Livraria da Folha

 
02/04/2010 - 16h25

Leia trecho do clássico de Lewis Carroll, "Alice no País das Maravilhas"

da Livraria da Folha

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Tim Burton cria sua versão sombria de "Alice", em mais uma parceria com o ator Johnny Depp
Tim Burton cria sua versão sombria de "Alice", em mais uma parceria com o ator Johnny Depp

Na data em que se comemoram o Dia Internacional do Livro Infantil e o 205º aniversário do nascimento do escritor Hans Christian Andersen, nada melhor do que conhecer um pouco mais de um dos grandes clássicos da literatura infantojuvenil. "Alice no País das Maravilhas" seduz, há quase 45 anos, gerações de crianças, jovens e adultos.

Com a adaptação para o cinema, realizada pelo diretor Tim Burton, prestes a estrear no Brasil --o que deve acontecer neste dia 21--, o interesse na fantástica história de Lewis Carroll aumenta.

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Nos últimos meses, inúmeras versões da obra foram publicadas. Uma das mais comentadas foi a edição da Cosac Naify, ilustrada com um primoroso trabalho fotográfico de Luiz Zerbini e tradução de Nicolau Sevcenko. A versão da editora Universo dos Livros também traz belos desenhos de Luciana Ruivo, em um estilo que se aproxima um pouco mais da versão cinematográfica.

Mas quem quiser acompanhar de perto os detalhes da superprodução hollywoodiana pode conferir o guia visual do filme, que traz diversas fotos e informações sobre os cenários e os personagens, como o Chapeleiro Maluco, interpretado por Johnny Depp, ou a própria protagonista, cujo papel ficou com Alice Kingsley.

Já a mais recente versão do livro original, editada pela Zahar, mostra que ainda há bastante espaço para a temática, tendo chegado até o quarto lugar da lista de livros mais vendidos da Folha. O volume, além do clássico enredo de "Alice no País das Maravilhas", apresenta a sua continuação, "Através do Espelho e o que Alice Encontrou por Lá".

Se você ficou interessado e quer conhecer um pouco mais sobre as aventuras desta menina, leia a seguir um trecho do primeiro capítulo de "Alice" :

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Capítulo 1

Pela toca do Coelho

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Charmosa edição de bolso de "Alice" vem com capa dura e dois clássicos de Carroll
Charmosa edição de bolso de "Alice" vem com capa dura e dois clássicos de Carroll

Alice estava começando a ficar muito cansada de estar sentada ao lado da irmã na ribanceira, e de não ter nada que fazer; espiara uma ou duas vezes o livro que estava lendo, mas não tinha figuras nem diálogos, "e de que serve um livro", pensou Alice, "sem figuras nem diálogos?".

Assim, refletia com seus botões (tanto quanto podia, porque o calor a fazia se sentir sonolenta e burra) se o prazer de fazer uma guirlanda de margaridas valeria o esforço de se levantar e colher as flores, quando de repente um Coelho Branco de olhos cor-de-rosa passou correndo por ela.

Não havia nada de tão extraordinário nisso; nem Alice achou assim tão esquisito ouvir o Coelho dizer consigo mesmo: "Ai, ai! Ai, ai! Vou chegar atrasado demais!" (quando pensou sobre isso mais tarde, ocorreu-lhe que deveria ter ficado espantada, mas na hora tudo pareceu muito natural); mas quando viu o Coelho tirar um relógio do bolso do colete e olhar as horas, e depois sair em disparada, Alice se levantou num pulo, porque constatou subitamente que nunca tinha visto antes um coelho com bolso de colete, nem com relógio para tirar de lá, e, ardendo de curiosidade, correu pela campina atrás dele, ainda a tempo de vê-lo se meter a toda a pressa numa grande toca de coelho debaixo da cerca.

No instante seguinte, lá estava Alice se enfiando na toca atrás dele, sem nem pensar de que jeito conseguiria sair depois.

Por um trecho, a toca de coelho seguia na horizontal, como um túnel, depois se afundava de repente, tão de repente que Alice não teve um segundo para pensar em parar antes de se ver despencando num poço muito fundo.

Ou o poço era muito fundo, ou ela caía muito devagar, porque enquanto caía teve tempo de sobra para olhar à sua volta e imaginar o que iria acontecer em seguida. Primeiro, tentou olhar para baixo e ter uma ideia do que a esperava, mas estava escuro demais para se ver alguma coisa; depois olhou para as paredes do poço, e reparou que estavam forradas de guarda-louças e estantes de livros; aqui e ali, viu mapas e figuras pendurados em pregos. Ao passar, tirou um pote de uma das prateleiras; o rótulo dizia "geleia de laranja", mas para seu grande desapontamento estava vazio: como não queria soltar o pote por medo de matar alguém, deu um jeito de metê-lo num dos guarda-louças por que passou na queda.

"Bem!" pensou Alice, "depois de uma queda desta, não vou me importar nada de levar um trambolhão na escada! Como vão me achar corajosa lá em casa! Ora, eu não diria nadinha, mesmo que caísse do topo da casa!" (O que muito provavelmente era verdade.)

Caindo, caindo, caindo. A queda não terminaria nunca? "Quantos quilômetros será que já caí até agora?" disse em voz alta. "Devo estar chegando perto do centro da Terra. Deixe-me ver: isso seria a uns seis mil e quinhentos quilômetros de profundidade, acho" (pois, como você vê, Alice aprendera várias coisas desse tipo na escola e, embora essa não fosse uma oportunidade muito boa de exibir seu conhecimento, já que não havia ninguém para escutá-la, era sempre bom repassar) "sim, a distância certa é mais ou menos essa mas, além disso, para que Latitude ou Longitude será que estou indo?" (Alice não tinha a menor ideia do que fosse Latitude, nem do que fosse Longitude, mas lhe pareciam palavras imponentes para se dizer.)

Logo recomeçou. "Gostaria de saber se vou cair direto através da Terra! Como vai ser engraçado sair no meio daquela gente que anda de cabeça para baixo! Os antipatias, acho" (desta vez estava muito satisfeita por não haver ninguém escutando, pois aquela não parecia mesmo ser a palavra certa) "mas vou ter de perguntar a eles o nome do país. Por favor, senhora, aqui é a Nova Zelândia? Ou a Austrália?" (e tentou fazer uma mesura enquanto falava imagine fazer mesura quando se está despencando no ar! Você acha que conseguiria?) "E que menininha ignorante ela vai achar que sou! Não, não convém perguntar nada: talvez eu veja o nome escrito em algum lugar."

Caindo, caindo, caindo. Como não havia mais nada a fazer, Alice logo começou a falar de novo. "Tenho a impressão de que Dinah vai sentir muita falta de mim esta noite!" (Dinah era a gata.) "Espero que se lembrem de seu pires de leite na hora do chá. Dinah, minha querida! Queria que você estivesse aqui embaixo comigo! Pena que não haja nenhum camundongo no ar, mas você poderia apanhar um morcego, é muito parecido com camundongo. Mas será que gatos comem morcegos?" E aqui Alice começou a ficar com muito sono, e continuou a dizer para si mesma, como num sonho: "Gatos comem morcegos? Gatos comem morcegos?" e às vezes "Morcegos comem gatos?", pois, como não sabia responder a nenhuma das perguntas, o jeito como as fazia não tinha muita importância. Sentiu que estava cochilando e tinha começado a sonhar que estava andando de mãos dadas com Dinah, dizendo a ela, muito séria: "Vamos, Dinah, conte-me a verdade: algum dia você já comeu um morcego?" quando subitamente, bum! bum! caiu sobre um monte de gravetos e folhas secas: a queda terminara.

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"Alice"
Autor: Lewis Carroll
Editora: Jorge Zahar Editor
Páginas: 320
Quanto: R$ 15,90
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha.

 
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