Livraria da Folha

 
07/05/2010 - 09h52

Chaplin tomava até dez banhos por dia e usava iodo no pênis para evitar DSTs

da Livraria da Folha

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Loucura da mãe afetou Chaplin a ponto de deixá-lo com sifilofobia
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Em "Chaplin: uma Vida" (Larousse, 2010), o psiquiatra e professor da Washington School of Psychiatry Stephen Weissman revela os bastidores dramáticos da vida de Charles Chaplin (1889-1977).

A biografia revela que, mesmo casada com o pai de Chaplin, Hannah Hill Chaplin teve vários amantes, entre eles um suposto membro da aristocracia inglesa que a convenceu a fugir para a África do Sul. Lily, como era conhecida, engravidou fora do casamento, chegou a se prostituir e contraiu sífilis. Em 1884, ela retornou da África.

No entanto, descobriu a doença somente em 1898, quando foi diagnosticada psicótica. Segundo o médico que a atendeu, Lily, com 33 anos à época, sofria de um caso de sífilis disfarçada de loucura. Os surtos de enxaqueca que tinha, poderia ser associado a um caso de sífilis meningovascular.

Não se sabe ao certo quando Lily contraiu a doença. O fato de nenhum dos seus filhos ter desenvolvido sífilis congênita não ajuda a identificar o momento da infecção original.

No entanto, Chaplin foi afetado, de certa forma, pela doença da mãe. No trecho abaixo, extraído da biografia, percebemos que o cineasta sofreu de sifilofobia passageira. Após ter tido um caso com a atriz Louise Brooks, ele retornou para sua casa, em Beverly Hills. Sua esposa ficou enlouquecida ao saber que o marido tomava até dez banhos por dia e desenvolveu o hábito de utilizar iodo no pênis para evitar doenças venéreas.

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Mais triste, mais sábia, mais que ligeiramente grávida e provavelmente infectada por sífilis, Lily não perdeu tempo em encontrar e restabelecer contato com seu antigo amor, Chaplin Sr. Embora ela não tivesse como saber, o micro-organismo que causa a sífilis (Treponema pallidum) já poderia então estar alojado em seu corpo como uma bomba-relógio silenciosa.

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Infância trágica influenciou a arte e a personalidade de Charles Chaplin
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Lily recebeu o diagnóstico de sífilis ao se tornar psicótica em 1898. Nos anos 1890, antes que o teste Wasserman fosse desenvolvido, a doença era amplamente conhecida como "o grande mímico".

Esse apelido médico destacava que a sífilis podia facilmente imitar outros quadros físicos e mentais. Algumas vezes um diagnóstico de sífilis disfarçada só era feito durante a autópsia. Mas no caso de Lily, de 33 anos, a opinião do médico que a atendeu de que sua paciente sofria de um caso de sífilis disfarçada de loucura provavelmente se baseou na descoberta, no exame físico, de sinais neurológicos clássicos compatíveis com sífilis.

Se em 1898 Lily havia desenvolvido uma infecção cerebral sifilítica que começara a deixá-la louca, quando e como o espiroqueta Treponema pallidum penetrou em seu sistema nervoso?

Aquele surto de dores de cabeça constantes com um mês de duração que Lily tivera três anos antes, em 1895, é uma possível pista. Na época diagnosticado como enxaqueca, ele na verdade poderia ter sido provocado por sífilis meningovascular. O termo se refere a uma inflamação das membranas do revestimento do cérebro, as meninges. E a reação inflamatória nessas membranas é provocada pela tentativa inútil do sistema imunológico de destruir o micro-organismo invasor e impedi-lo de penetrar no próprio cérebro. Os vasos sanguíneos irritados podem levar o paciente a sofrer dores de cabeça terríveis, indistinguíveis de enxaquecas comuns.

Indistinguíveis, claro, exceto pelo fato de que ataques de enxaqueca comuns não duram um mês. E nos anos 1890 (ou nos anos 1990) dores de cabeça por enxaquecas não faziam com que mulheres jovens sem recursos financeiros e fora isso saudáveis precisassem de longas internações às custas do erário, como aconteceu com Lily Harley em 1895 na Lambeth Infirmary. Supondo-se que seu "surto de enxaqueca" se devesse a um caso de sífilis meningovascular, e voltando no tempo, é possível postular que ela contraiu sífilis primária onze anos antes, em 1884, na África do Sul. Embora possa ter acontecido posteriormente, esse cronograma é compatível com a bem conhecida evolução cronológica da doença, que com frequência se manifesta entre cinco e dez anos após a contaminação, mas que pode aparecer pela primeira vez até trinta anos depois.

O fato de que nenhum dos filhos de Lily desenvolveu sífilis congênita não ajuda a identificar o momento da infecção original. Ao contrário da crença popular, em qualquer dos seus estágios a sífilis em uma mulher grávida não necessariamente causa sífilis congênita na criança. E, claro, também não é necessário que a mulher seja uma prostituta para contrair sífilis. Mulheres ativas com um único parceiro por toda a vida podem contrair, e contraem, doenças sexualmente transmissíveis.

O único fato médico de que temos certeza é que quando Lily Harley se tornou psicótica em 1898 o médico que a atendeu registrou em sua ficha um diagnóstico inicial de sífilis. Ele nunca especificou o estágio - primário, secundário, latente ou terciário.

O primeiro indício que temos de que Charlie sabia da doença da mãe surge nas lembranças de fim de vida de outra atriz glamorosa e promíscua, Louise Brooks. Em 1925, aos 18 anos de idade, quando era uma pequena estrela do Ziegfield Follies, ela teve um caso de dois meses com o astro do cinema casado do qual ambos conheciam o roteiro desde o início. Relembrando seu interlúdio amoroso muitos anos depois, Louise recordou, divertida, o estranho hábito de Chaplin de pintar seu pênis com iodo para se proteger contra doenças venéreas. Nas palavras dela, "Charlie corria para mim com sua pequena espada vermelha".

Na época do caso Chaplin havia ido a Nova York para a estreia de Em Busca do Ouro. Mas permaneceu lá dois meses, confortável mente instalado com Louise em uma luxuosa suíte de hotel em Manhattan. Ele passou tanto tempo com Louise para evitar o que ele considerava a perspectiva nauseante de retornar para Hollywood e sua esposa adolescente gastadora e descerebrada que pouco antes dera à luz a criança indesejada que o tornara tão infeliz.

Pouco depois que ele e Louise se separaram, Charlie mandou para ela um cheque polpudo (não pedido) como expressão de sua profunda gratidão por sua companhia no que havia sido um momento extraordinariamente solitário e doloroso de sua vida, a despeito da fabulosa acolhida que sua obra-prima tivera e do fato de que fizera dele o queridinho de Nova York. Quando finalmente retornou a sua casa de Beverly Hills, sua esposa ficou enlouquecida pelo marido insone tomar até oito ou dez banhos por dia. Assim como a compulsão de Chaplin para pintar o pênis, os banhos compulsivos provavelmente eram fobia a germes. Caso seus rituais de limpeza pessoal fossem um caso passageiro de sifilofobia, é de se notar que eles surgiram pouco depois de ele ter concluído Em Busca do Ouro e tido uma ligação sexual casual com uma mulher do mundo sofisticada e inteligente disposta a amá-lo sem laços estabelecidos.

 
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