Livraria da Folha

 
04/03/2010 - 10h07

Leia trecho do thriller perturbador que vendeu 180 mil exemplares na Itália

da Livraria da Folha

Em seu romance de estreia, o escritor italiano Donato Carrisi surpreendeu e arrebatou a crítica e o público ao embrenhar-se por um gênero até então fortemente atribuído aos grandes escritores americanos. Presente nas listas de best sellers dos principais jornais da Itália logo em seu lançamento, com mais de 180 mil exemplares vendidos e publicado em nove países, "O Aliciador" é mais que um thriller de um autor estreante que reinventa as regras do jogo: é uma história que não dá trégua, que explora a zona nebulosa entre o bem e o mal até descobrir seu último segredo, seu menor sussurro.

Divulgação
Autor criminalista baseou acontecimento em fatos reais
Autor criminalista baseou acontecimento em fatos reais

O criminologista Goran Gavila e a equipe de homicídios enfrentam um caso perturbador, que exige toda a habilidade dos policiais do Esquadrão Especial: seis braços direitos são desenterrados em um bosque, cinco meninas entre 9 e 13 anos estão desaparecidas. Liderada por Gavila e pelo Capitão Roche, a equipe segue as pistas do caso e, um a um, os corpos das garotinhas emergem, deixando evidente que o culpado é um serial killer cuja frieza e ferocidade não têm limites.

As esperanças de que uma sexta menina esteja viva provocam uma corrida contra o tempo, mas as pistas, em vez de levarem a equipe ao culpado, revelam-se parte de um plano friamente arquitetado pela mente cruel e brilhante do assassino, que parece estar sempre um passo à frente. Em cada cena de crime, novas evidências levam os detetives a acreditar que não se trata de apenas um, mas de vários assassinos, agindo em conjunto. É quando se junta a eles a investigadora Mila Vasquez, especialista em casos de sequestro.

Aos poucos a polícia descobre que seu alvo é capaz de assumir as aparências mais variadas, colocando-os à prova incessantemente. Nesse caso, cada vez que o mal vem à luz, traz consigo um agouro, obrigando os detetives a enfrentar sobretudo a escuridão que carregam dentro de si. A investigação se transforma em um jogo de pesadelos habilmente velados, um desafio contínuo.

Veja abaixo o início de "O Aliciador".

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Capítulo 1

Um lugar perto de W.
5 de fevereiro.

A grande mariposa o transportava, movendo-se de memória pela noite. Vibrava as asas poeirentas, fugindo da vigilância das montanhas, quietas, ombro a ombro como gigantes adormecidos.

Acima deles, um céu de veludo. Abaixo, o bosque. Denso.

O piloto virou-se para o passageiro e indicou um enorme buraco branco no chão diante deles, parecido com a garganta luminosa de um vulcão.

O helicóptero foi naquela direção.

Aterrissaram depois de sete minutos num acostamento da rodovia estatal.

A estrada estava fechada e a área, cercada pela polícia. Um homem de terno azul veio receber o passageiro debaixo das hélices, segurando com dificuldade uma gravata que teimava em voar.

- Seja bem-vindo doutor, estava lhe esperando - disse bem alto, para superar o barulho dos rotores.

Goran Gavila não respondeu.

O agente especial Stern continuou:

- Venha, vou explicando no caminho.

Encaminharam-se para um local acidentado, deixando para trás o rumor do helicóptero que retomava seu rumo, sugado por um céu de chumbo.

A bruma deslizava como um sudário, despindo os per; s das colinas.

Ao redor deles, sentiam-se os perfumes do bosque, misturados e suavizados pela umidade da noite, que subia pelas roupas e roçava gelada sobre a pele.

- Não foi nada simples, posso garantir: tem que ver com seus próprios olhos.

O agente Stern seguia alguns passos à frente de Goran, abrindo caminho com as mãos entre os arbustos e falando sem olhar para ele.

- Tudo começou hoje de manhã, por volta das 11 horas. Dois meninos percorriam as trilhas com seu cachorro. Entraram no bosque, subiram a colina e desembocaram na clareira. O cão é um labrador: sabe como gostam de cavar... Resumindo, o bicho ficou louco assim que farejou alguma coisa. E escavou um buraco. Foi quando apareceu o primeiro.

Goran tentava manter o ritmo enquanto penetravam a vegetação cada vez mais densa ao longo da encosta cada vez mais íngreme. Notou que as calças de Stern tinham um pequeno rasgão na altura do joelho, sinal de que já tinha feito o trajeto várias vezes naquela noite.

- Claro que os meninos fugiram correndo e avisaram a polícia local - prosseguiu o agente.

- Eles chegaram, examinaram o local, recolheram amostras, indícios, ou seja: todo o procedimento de rotina. Depois alguém teve a ideia de continuar escavando para ver se encontravam mais alguma coisa... e surgiu o segundo! Nessa altura dos fatos, resolveram nos chamar. Estamos aqui desde as 15 horas. Ainda não sabemos quanta coisa há lá embaixo. É aqui, chegamos...

Diante deles abria-se uma pequena clareira iluminada pelas luzes fluorescentes - a boca de luz do vulcão. De repente, os perfumes do bosque sumiram e os dois foram envolvidos por um odor inconfundível. Goran levantou a cabeça, deixando-se invadir pelo cheiro. "Ácido fênico", pensou.

E viu.

Um círculo de pequenas fossas. E cerca de trinta homens de macacão branco escavando sob a luz fria e marciana, munidos de pequenas pás e pincéis que removiam a terra delicadamente. Alguns revistavam a relva, outros fotografavam e catalogavam cuidadosamente cada amostra. Moviam-se em câmera lenta. Seus gestos eram precisos, calibrados, hipnóticos, envoltos num silêncio sacramental, violado de vez em quando apenas pelas pequenas explosões dos flashes.

Goran identificou os agentes especiais Sarah Rosa e Klaus Boris. E Roche, o inspetor-chefe, que o reconheceu e dirigiu-se em grandes passadas até ele. Antes que pudesse abrir a boca, o criminologista se antecipou com uma pergunta.

- Quantas?

- Cinco. Cada uma com 50 centímetros de comprimento por 20 de largura e mais 50 de profundidade... Na sua opinião, o que pode estar sepultado nessas covas?

Em todas, uma coisa. A mesma coisa.

O criminologista o encarou, à espera.

A resposta chegou:

- Um braço esquerdo.

Goran desviou os olhos para os homens de macacão branco, empenhados naquele absurdo cemitério a céu aberto. A terra só devolvia restos em decomposição, mas a origem daquele mal era anterior àquele momento suspenso e inconcebível.

- São elas? - perguntou Goran. Mas dessa vez já conhecia a resposta.

- Segundo as análises de DNA são mulheres. Caucasianas, além do mais, entre os 9 e 13 anos...

Meninas.

 
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