Livraria da Folha

 
02/03/2010 - 08h46

Fernanda Abreu traduziu "O Símbolo Perdido" em 5 semanas; leia entrevista

FABIANA SERAGUSA
colaboração para a Livraria da Folha

A tradutora Fernanda Abreu precisou esperar o lançamento oficial de "O Símbolo Perdido" nos Estados Unidos, em 15 de setembro de 2009, para só então começar a passar as quase 500 páginas do livro de Dan Brown para o português. O prazo foi apertado, de apenas cinco semanas, mas a maratona --feita em estilo "mutirão"-- deu certo.

Lisa George/Divulgação
Fernanda Abreu (foto) precisou traduzir "O Símbolo Perdido" em cinco semanas
Fernanda Abreu (foto) traduziu "O Símbolo Perdido" em cinco semanas

"A editora norte-americana não quis liberar o manuscrito para começarmos a tradução com antecedência, e as datas ficaram bem menos flexíveis", conta Fernanda em entrevista à Livraria da Folha. "Como estávamos trabalhando em equipe, não podia atrasar nenhum dia, senão atrasava todo o resto do processo."

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O esquema ocorreu como uma linha de montagem: enquanto ela traduzia, um releitor fazia o "cópi", e a responsável pelo livro na editora conferia o texto. O trabalho foi ainda mais "tenso" por causa da proximidade do Natal. "Foi puxado, mas no final deu tudo certo, nossa equipe funcionou super bem, e ficamos satisfeito com o resultado."

Formada em história e com mestrado em sociologia, Fernanda diz que assumir a profissão de tradutora foi uma consequência natural de sua relação com a literatura e de seu trabalho no mercado editorial. "Mas nunca tive nenhum treinamento formal."

Com cerca de 70 livros no currículo, a tradutora assina outros trabalhos de destaque, como "Comer, Rezar, Amar", "Labirinto" e "Travessia de Verão", entre muitos outros. "No começo, teve de tudo, de ciências humanas e autoajuda. De uns quatro anos para cá, me especializei só em literatura, que é o que mais gosto de fazer."

Abaixo, veja a opinião de Fernanda Abreu sobre "O Símbolo Perdido", de Dan Brown, e por que ela acha que os tradutores ficam sempre meio "invisíveis".

*

Livraria da Folha - O que você achou de "O Símbolo Perdido"?
Fernanda Abreu - Eu gostei. Tem um enredo de thriller envolvente, cenários interessantes e um ritmo ágil. Acho que o livro tem um grande mérito que é o de agradar a um público muito amplo; não é à toa que é um sucesso de vendas. O autor tem uma voz forte e sabe interagir com o leitor, puxar as cordinhas certas, usar o suspense e as surpresas. Foi bem agradável de traduzir.

Divulgação
Livro de Dan Brown tem enredo envolvente e ritmo ágil, de acordo com a tradutora
Livro de Dan Brown tem enredo envolvente, avalia a tradutora

Livraria da Folha - Você acha que o trabalho do tradutor é pouco reconhecido?
Fernanda - De forma geral, sim, um pouco. Digo de modo geral porque pessoalmente estou muito contente com a minha trajetória de tradutora e me sinto reconhecida. Mas nós trabalhamos por empreitada, e, em geral, não recebemos nenhum tipo de remuneração relacionada a direitos autorais, apesar de o trabalho ter um componente autoral evidente, mesmo que limitado, e de isso ser praticado em outros países. Raramente somos mencionados na imprensa (a não ser quando erramos, aí ninguém perdoa!), e os leitores poucas vezes se interessam em saber quem traduziu o livro que estão lendo. Em suma, ficamos meio invisíveis. Do ponto de vista do texto é bom que seja assim, pois a leitura flui melhor e o estilo do autor fica preservado, mas profissionalmente pode ser frustrante.

Livraria da Folha - Mas, na sua opinião, este cenário vem mudando?
Fernanda - A verdade é que uma tradução malfeita pode arruinar um livro bom, da mesma forma que uma tradução de qualidade pode melhorar muitíssimo um livro medíocre. Mas estou sentindo uma mudança: hoje em dia as pessoas me abordam para dizer que gostaram desse ou daquele trabalho; dez anos atrás isso não acontecia. Acho que isso se deve ao trabalho de vários tradutores competentes em atividade hoje no Brasil, e também a uma maior visibilidade do processo editorial que dá origem ao livro, já que hoje em dia os textos originais estão muito mais facilmente disponíveis graças à internet, e muita gente lê no original, principalmente em inglês. Então fica mais claro que a tradução é um trabalho real, importante e a ser valorizado.

 
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