Livraria da Folha

 
29/03/2010 - 20h45

Após descobrir um filho gay, há fase de luto, diz autora de "Mãe Sempre Sabe?"

da Livraria da Folha

Divulgação
Professora esclarece dúvidas e ajuda pais na aceitação de filho gay
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"Quando eu soube que meu filho era gay, senti que aquele não era o meu filho. Era como se fosse uma outra pessoa, um estranho que não tinha nada a ver comigo. Foi como se meu filho tivesse morrido e dado lugar a outro. Era um sentimento sofrido de 'Esse não é o meu filho; esse não foi o filho que criei'. Esse período de luto, pelo qual as mães passam, pode durar pouco ou permanecer enquanto nos reinventamos para aceitar aquele 'novo' filho que não sabíamos que tínhamos. E o luto é também pelo que temos de matar em nós. Temos de matar partes nossas para aceitar aquele (a) 'novo (a)' filho (a). Matar conceitos que tínhamos, maneiras de ser que acreditávamos serem as únicas; temos de matar os sonhos que construímos para ele (a)...Reinventar-se é construir uma nova identidade para nós, mais ou menos o que nossos filhos tiveram de fazer para eles."

Com esse trecho, a professora universitária Edith Modesto inicia seu relato sobre a fase de perda enfrentada pelas famílias de gays no livro "Mãe Sempre Sabe? Mitos e Verdades Sobre Pais e Seus Filhos Homossexuais" (editora Record), um clássico da estante GLS.

Casada, com sete filhos e sete netos, Edith é mestra e doutora em semiótica e escritora de ficção juvenil, com 12 livros publicados. Pesquisadora, especializou-se em diversidade sexual, especificamente no relacionamento entre pais e seus filhos homossexuais.

Em "Mãe Sempre Sabe? Mitos e Verdades Sobre Pais e Seus Filhos Homossexuais", ela apresenta as lições aprendidas com o trabalho no GPH (Grupo de Pais de Homossexuais), no atendimento às famílias angustiadas e desesperadas pela descoberta da orientação sexual de seus filhos. A autora também expõe no livro sua experiência pessoal.

"Com 14 anos, meu filho me surpreendeu pedindo para fazer terapia. Eu não lhe perguntei o porquê, sempre seguindo minha conduta de não invadir a privacidade dos meus filhos. Mas tinha certeza de que era algum problema de amor e criei a fantasia de que ele se apaixonara por uma grande amiga que namorava um outro garoto. Homossexualidade não era um assunto em que eu pensava", escreve a educadora na página 20.

Ao ouvir suas preocupações de que seu caçula era um rapaz triste, não tinha namorada, a analista dela disse: "Eu acho que você já percebe que ele é gay."

Edith chorou e decidiu questioná-lo: "Filho, você não gosta de mulher?" No livro, ela relata que ele ficou surpreso por alguns segundos e muito comovido respondeu que não.

"Eu o abracei e combinamos que ele faria terapia porque aquilo devia ser uma fase, algum problema emocional que o estava atrapalhando."

Meses depois, ele perguntou para a professora: "Mãe, e se a terapia não adiantar?" Ela percebeu que ele só estava querendo prepará-la para o "pior". Ela respondeu: "Aí, paciência, né, filho? A gente vê o que fazer."

Edith conta que o processo na busca da aceitação foi como uma "verdadeira operação sem anestesia". Até que ela decidiu fundar um grupo de pais de homossexuais e escrever um livro a partir desses depoimentos.

 
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