanto, após anos de pesquisa, o jornalista inglês David Yallop questiona o sucesso desta gestão.

No livro, o autor afirma que a Fifa é organizada da mesma forma que o futebol brasileiro: não com base em sua eficiência, mas em métodos escusos utilizados para se conseguir uma nomeação a um cargo importante ou a comercialização de marcas e contratos envolvendo seleções. Resumindo, segundo Unzelte, "é uma análise política e histórica dos interesses econômicos nos bastidores do esporte mais popular do mundo".

 
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