Livraria da Folha

 
11/03/2010 - 07h05

Livro tenta explicar por que os norte-americanos são amados e odiados

da Livraria da Folha

Divulgação
Como esse gigantesco vizinho do norte se tornou o que é, rico e poderoso
Como esse vizinho do norte se tornou o que é, rico e poderoso

Alguns pensam que o país é o próprio paraíso na Terra, um exemplo de liberdade e democracia. Outros, afirmam apaixonadamente que a nação é a representação máxima da exploração dos países pobres e da massificação mundial.

De fato, difícil é ter uma opinião equilibrada sobre os Estados Unidos. O mesmo território abarca McDonald's, J.D. Salinger, Elvis, Nasa, Coca-Cola, Michael Moore, Hollywood, jazz, Charles Manson, William James e os mais famosos seriados de TV.

Para buscar uma resposta para esse dilema, o historiador Antonio Pedro Tota escreveu o livro "Os Americanos". O volume rastreia origens, costumes e paradoxos desse povo, do início da colonização até a eleição do primeiro presidente negro, Barack Obama.

Leia, abaixo, um trecho do livro.

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Atraídos pela lâmpada feito mariposas

Por que muitos arriscam a vida para entrar nos Estados Unidos? Poucos anos atrás, os jornais anunciaram a morte de uma mulher brasileira, de Goiânia, que tentou entrar nos Estados Unidos pela fronteira mexicana. Morreu por causa de queimaduras, desidratação e insolação. Tudo para atravessar um deserto, desses que se vê nos filmes de John Ford, e chegar à América. O american dream. Por quê? Só para ter um salário decente? Aqui ela tinha trabalho, família, casa e relativa estabilidade. Subir na vida, diria um sociólogo. Certo, mas isso não explica tudo. A brasileira procurava algo de misterioso que a sociedade americana oferece, como a lâmpada que atrai as mariposas, para usar a metáfora de Lima Barreto. Somos conquistados por aspectos do maravilhoso. Como os habitantes de Pindorama quando viram os portugueses desembarcarem nas praias ensolaradas do litoral sul da atual Bahia. A brincadeira séria de Oswald de Andrade, o "Erro de português" - Quando o português chegou /Debaixo de uma bruta chuva/ Vestiu o índio/Que pena!/Fosse uma manhã de sol/O índio tinha despido/O português - é simpática, mas nem de longe explica a atração pelo diferente.

Na música, o setor da cultura brasileira que mais "ofereceu resistência" à americanização, o samba imperava, mas muitas vezes cedíamos a um foxtrot na gafieira. Nem mesmo Noel Rosa resistiu. Em 1933, fez o " Você só... mente", um foxtrot cantado por Chico Alves. O professor Richard Morse, de saudosa memória, dizia que a americanização foi possível por que podemos acompanhá-la com as clássicas batidinhas dos pés quando ouvimos qualquer canção produzida nos Estados Unidos, em especial o foxtrote, agora grafado em português. Ou é fácil se americanizar... "because you can tap your foot to it"... (porque você pode acompanhar com batidinhas do pé).

Era uma americanização mais elaborada. Hoje está mais para americanalhação, com dizia o finado Paulo Francis.

As lojas anunciam a liquidação com 30% off ou produtos em sale. No restaurante, um diploma atestando a qualidade da comida: Top of mind, era o nome da honraria concedida por uma associação que toma conta da qualidade. Rio Grande do Sul, cellula mater do nacionalismo getulista; quando se aproxima da cidade de Santa Maria, no centro do Estado, uma placa indica o downtown, antigamente conhecido como centro.

Nada resiste à americanização.

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"Os Americanos"
Autor: Antonio Pedro Tota
Editora: Contexto
Páginas: 304
Quanto: R$ 47,00
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
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