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16/09/2006 - 10h18

Mundo muçulmano protesta contra declaração do papa Bento 16

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da France Presse, no Cairo
da Folha Online

A onda de indignação despertada no mundo muçulmano pelas declarações do papa Bento 16 aumentou neste sábado, com reações que vão desde o xeque da Al Azahr, principal autoridade do islamismo sunita, até malaios e talebans, que exigiram um pedido de desculpas.

Em um comunicado divulgado pela agência egípcia Mena, o líder da Al Azahr, xeque Mohammed Sayyed Tantaui, demonstrou indignação com as palavras do pontífice, que para ele "revelam uma clara ignorância sobre o islã" e atribuem ao islamismo "coisas que não têm nada a ver com esta religião".

O xeque disse ainda ao jornal oficial "Al Ahram" que convocou uma reunião urgente dos membros do Conselho de Estudos Islâmicos, vinculado à Al Azahr, para a elaboração de um documento refutando o que considera mentiras de Bento 16.

O Parlamento egípcio exigiu um pedido de desculpas pelas "palavras hostis" do chefe da Igreja Católica.

A origem da revolta está no discurso de terça-feira do papa na Alemanha, no qual implicitamente estabeleceu uma relação entre o islã e o jihad ["esforço" que o muçulmano deve desempenhar para difundir e proteger o islamismo; ficou caracterizado como "guerra santa" na imprensa] .

Na Malásia, país de maioria muçulmana, o primeiro-ministro Abdullah Ahmad Badawi fez um alerta. "O papa não deve minimizar o escândalo que provocou."

O chefe de governo e presidente da Organização da Conferência Islâmica, maior entidade de países muçulmanos, afirmou que o Vaticano deve assumir a completa responsabilidade da questão e adotar as medidas necessárias para corrigir o erro.

No Afeganistão, os talebans exigiram que Bento 16 se desculpe, pois consideram que as palavras do pontífice fazem parte de uma lógica de "cruzada do Ocidente" contra a religião muçulmana.

Vários coquetéis molotov foram lançados neste sábado contra duas igrejas de Nablus, no norte da Cisjordânia, sem provocar vítimas ou grandes danos, informaram fontes dos serviços de segurança palestinos.

O Irã pediu a Bento 16 uma correção do polêmico discurso, considerado um grande erro pelo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mohammad Ali Hosseini.

Autoridades islâmicas da Indonésia, maior país muçulmano do mundo, se uniram às condenações, mas optaram por um tom mais moderado.

"Independente das circunstâncias, o papa não deveria ter falado o que falou", declarou Ahmad Syafii Maarif, um dos diretores da Muhammadiyah, segunda maior organização islâmica indonésia.

"Devemos manter a cabeça fria e estudar com atenção o que disse e o contexto em que o disse", acrescentou.

"É inapropriado que uma declaração desta venha do papa", afirmou Maruf Amin, que preside o Conselho de Ulemás, maior autoridade do país, que segundo a imprensa pretende enviar uma carta de protesto ao Vaticano.

Nesta sexta-feira, a Associação de Ulemás Muçulmanos da Argélia manifestou indignação com o discurso papal, "que dava a entender a existência de uma relação entre o islã, a violência e a ausência de vias para a razão".

As monarquias do Conselho de Cooperação do Golfo também exigiram um pedido de desculpas.

Em uma tentativa de frear a chuva de críticas, o ministro das Relações Exteriores da Santa Sé, monsenhor Dominique Mamberti, afirmou nesta sexta-feira que o diálogo entre as religiões é uma questão crucial.

A chanceler alemã, Angela Merkel, saiu em defesa do compatriota. "Quem critica o papa desconhece a intenção de seu discurso, que era a de convidar para o diálogo entre religiões".

O jornal americano "New York Times" considerou os comentários de Bento 16 "trágicos e perigosos".

Desculpas

O papa Bento 16 está "extremamente aflito" que os muçulmanos tenham se sentido ofendido por algumas de suas palavras em um recente discurso na Alemanha, informou o Vaticano neste sábado.

O novo secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone, disse que a posição do papa sobre o islã está evidentemente de acordo com a doutrina do Vaticano, que defende que a Igreja Católica "tem apreço pelos muçulmanos, que adoram o Deus único".

"O Santo Padre lamenta profundamente que algumas passagens de seu discurso tenham parecido ofensivos para a sensibilidade dos muçulmanos e tenham sido interpretadas de uma maneira que não corresponde de modo algum com suas intenções", afirmou Bertone em sua primeira declaração oficial desde que foi nomeado, nesta sexta-feira.

"A opinião do papa em favor do diálogo inter-religioso e intercultural é absolutamente inequívoca", acrescentou.

Com agências internacionais

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