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21/04/2010 - 13h52

Livro ensina a ajudar quem tem comportamento destrutivo; leia trecho

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Divulgação
Brad Lamm: "Pessoas próximas têm mais poder transformador do que terapeutas"
Segundo autor, amigos e familiares têm grande poder transformador

Até mesmo Brad Lamm, autor do livro "Como Mudar Alguém que Você Ama", reconhece que o título da obra soa ambicioso à primeira vista. E por isso diz logo na saída do texto: embora seja difícil de acreditar, cada indivíduo tem um poder transformador do qual nem desconfia. Mas ele está lá, e pode alterar o curso da vida de pessoas próximas e queridas.

Lamm, ex-dependente químico, fundou e preside uma instituição norte-americana que auxilia pessoas com problemas sérios e presta especial atenção às suas famílias. As dificuldades tratadas variam muito, mas estão relacionadas a comportamentos destrutivos: desordem alimentar, compulsão por compras, dependência química e sexual, obsessão por internet, mania de mentir.

Para ajudar alguém que passa por um período turbulento, o primeiro passo é confiar no poder de sua ajuda --Lamm defende que amigos e familiares têm mais influência em um processo de transformação do que terapeutas, por acessarem mais fácil as emoções do "paciente".

Também é de extrema importância deixar de lado pressões agressivas e adotar uma postura respeitosa de compaixão e apoio. Segundo o autor, só a partir de muita confiança é que alguém se deixa levar pela ajuda do próximo. E, na maior parte dos casos, as pessoas só conseguem se curar se tiverem apoio de pessoas em que confiam.

Lamm traça um plano com dicas para aqueles que precisam sustentar o tratamento de amigos e familiares --primeiro para convencê-los de que precisam de ajuda, depois para mantê-los firmes no propósito de mudar de vida.

A seguir, leia um trecho do primeiro capítulo:

*

As Pessoas Podem Mudar

Entendo que você talvez seja um pouco cético neste exato instante. Temos a tendência de acreditar que as pessoas raramente mudam, com grande dificuldade, ou que não mudam de jeito nenhum. Nós nos convencemos de que fomos construídos para pensar, sentir e agir de determinadas maneiras, que tudo foi gravado em nós, como na pedra, em nossa mais tenra infância. É assim que somos e ponto final.

Em seus primeiros estudos, os psicólogos que trabalhavam com crianças determinaram que a faixa de idade em que assumimos as formas definidas de comportamento começava aos 5 e terminava aos 30 anos. Em outras palavras, ao atingir os 30 anos, os adultos deviam esquecer a ideia de fazer qualquer mudança significativa. A boa notícia é que esse pressuposto estava completamente errado. A verdade é que as pessoas podem mudar facilmente, e, muitas vezes, quase instantaneamente. Um sujeito irresponsável pode se tornar uma pessoa responsável. Uma pessoa volúvel e nervosa pode começar a ser gentil e educada. Um fofoqueiro pode se tornar uma pessoa discreta. Um dependente de drogas pode ficar sóbrio. E um gastador pode se transformar em alguém mais econômico. Não importa como seja; o fato é que todo e qualquer traço de personalidade prejudicial pode ser transformado.

As pessoas podem realmente mudar e melhorar sua vida, assim como a dos outros. Tudo o que elas precisam é de uma pequena ajuda para mudar de atitude, de comportamento e de humor.

Esta é a chave: as pessoas precisam de ajuda para mudar, especialmente se estiverem envolvidas em comportamentos autodestrutivos, ou se estiverem emocionalmente instáveis, com grandes mudanças de humor, exibindo combatividade extrema ou outros comportamentos corrosivos que ameaçam destruir ou desfazer relacionamentos. O mais eficaz dos catalisadores de mudança é você mesmo.

Você pode até não se ver como alguém capaz de influenciar outras pessoas, mas isso não altera o fato de que você é o mais eficiente dos catalisadores de mudanças! Como você verá, as pessoas mudam, para melhor ou para pior, por meio de seus relacionamentos com outras pessoas. As provas disso estão por toda parte. Veja um exemplo que estava nas manchetes há pouco tempo: o fenômeno da obesidade e da magreza espalhando-se pelas redes sociais. Um estudo de referência, publicado no The New England Journal of Medicine, descobriu que a obesidade de uma pessoa pode aumentar significativamente as chances de que seus amigos, irmãos e esposos aumentem de peso. E, se uma pessoa emagrece, as pessoas à sua volta também emagrecerão. Tanto a obesidade quanto a magreza são "socialmente contagiosas", concluíram os autores do estudo. No cerne da questão está a partilha de normas aceitáveis para o peso, e não apenas compartilhar os mesmos hábitos de alimentação e de exercícios.

Se alguém que é importante para você começa a ganhar peso, sua noção de um tamanho aceitável de corpo pode mudar. Você pode achar que não há problema algum em aumentar em dois números o tamanho de sua roupa. E, surpreendentemente, os pesquisadores descobriram que a questão do peso não era afetada pela distância geográfica. Se você tiver um irmão ou amigo próximo que viva a dois mil quilômetros de distância, o ganho ou a perda de peso dessa pessoa exercerá o mesmo efeito sobre você. O mesmo acontece com o hábito de beber ou fumar: eles também se espalham pelas redes sociais.

Os mesmos pesquisadores estudaram outros aspectos de mudança sobre os quais as redes sociais exercem influência. Um estudo, publicado em 2008 no British Journal of Medicine, mostrou que a felicidade é contagiosa, ondulando por redes sociais em até três graus de separação. Conhecer alguém que está feliz lhe dá 15,3% mais chances de ser feliz, segundo o estudo. Saber que o amigo de
um amigo está feliz aumenta suas chances de felicidade em 9,8%, e até o amigo da irmã de seu vizinho pode lhe dar um aumento de 5,6%. As pesquisas apontaram respostas com a máxima pontuação para questões como: "Eu me senti esperançoso sobre o futuro?", "Eu fiquei feliz?", "Eu gostava da vida?", e "Eu achei que estava tão bem quanto os outros?". Para espalhar um pouco de felicidade ao seu redor, seja otimista. Ou, se você conhece alguém que é naturalmente feliz e você não é, fique mais perto dessa pessoa e saia com ela, tanto quanto for possível. Essa mesma pesquisa constatou que o mau humor também é contagioso! Cada conexão infeliz que tiver - isto é, um amigo, um parente ou um conhecido mal-humorado
- aumenta suas chances em 7% de ser infeliz.

Toda essa pesquisa dá suporte a muitos estudos anteriores, mostrando que as relações mais próximas são extremamente influentes em nosso modo de agir e sobre aquilo que fazemos. De muitos modos, podemos dizer que somos como aqueles com quem andamos! Pense sobre a validade desta afirmação por um momento: você aprendeu quase tudo o que sabe com os outros - como falar, como se vestir, como comer, como agir em sociedade e como ter relações íntimas. Quem você é, o que você sabe, como você age são partes do seu self formadas por meio de interações com seus pais, parentes, amigos, empregadores e professores. As pessoas em nossa vida nos afetam de uma maneira profunda. Então, por que não aproveitar esse princípio positivo para motivar um ente querido a mudar?

 
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