Livraria da Folha

 
02/04/2010 - 22h02

Livro analisa a relação histórica dos judeus com o dinheiro

da Livraria da Folha

Divulgação
Livro revive os principais acontecimentos da cultura judaica dos últimos milênios
Livro revive os acontecimentos da cultura judaica dos últimos milênios

Por muito tempo, a relação dos judeus com o dinheiro foi alvo de preconceito --de piadas maldosas aos crimes mais brutais-- e admiração. "Os Judeus, o Dinheiro e o Mundo" conta a história dessa conturbada relação.

O autor do volume, Jacques Attali, judeu de origem algeriana, analisa os motivos históricos que impulsionaram o povo judeu a tomar essa postura não como uma opção, mas uma condição imposta pelas circunstâncias.

A obra está divida em cinco capítulos que levam o mesmo nome dos primeiros livros da Bíblia, o Pentateuco --Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômios--, chamado de Torá pelos judeus. Além disso, o prefácio foi escrito pelo rabino Henry Sobel, reconhecida personalidade da comunidade judaica brasileira.

Entre outras curiosidades do gênero, o livro refaz esse percurso desde a antiguidade, apresentando os principais acontecimentos da história política, religiosa, econômica e cultural judaica dos três últimos milênios, reconstituindo as trajetórias de poder e dinheiro de homens e nações.

Abaixo, leia o trecho que o autor compara as diferenças da relação de cristãos e judeus com o dinheiro.

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Cristãos e Judeus Perante o Dinheiro
Dinheiro fértil, dinheiro infértil

Os primeiros discípulos de Jesus são judeus praticantes. Seguem a liturgia judaica e respeitam a Tora. Tendo reconhecido o Messias em Jesus, esperavam convencer os outros judeus a aderirem a eles na expectativa do retorno do salvador.

Mas, como o retorno do Messias se faz esperar e as conversões se tornam mais raras, as relações ficam tensas. Os cristãos se dizem o "versus Israel", suspeitavam de que os judeus amaldiçoam Jesus em suas preces e os acusam de "deicídio". Alguns até murmuram que todas as desgraças dos judeus têm sua origem no martírio de Jesus e no papel nele exercido pelos saduceus. Em contrapartida, os judeus declaram heréticos os cristãos e os excluem das comunidades e das redes comerciais.

Os dois ramos do judaísmo distanciam-se assim um pouco um do outro. Paulo de Tarso, em desacordo com Pedro, atrai pagãos, antes simpatizantes do judaísmo. As conversões ao cristianismo se aceleram na Ásia Menor, na Grécia, na Síria, no Egito, em Roma, em Cartago. Em cada comunidade, quando há fiéis em bom número, um padre é ordenado. Quando há padres suficientes, estes elegem um bispo que, consagrado pelos bispos vizinhos, se torna responsabilidade pelos padres e pelos fiéis de sua comunidade. A Igreja ainda não tem Livro santo. Após a morte de Pedro, ela tampouco tem chefe. Este será bem mais tarde, o bispo de Roma, no seio do Império dominante.

Paralelamente, crescem as diferenças entre as duas doutrinas econômicas. Numa e noutra, acredita-se nas virtudes da caridade, da justiça e da oferenda. Mas, para os judeus, é desejável ser rico, ao passo que, para os cristãos, é recomendável ser pobre. Para uns, a riqueza é um meio de melhor servir a Deus; para os outros, ela só pode ser nociva à salvação. Para uns, o dinheiro pode ser um instrumento do bem; para os outros, os efeitos são desastrosos. Para uns, todos podem usufruir do dinheiro bem ganho; para os outros, ele não deve ser acumulado em nossas mãos. Para uns, morrer rico é uma benção, desde que o dinheiro tenha sido adquirido com moralidade e que a pessoa tenha cumprido todos os seus deveres em relação aos pobres da comunidade; para os outros, morrer pobre é a condição necessária da salvação. Assim, Mateus relata esta afirmação de Jesus: "E vos digo ainda: é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus" (19, 24). E Lucas, embora conclua a parábola do administrador infiel com a frase ambígua ("E eu vos digo: fazei amigos com o Dinheiro da iniqüidade" [16, 9]), com isso reconhecendo a força do dinheiro, logo acrescenta: "Fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca" (6,35).

De fato, para os judeus, como vimos, extrair juros do dinheiro não é imoral; e, se não deve fazer isso entre judeus, é por solidariedade, e não por proibição moral. O dinheiro, assim como o gado, é uma riqueza fértil, e o tempo é como um espaço a ser valorizado. Para os cristãos, ao contrário, assim como para Aristóteles e os gregos, o dinheiro - tanto quanto o tempo - não produz riqueza por si mesmo, é estéril; por isso, fazer comércio de dinheiro é pecado mortal. Essa obsessão da esterilidade do dinheiro também remete ao ódio à sensualidade, proibida fora do casamento. Para a nova Igreja, nada deve ser fértil fora daquilo que é criado por Deus. Fazer dinheiro trabalhar corresponde a fornicar.

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"Os Judeus, o Dinheiro e o Mundo"
Autor: Jacques Attali
Editora: Saraiva
Páginas: 646
Quanto: R$ 69,90
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

 
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