Livraria da Folha

 
24/03/2010 - 08h04

Leia o primeiro capítulo de "Nick of Time", aventura com menino que viaja no tempo

da Livraria da Folha

Divulgação
Menino volta no tempo para salvar ancestral em nova série juvenil
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"Nick of Time: Uma Aventura pelo Tempo" traz para os livros juvenis de hoje em dia o sabor de épicos de aventura como "A Ilha do Tesouro", misturando ainda com viagens no tempo.

O livro traz um protagonista chamado Nicholas McIver, 12 anos, que tem de enfrentar inimigos cruéis em dois séculos diferentes, em terra e no mar, para ajudar a derrotar aqueles determinados a destruir seu lar e sua família.

A história começa na Inglaterra em 1939, com a Europa à beira da guerra. Nick e sua irmã mais nova, Kate, vão ajudar seu pai que está em uma batalha desesperada de espionagem contra os submarinos alemães que circulam pelo Oceano Atlântico.

Um dia, Nick descobre um baú antigo deixado por um ancestral seu, o Capitão Nicholas McIver da Marinha Real. Dentro, ele encontra uma máquina do tempo e um desesperado pedido de ajuda do capitão.

Leia abaixo o primeiro capítulo de "Nick of Time: Uma Aventura pelo Tempo".

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NICK OF TIME: UMA AVENTURA PELO TEMPO

A Boca da Pedra Sepulcral

3 de junho de 1939
Fora da Ilha Grey Beard

- Com força a estibordo, rapazes! - gritou Nick McIver através do vento. - Ou seremos reduzidos a pedacinhos na boca da Pedra Sepulcral! O cachorro Jip latia alto, concordando.

Nick, no leme de sua pequena chalupa, Albatroz, naquela tarde, estava quase no fi m de sua primeira viagem de um dia ao redor da Ilha Greybeard. Ele estava firme no vento, chegando a sete nós conforme mudava o rumo de volta para casa. Naquele momento, aproximava-se dos recifes traiçoeiros que guardam a entrada do Porto do Farol. Jip, na proa, estava uivando no vento forte, aproveitando, exatamente como seu capitão, os borrifos de água que os golpeavam.

Mas agora Nick observava o céu a oeste e os mares que cresciam rápida e apreensivamente. Talvez ele devesse se mover depressa pelo interior da enorme Pedra Sepulcral, o sota-vento. Provavelmente, teria sido melhor do que navegar o longo caminho de volta num clima daquele. Devia ter feito isso, devia ter feito aquilo, ele silenciosamente se amaldiçoava. E de fato sabia mais. Os dois estavam tendo um momento tão esplêndido, pulando as ondas, que ele simplesmente ignorou os avisos de tempestade. Um friozinho em seu estômago crescia. Ele odiava aquela sensação. E nem sequer citava o nome daquilo.

Mas era medo.

A gloriosa e vazia tigela azul que tinha sido o céu matinal agora apresentava montes de nuvens agitadas, todas ficando em um tom cinza-escuro e preto. Ondas gigantes de nuvens roxas surgiam no horizonte ocidental, transformando-se imediatamente nas cores de um feio machucado. Na última hora, nuvens de espuma chegavam impelidas pelo vento em sua proa e passavam pelo cordame do Albatroz. Além do grito dos elementos, estava o assobio cortante do vento no cordame da pequena embarcação. Borrifos de sal ardiam os olhos de Nick, mas ele ainda podia ver o céu no alto, agitado e escuro.

Nick apoiou-se com força na barra do leme do barco, colocando o peso de seu magro corpo contra ela, lutando para manter a proa a barlavento da Pedra Sepulcral. Estava com as duas mãos no leme e elas estavam frias e úmidas. Olhando para cima com espanto, para a pedra gigante que agora assomava à sua frente, ele secou primeiro uma mão, depois a outra, em sua calça encharcada. A Pedra Sepulcral. Um pensamento horrível passou desagradavelmente pela cabeça de Nick. Aquela famosa torre de pedra marcaria hoje outra sepultura na água? A dele e de seu amado Jip? Ele amaldiçoou a si mesmo por sua estupidez e se apoiou na barra do leme com toda força. Desesperado. A proa recusava-se a responder ao timão, a subir com o vento.

No entanto, ele poderia manter sua pequena embarcação em segurança, a barlavento da pedra maciça que surgia cada vez maior diante dele? E na direção do vento havia os Sete Demônios. Em um dia calmo, Nick cortaria caminho pelos recifes. Mas agora, com uma rajada de vento, eles seriam fatais.

Não havia alternativa.

- E você se diz marinheiro, Nick McIver! - gritou em voz alta.

Mas nem o cachorro escutou seu grito amargo de frustração sobre o soprar do vento e da água. Ele devia ter imaginado. Era um preço terrível a pagar pela imprudência no mar. Especialmente quando se está próximo da Pedra Sepulcral.

Era um monumento de granito preto brilhante que se destacava e agora se levantava à sua frente. Enfiada no mar como uma lápide ameaçadora, ela reclamava a vida de capitães e marinheiros mais experientes do que ele e Jip. Como Nick sabia desde a infância, inúmeras embarcações e homens tinham ido para o fundo da Pedra Sepulcral. Ou para as sete pontas afiadas e mortais da pedra, que se espalhavam como tentáculos que saíam da base em todas as direções. Os recifes eram chamados de Os Sete Demônios e nada mais. Ali era o local mais demoníaco de todo o litoral.

A costa perigosa tinha finalmente levado à construção do lar de Nick. Mesmo agora, a grande luz do farol enviava raios amarelos que piscavam no alto pelo céu sombrio. Essa torre reluzente no topo dos penhascos fora da curva do porto tinha um significado especial para Nick McIver. Era um aviso para se manter afastado e um chamado para voltar para casa.

Nick morava no topo daquele farol, era filho do responsável pelo local. E agora parecia que a famosa pedra abaixo dele chamava o garoto, se não pensasse em alguma coisa, e rápido. "Se a pedra sepulcral não te pegar, Os Sete Demônios o farão!" era o que estava entalhado na viga da antiga estalagem. E o já falecido marinheiro britânico que tinha gravado aquilo ali sabia muito bem do que falava. Naquele momento, Nick desejava que ele mesmo tivesse entalhado aquelas palavras de alerta naquele convés que balançava e no qual ele se mantinha de pé.

- Não vamos conseguir, garoto! - gritou Nick, angustiado. - Não consigo mantê-la alta o suficiente!

De fato, ele não podia nem conseguiria controlar a proa de seu pequeno barco a barlavento da cada vez maior Pedra Sepulcral. Para cada centímetro à frente, Albatroz recuava dois, virando para o lado. A adrenalina fluía nas veias de Nick enquanto ele se dava conta do possível e completo desastre que estava prestes a provocar.

Uma oração sussurrada a seu herói já morto escapou-lhe da boca:

Nelson, o forte. Nelson, o corajoso. Nelson, o senhor dos mares.

Nick tinha de tomar uma difícil decisão. A manobra mais brutal que um marinheiro podia fazer naquele vento terrível era um jibe, que significa virar o barco afastando-o do vento, em vez de na direção dele, para que sua força passe diretamente atrás da vela. A grande vela e o forte estrondo chicoteariam do outro lado a cabina com tal violência que poderiam facilmente arrancar o mastro do barco. Mas qual foi a decisão dele? A terrível decisão já tinha sido tomada.

- Jibe OH! - ele gritou para seu companheiro peludo. Recuou violentamente a barra do leme em vez de puxá-la para si. A proa balançou instantaneamente para longe do vento. - Cuidado com a cabeça! - Nick urrou. O estrondo de madeira violento e a vela movendo-se bruscamente rugiam do outro lado da cabina como as fúrias do inferno. - Abaixe-se, garoto! - Nick gritou e mergulhou sob a popa de madeira pesada no último segundo, evitando por um triz uma pancada na cabeça que o teria jogado, inconsciente, ao mar. As linhas, as velas, o cordame, cada tábua de seu barco gritavam a ponto de romperem. O barco tinha sido construído com madeira forte, mas ele podia sentir Albatroz esticando desesperadamente suas soldas. Se uma tábua empenasse agora, pertinho da costa rochosa a sota-vento, eles estariam mortos!

Mas o barco aguentou. Olhando para cima, Nick viu o mastro e o cordame intactos. Ao fazer o jibe, ele ganhou um tempo precioso para pensar. Nick febrilmente observou suas opções, agora diminuídas rapidamente a zero. Tinha de haver uma saída! Nicholas McIver não era um garoto destinado a morrer de maneira tão estúpida, sem parecer um marinheiro. Não se ele pudesse evitar. Ele tinha um medo normal de morrer, tudo bem, mas agora, diante da morte, ele estava com muito mais medo de deixá-los tristes. Sua mãe. Seu pai. Sua irmãzinha, Katie. Seu melhor amigo, Gunner.

Aquilo não seria um destino até pior do que a morte?, ele se perguntava. Um garoto ser engolido pelas ondas sem nem ter a chance de provar àqueles a quem amava que era um garoto corajoso, um garoto destinado a fazer grandes feitos neste mundo? Um garoto que podia ser um herói?

O vento já fresco agora tinha se tornado algo realmente aterrorizador. Albatroz estava deslizando rapidamente pelo mar. O céu de cor verde-amarelada lançava sua luz sobre o mar espumante. Nick ouviu um rugido agourento crescente a bombordo. Assim que ergueu os olhos, uma onda que parecia uma locomotiva desgovernada bateu a barlavento do pequeno barco, fazendo a pequena embarcação balançar, chocando-se instantânea e violentamente contra ela. Nick estava escondido sob uma torrente de água fria do mar. Ele segurou desesperadamente a barra do leme para evitar que fosse levado para o mar. E pensava apenas em Jip, novamente de pé na proa. Com o peso da quilha de chumbo rapidamente endireitou o barco mais uma vez, e Nick, confusamente, esticou-se para a frente, esfregando os olhos que ardiam por causa da água salgada. Seu cachorro ainda estava ali. Impossível saber como a criatura tinha conseguido. Jip estava latindo alto, certamente com raiva da onda que quase tinha acabado com eles.

- Tudo aquilo que aguentamos lá atrás serviu para alguma coisa, hein, Jipper? Aguente firme! - Nick gritou. - Vou pensar em alguma coisa.

Mas o que, sua mente respondia, ele podia fazer? Sabia que a próxima onda que os atingisse no costado do barco seria a última. Ele lutou com a barra do leme, determinado a subir as ondas crescentes com a popa do Albatroz. Era sua única chance.

Bem naquele momento o Albatroz foi erguido acima de uma depressão enorme por outra onda gigante. Por um breve instante, Nick podia ver quase toda a ponta setentrional de sua ilha. E ele soube naquele instante o que devia fazer. Não havia como escapar a barlavento da Pedra Sepulcral. Como o Albatroz nunca avançaria em direção à tempestade, ele não tinha alternativa. Precisava descer a sota-vento da pedra, navegando mortalmente diante do vento, em direção às pontas dos Sete Demônios! Como não havia saída, ele pensou, devia manter-se mais determinado do que nunca.

Da crista da onda, Nick viu um pequeno clarão branco na costa rochosa à frente. Aquilo só podia significar uma enseada de areia, uma das muitas em que ele e Kate brincaram em dias ensolarados.

Se ele pudesse de alguma forma prever as ondas de maneira precisa, de forma que a quilha do Albatroz apenas tocasse de leve as pontas mortais dos Demônios, ele simplesmente teria uma chance de empurrar o barco para a costa arenosa daquela pequena enseada. Sim, ele poderia.

Agora que tinha um plano, estava animado. Não era o melhor dos planos, mas era a única chance que tinha. Se falhasse, por qualquer razão, ele...

- Recolher velas, rapazes! - Nick gritou para sua tripulação imaginária, segurando firme a escota principal úmida e salgada entre os dentes, enquanto soltava a adriça com a mão que estava livre. Com um vento daquele, reduzir a área da vela ao encurtar a principal não diminuiria muito a velocidade do barco, mas talvez fosse suficiente para controlar as ondas sobre os recifes. Estava claro que Nick precisaria de toda a habilidade náutica, e sorte, que poderia reunir para levar capitão e tripulação para terra a salvo.

Jip, como se reconhecesse a seriedade desesperada da situação, veio para a popa para ficar ao lado de seu dono. Nick estava feliz com a companhia dele.

- Mantenham-se firme - gritou Nick, firmando os joelhos contra o assento e enrolando a escota principal no pulso para segurá-la. A força do vento na vela recolhida fez com que Nick sentisse que seu braço havia sido deslocado. -Mantenham-se firmes, rapazes! - vento e água balançavam a chalupa como um barco represado, atingindo-a perigosamente. Ao entrar na sequência de ondas gigantes, Nick sentiu sua chalupa avançar para a frente. - Mantenha-se vivo, Jip, pois estamos prestes a dar um passeio! - gritou. Jip rosnou e sentou-se.

O truque, e era bom, seria manter o Albatroz longe da sequência de ondas gigantes que investiam contra a costa traiçoeira. Esperar a próxima onda foi precisamente certo. "Certo" significava que Albatroz foi erguido no momento exato em que a quilha passava sobre cada um dos pontudos Demônios. Seria uma sorte dar tudo certo; sorte e não um pouco de habilidade.

- Devagar... devagar... e... JÁ! - berrou Nick, mantendo a barra do leme a estibordo para fazer a proa girar. Se ainda havia algum traço de medo em sua voz não dava para perceber naquele vento todo, no borrifo ou na completa animação do momento em que ele conduzia o pequeno barco pela parte íngreme e ampla da onda, em direção à profunda depressão. A hora da verdade finalmente tinha chegado para o Albatroz.

- Precisamos subir agora, garoto - Nick disse, segurando a barra do leme como se fosse a própria vida. A Pedra Sepulcral surgia perigosamente do lado esquerdo conforme Albatroz mergulhava na depressão das ondas. - Nós. Precisamos. Subir! - Nick prendeu a respiração. Ele tinha visto a ponta afiada e terrível do primeiro recife do alto da onda e sabia que a quilha do Albatroz poderia transpô-la se tivesse previsto a descida na depressão de maneira certa. Ele cerrou os dentes, sem saber quão dolorosamente difícil seria. Jip também estava paralisado, diante daquela parede de água à frente deles, entendendo a situação.

A proa do Albatroz repentinamente levantou. Ele estava erguendo-se bastante na ondulação e Nick esperou pelo som violento da quilha batendo na pedra mortal. Naquele momento, ele se conscientizou de que provavelmente seria um dos últimos sons que ouviria.

Mas isso não aconteceu.

Na crista da onda, Nick podia ver que tinha previsto certo. As ondas o levantariam agora por sobre os dois afiados recifes que ainda existiam entre o Albatroz e a segurança da enseada de areia. Jip arrastou-se para a frente mais uma vez até seu posto na proa. Ele latia alto, triunfante, desafiando as forças da natureza a lutar novamente com o poderoso Albatroz e sua intrépida tripulação.

- Oooooo! - Nick gritou de alívio e exultação. - Conseguimos, garoto. Fizemos direitinho, não foi?

Na profunda segurança da enseada, era apenas uma questão de levar o Albatroz em direção à costa até que sua quilha ficasse presa na areia fofa. Feito isso, Nick rapidamente liberou a mão e as adriças da vela e todas as lonas molhadas caíram no convés. Conforme o barco balançava e inclinava de lado a estibordo, Nick e Jip pulavam felizes as amuradas para a terra. Nick fez uma linha da proa do Albatroz até uma grande pedra na costa. Então, ele e Jip correram para a entrada da caverna mais próxima para escapar da fúria da tempestade.

E eles ficaram seguros, empoleirados em uma profunda saliência da caverna, esperando que a tempestade passasse antes de navegar de volta para casa, para o jantar.

Essa caverna, veio à mente de Nick enquanto ele e Jip voltavam para o barco, podia ser um excelente esconderijo. Um lugar para se esconder de piratas sanguinários ou um lugar para esconder algum tesouro que ele e sua tripulação podiam encontrar durante suas futuras navegações.

- Muito bem, garoto! - Nick falou, puxando a adriça para baixo, o que levantou a vela mestra mais uma vez. - Hora de voltar para casa! - agora que a tempestade tinha acalmado, ele estava confiante de que poderia retomar o caminho pelos recifes sem problemas. Afinal, ele sabia de cor onde cada um deles ficava.

Sim, você sempre podia confiar no jovem Nicholas McIver para trazer a tripulação de volta para casa em segurança. Afinal, havia garoto mais confiável em toda a Inglaterra?

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"Nick of Time: Uma Aventura pelo Tempo"
Autor: Ted Bell
Editora: Novo Século
Páginas: 336
Quanto: R$ 39,90
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha.

 
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