PAULA DUME
colaboração para a Livraria da Folha
Divulgação |
Mulher de Cid Moreira conta trajetória profissional do marido |
Uma enxurrada, árvores derrubadas pelas ruas, tensão no Rio de Janeiro. Sob esse clima, Cid Moreira chegou atrasado no primeiro dia de gravação do "Jornal Nacional". Alice Maria --sua chefe-- já preparava o jornalista Léo Batista para substituí-lo na apresentação do telejornal. Mas, Cid conseguiu chegar faltando minutos. "Fui chegando e trocando o paletó, alguém me entregando a gravata e eu a colocando desesperadamente enquanto me dirigia para a bancada. Sentei e apertei o nó em questão de segundos, mal suspirei, e o jornal entrou no ar."
A descrição integra o livro "Boa Noite", escrito por Fatima Sampaio Moreira, jornalista e mulher de Cid. O leitor percorre os bastidores tanto da vida profissional do locutor e apresentador quanto dos meios de comunicação nos quais ele trabalhou, como o JN. Cid diz ter enraizado em suas veias o telejornal, a ponto de até hoje sonhar que chega atrasado na estreia do noticiário. "Deu tudo certo, mas eu sonho de vez em quando com isso", lembra.
O jornalista não se esquece também das centenas de entrevistas que realizou, das boas lembranças dos amigos de equipe que, segundo ele, "são como um brinde", como o companheiro Armando Nogueira, diretor da Central Globo de Jornalismo e editor do JN no início do telejornal. "Os dois [Armando e JN] caminharam por uma longa estrada juntos", arremata.
A biografia traça um panorama da vida de Cid desde sua infância em Taubaté, interior de São Paulo, até ele se tornar uma das vozes mais conhecidas do país. O menino, que na década de 1940 aprontava traquinagens dia sim e outro também, não gostava de "gente estranha" em casa. Cid ou "Caolho", apelido que ganhou dos amigos, chegou a queimar uma cadeira na cozinha em tom de protesto, porque as crianças não poderiam transitar enquanto os adultos conversavam com as visitas. Era um costume da época.
"Quando comecei a gravar "Caminho a Cristo", percebi que quase tudo que Ellen G. White escrevia era baseado em fatos bíblicos e vinha com a referência em seguida." Desde então, cada vez que Cid deparava-se com livro, capítulo e versículo do Velho ou do Novo Testamento, pesquisava na Bíblia e procurava entender seu significado. "Assim fui ganhando maior contato e intimidade com o livro sagrado, e comecei a gostar do que estava lá", afirma.
Contato e intimidade que o levaram a se questionar por qual razão queria gravar a Bíblia na íntegra. A resposta veio e o surpreendeu. "É a vontade de que outras pessoas também passem pela experiência maravilhosa que vivi e estou vivendo --o encontro pessoal com Deus."