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17/04/2010 - 17h21

Garotinha deixa para os pais mensagens de amor e esperança; leia trecho

da Livraria da Folha

Divulgação
Vítima de um câncer no cérebro, a menina Elena deixou bilhetes de conforto
Vítima de câncer, a menina Elena deixou bilhetes de conforto

"Ela sempre come os legumes antes.
Não se cansa de vestir roupas cor-de-rosa.
Sempre escreve o nome ao contrário --não porque não saiba escrevê-lo, mas porque "gosta de ver como fica".
Cruza as pernas quando se senta".

Brooke e Keith Desserich começam a apresentar a filha Elena com memórias, no livro "Mensagens de Esperança", lançamento da Editora Planeta. Vitimada por um tumor no cérebro, a garotinha morreu aos seis anos, depois de nove meses em tratamento.

Os pais resolveram registrar os últimos meses de Elena em um diário virtual, para que Gracie, a filha caçula, pudesse se lembrar da irmã muitos anos depois. O site atraiu leitores do mundo todo, que escreviam aos Desserich mensagens de consolo e agradecimento --sim, agradecimento: alguns pais lembraram-se o valor de colocar os filhos para dormir ou de levá-los para escola ao ler os textos do casal.

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Com a intenção de inspirar e conscientizar outros pais, escreveram "Mensagens de Esperança", que, além relata a evolução do câncer de Elena e de seu tratamento, mostra alguns dos bilhetes deixados por ela --em seus últimos dias, já em casa, a menina escondeu centenas de bilhete para os pais e para irmã e os escondeu nos lugares mais insuspeitos.

Mesmo após algum tempo da morte de Elena, eles continuam a encontrar os recados deixados por ela. Para os Desserich, provas de amor e de esperança; para os leitores, uma possibilidade de lembrar a importância desses valores.

A seguir, leia o primeiro capítulo do livro:

*

Dia 1 - 29 deNovembro

O dia começou cedo. Nós o chamamos de "complicado". Com a cirurgia marcada para as 7h, ela só poderia comer à 1h. Assim, à meia-noite, eu a acordei para que comesse um café da manhã/ jantar de iogurte - mas a enfermeira esqueceu de pedir iogurte antes de a cozinha fechar, e acabamos lhe dando pudim e calda de maçã.
Da uma da madrugada até o amanhecer, conversamos sobre "Alice no País das Maravilhas", sua recém-descoberta na TV e o que ela sempre quis fazer. E apesar de nem sempre eu entender o que ela dizia, por causa do tumor, consegui entender seus desenhos. Primeiro, ela fez um círculo com linhas tortas. Era para lá que queria ir - o único problema era que eu não sabia o que ela estava querendo dizer. Depois de diversas tentativas e mais frustração da parte dela, entendi que estava falando sobre o "pequeno restaurante" - o lugar confortável cerca de 1,5 quilômetro de nossa casa.

Seu rosto se iluminou quando ela me disse que queria espaguete e queijo. Era um pedido especialmente simples, e o colocamos na lista. O pedido seguinte foi um pouco mais difícil: a Torre Eiffel. Até hoje ainda não sei de onde ela tirou isso. Mas, independente de qualquer coisa, aquela era a lista e o que precisávamos fazer. Depois disso, a lista continuou, com a "rua dos vestidos", que imediatamente reconheci como sendo um bairro com lojas de vestidos em nossa cidade, mas fi ngi não entender. Era a mesma rua pela qual eu e as meninas passávamos de carro no caminho para a nossa casa, durante os últimos cinco anos, e pedia a elas para escolherem seus vestidos. Agora ela estava me pedindo para levá-la para as mesmas lojas que sempre idealizei levá-la quando estivesse noiva. E me perguntei se ela chegaria a viver aquilo. Mesmo assim, ela deu prosseguimento à lista.

Conforme a noite passava, continuamos conversando. Ela queria falar e eu queria escutar. Dormir não era tão importante quanto tivera sido três dias antes. Observei seu rosto iluminado pelas luzes do monitor hospitalar tentando imaginar se conseguiria me lembrar de todos os detalhes: a maciez de seu rosto, o brilho dançante em seus olhos, a inocência de seus pensamentos. Seria tudo aquilo um pesadelo? Eu acordaria no dia seguinte e o tumor simplesmente teria desaparecido? Talvez aquela fosse apenas uma lição da vida e amanhã o
tumor milagrosamente desapareceria. Eu só podia torcer para que isto acontecesse.

Naquela noite, os médicos haviam dito que deveríamos ir para casa e dormir, mas depois de terem nos contado que nossa filha só tinha 135 dias para viver, dormir não estava em nossos planos. Mesmo assim sorrimos, secamos as lágrimas e tentamos fingir que tudo estava bem. Mas foi Elena quem deu a melhor sugestão. Antes de partir, ela queria comemorar o Natal. Por isso, reservamos um tempo para encontrar o precioso Jesus e seus enfeites de anjos e
pendurá-los na árvore que os avós haviam montado rapidamente minutos antes. Irônico, porque, nos anos anteriores, eu insistira para que a árvore não fosse montada antes de 15 de dezembro. Apesar disso, este ano, quanto antes ela fosse montada, melhor. Brooke leu um livro para as smeninas antes de dormir. Foi o
livro mais longo que conseguimos encontrar.

Dia 2 - 30 de Novembro

A viagem a Memphis foi demorada. Elena foi aceita no programa de lá, que oferece tratamentos experimentais para o tronco cerebral, por isso marcamos o primeiro voo que conseguimos. Deus abençoe Elena e seu desejo de estar bonita. Para evitar que ela adoeça, tomamos todas as precauções necessárias, desde purificar o ar e limpar nossa casa a providenciar vacina antigripe para todos da família. Por fim, compramos máscaras de proteção no hospital para que Elena as usasse no avião. Ela não quis nem saber. É claro que gostou de ser levada na cadeira de rodas como uma rainha no trono, mas usar a máscara foi um pouco demais. Afinal, o que os passageiros pensariam de sua aparência? Depois de muito insistir, acabamos nós usando as máscaras. Ela disse que eu parecia um tolo. Outro problema foi passar pelo sistema de segurança no aeroporto. Devido a todos os remédios de Elena, demorou uma hora para passarmos. E mais uma hora para que a mamãe passasse pelas lojas de presentes. O que Elena queria, a mamãe comprava, e, com isso, ela ganhou um novo ursinho Beanie Baby e sorvete. Se tivéssemos passado por mais lojas até o terminal, tenho certeza de que estaria falido.

Duas horas depois, estávamos em Memphis. Lá conhecemos o novo hospital e nossa nova rotina. Contrariando o que havíamos escutado antes, foi tudo muito rápido enquanto Elena recebia a atenção de que precisava para que pudéssemos ter uma chance de lutar. Antes do anoitecer passamos por quatro consultas, com duração de mais de uma hora cada uma, dois raios X, orientações e por uma casa nova. Ela estava exausta, e eu também. Terminamos a noite no quarto de hotel, lendo os cartões desejando melhoras escritos pelos coleguinhas de jardim de infância. Ela foi para a cama levando os cartões para baixo dos cobertores. Ainda estou tentando encontrar uma maneira de tirá-los de lá antes de ela adormecer.

Até aqui, tudo bem. Dois dias e encontramos todas as pessoas certas. Até realizamos dois desejos de Elena: montar a árvore de Natal e ir ao aeroporto.

*

"Mensagens de Esperança"
Autor: Brooke e Keith Desserich
Editora: Planeta
Páginas: 256
Quanto: R$ 29,90
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
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