Livraria da Folha

 
03/05/2010 - 13h31

Blog sobre literatura policial criado por leitor reúne amantes do mistério e suspense

GUILHERME SOLARI
colaboração para a Livraria da Folha

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No ar há quase três anos, o "Blog do Romance Policial" foi criado pelo Engenharia de Computação e Informação Thiago Carvalho e se tornou um ponto de encontro entre os amantes desse gênero literário.

Divulgação
Blog literário se tornou referência entre leitores brasileiros da ficção policial
Blog literário se tornou referência entre leitores brasileiros da ficção policial

"Sempre senti falta de um site ou blog específico onde eu pudesse me informar sobre novidades e lançamentos, ler resenhas e indicações, ou seja, entrar em contato com o mundo da literatura policial", conta Carvalho.

Com a colaboração dos leitores, Carvalho também cria artigos, como o que relata os diferentes subgêneros da literatura de crime e mistério, tais quais thrillers médicos e jurídicos, livros noir, de espionagem ou o vulgo "whodunnit?" (corruptela de "Quem foi?"), os clássicos romances nos quais o leitor busca descobrir a identidade do assassino ou criminoso.

O estudante, amante da literatura policial e blogueiro conversou com a Livraria da Folha sobre a iniciativa e a situação desse gênero literário no Brasil.

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Livraria da Folha - O que lhe atrai na literatura policial?

Thiago Carvalho - Creio que os maiores atrativos da literatura policial, e basicamente o que a caracteriza, são: os enredos capazes de prender a atenção do leitor até o final da leitura, suas reviravoltas ao longo da trama, não permitindo que ela se torne monótona, e os finais surpreendentes. Além disso, vale citar que o clima de tensão que o gênero nos traz e a ânsia pela descoberta da solução do mistério faz com que o leitor se sinta como um verdadeiro detetive e "mergulhe" na história, tentando desvendar o crime por conta própria, "ajudando" na investigação e tirando suas próprias conclusões para depois compará-las com o verdadeiro final. Acredito que em nenhum outro gênero o autor consiga esse efeito. Pelo menos não comigo.

Livraria da Folha - De onde veio a ideia de criar um blog dedicado a esse gênero?

Carvalho - A ideia do blog surgiu justamente pela dificuldade de se encontrar informações sobre o gênero na internet aqui no Brasil. Sempre senti falta de um site ou blog específico onde eu pudesse me informar sobre novidades e lançamentos, ler resenhas e indicações, ou seja, entrar em contato com o mundo da literatura policial. Como não encontrei esse espaço, resolvi eu mesmo criá-lo, e em setembro deste ano ele completará três anos no ar.

Livraria da Folha - Como você avalia a literatura policial no Brasil, tanto do ponto de vista de leitores quanto das obras nacionais?

Carvalho - Infelizmente no Brasil a literatura policial sofre certo preconceito por parte de alguns, que a consideram como "subgênero" e colocam em dúvida sua qualidade literária. Eu mesmo já ouvi pessoas que, ao saberem do meu blog, me mandaram parar de ler bobeiras e ler algo útil [risos]. Muitos já devem ter ouvido algo parecido também. Isso é reflexo da pouca divulgação que o gênero tem por aqui. Diferente do que ocorre nos EUA ou na Europa, onde o gênero é bem difundido, no Brasil quase não se fala dele e muitas editoras simplesmente o ignoram, principalmente se tratando de obras de autores iniciantes nacionais, que raramente conseguem uma oportunidade de lançar seu livro. Tanto é que um de nossos autores, Luiz Alfredo Garcia-Roza [autor de "Céu de Origamis", entre outros], atualmente na minha opinião o principal representante da literatura policial nacional, é bastante conhecido e elogiado no exterior, mas em seu próprio país muitos nunca nem ouviram falar dele. Isso mostra que temos autores de qualidade, porém, sem o devido reconhecimento.

Livraria da Folha - Você acha que o número de leitores no gênero está aumentando?

Carvalho - Não tenho como afirmar, mas diria que temos um longo caminho a percorrer até que o gênero se expanda no Brasil. É raro vermos propagandas de livros na mídia, principalmente de romances policiais, a não ser em nichos específicos cujo alcance não é grande suficiente para alavancar vendas. Na verdade, nem me lembro quando foi a última vez, se é que houve, que vi livros tendo destaque em propagandas vinculadas em veículos de massa como a TV, por exemplo. Já no exterior diria que esse público está crescendo sim, pois diversos filmes e séries policiais de TV já foram adaptadas de obras literárias, ou o contrário, séries tornaram-se livros, o que sem dúvida ajuda a divulgar gênero. Digo isso, pois ocorreu algo parecido no blog. Enquanto a novela Poder Paralelo, exibida pela Rede Record, que foi baseada no livro "Honra ou Vendetta", de Silvio Lancellotti, estava sendo exibida, o número de visitas aumentou consideravelmente e recebi diversos e-mails e comentários nos posts solicitando informações sobre ele. Acredito que seja esse um dos caminhos para o aumento da popularidade do gênero.

Livraria da Folha - Você é um usuário da rede social de leitores Skoob. O que lhe atrai nesse tipo de comunidade virtual?

Carvalho - O Skoob é uma ferramenta fantástica e o que me atrai nela é sua ideia como um todo: um ambiente dedicado a livros que permite gerenciar nossa estante virtual, informando os livros lidos, pretendidos e emprestados, escrever resenhas, avaliá-los e principalmente conhecer pessoas de mesmo gosto literário que o seu, conseguindo assim trocar informações sobre autores e livros. Por ser uma rede social cujo foco principal é a literatura, essa comunicação fica muito mais fácil, já que os usuários estão ali justamente para isso. O mais engraçado é que antes de conhecer o Skoob eu já havia pensado em criar algo parecido, mas eles foram mais rápidos [risos].

Livraria da Folha - Como você faz para ficar atualizado dos lançamentos?

Carvalho - Tenho contato com algumas editoras que me enviam dados periodicamente sobre os seus futuros lançamentos, mas infelizmente nem todas são assim. Em muitos casos minhas mensagens solicitando informações não são nem respondidas. Então, para me manter o mais atualizado possível, preciso frequentar diariamente sites de livrarias procurando por lançamentos, já que normalmente eles disponibilizam essa informação antes mesmo que os sites das próprias editoras, e torcer para que elas colaborem comigo respondendo minhas perguntas ou até mesmo que tomem a iniciativa de me procurar para divulgar algum livro.

Livraria da Folha - Quantos livros em média você lê por mês?

Carvalho - Já cheguei a ler cinco ou seis livros em um único mês, porém, com o final da faculdade se aproximando, tive que diminuir consideravelmente esse número para me dedicar ao projeto de conclusão de curso. Mas depois de formado pretendo retomar o meu ritmo normal, ou quem sabe aumentá-lo. Em 2010 já li quatro livros e estou no quinto, o que daria uma média de um por mês por enquanto. Número infelizmente muito abaixo do que eu gostaria.

Livraria da Folha - Quais os livros lançados no Brasil que você mais recomendaria? Que lançamentos você aguarda ansiosamente?

Carvalho - Como são muitos os livros que eu recomendaria, vou me limitar aos lançamentos recentes para diminuir essa lista. Gostei muito da trilogia "Millennium", composta pelos livros "Os Homens que Não Amavam as Mulheres", "A Menina que Brincava com Fogo" e "A Rainha do Castelo de Ar", do já falecido autor sueco Stieg Larsson; "Criança 44", do inglês Tom Rob Smith, que considero o melhor livro que li em 2009 e "O Aliciador", um romance policial italiano escrito por Donato Carrisi. Sobre os futuros lançamentos, dos que eu sei que serão lançados, estou bastante ansioso para "O Discurso Secreto", também de Tom Rob Smith; "O Guerreiro Solitário" do sueco Henning Mankell; "Ecos da Morte", livro de estreia de Johan Theorin, um sueco que por seu sucesso vem sendo comparado ao seu compatriota Stieg Larsson e "Coração Maligno", o último livro da ótima trilogia criada pela escritora americana Chelsea Cain.

Livraria da Folha - Quais são os seus autores favoritos?

Carvalho - Como eu gosto de variar, costumo dar prioridade a livros de autores que nunca li. Por isso existem muitos escritores dos quais só li um único livro, mas que pela qualidade merecem ser incluídos na minha lista. Meus favoritos são: Agatha Christie, Stieg Larsson, Jo Nesbo, Michael Connelly, Jonathan Kellerman, Andrea Camilleri, Tom Rob Smith, Val McDermid, John Hart e Jeffery Deaver. Vale lembrar que essa lista não está em ordem de preferência.

Livraria da Folha - Como você vê essa troca de informações e referências que a internet permite entre leitores?

Carvalho - Acho extremamente interessante. Sem ela eu não conheceria a maioria dos autores que conheço hoje em dia e não teria descoberto boa parte dos livros que já li. Acho essa troca tão importante que além do blog, possuo perfis no Orkut, Twitter e Skoob, e utilizo ambos com o intuito de me comunicar com outros usuários a respeito da literatura policial. Porém, mais importante que a troca de referências entre leitores pela internet, acredito que seja a grande variedade de seu conteúdo e a facilidade de acesso a ele, representado por um efeito chamado "cauda longa", termo criado por Chris Anderson, editor chefe da revista "Wired". Esse efeito nada mais é do que a observação gráfica de um aumento da procura/compra de livros considerados não-bestsellers, causado pela popularização da internet e principalmente pelo surgimento das livrarias virtuais. Vendo pelo lado do leitor, essa demanda ocorre pois eles hoje em dia buscam pela informação que lhes agradam, tamanha é a facilidade de encontrá-las na rede, e não precisam mais depender do que a mídia "empurra" para que eles comprem. A oferta vem das livrarias virtuais, que por não terem gastos com manutenção e exibição de produtos em prateleiras, diferentemente do que ocorre com uma loja física, elas podem exibir uma variedade maior de livros.

 
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