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01/10/2006 - 09h19

Conservadorismo marca nova geração de políticos do Japão

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DANIELA LORETO
da Folha Online

O novo premiê japonês, Shinzo Abe, 52 --o mais jovem líder japonês desde 1945 e o primeiro a nascer depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945)--deve imprimir um estilo ainda mais conservador ao governo do Japão que seu antecessor, Junichiro Koizumi, segundo Richard J. Samuels, 54, diretor do Centro de Estudos Internacionais do MIT (Massachusetts Institute of Technology).

"O governo de Abe deve ser ainda mais conservador porque ele vem de uma família política que sempre foi da direita do PLD (Partido Liberal Democrata)", disse Samuels à Folha Online, por telefone.

Divulgação
"Novo governo do Japão será mais conservador", diz Samuels
De acordo com o especialista, o conservadorismo é uma marca da nova geração de políticos do Japão. "É muito interessante observar como os políticos mais jovens são conservadores, muito mais do que em qualquer período da política japonesa do qual me lembro", diz.

Entre as razões para essa tendência, ele cita o fato de que grande parte dos políticos que hoje chegam ao poder no Japão não viveram o período da guerra. "Muitos estão cansados de ver o país pedindo desculpas pela guerra, e acreditam que ela faz parte do passado, foi algo vivido pela geração de seus avós. Eles não se sentem responsáveis pelo conflito", afirma.

Por isso, de acordo com Samuels, a nova geração política defende a mudança de certas restrições ao Japão presentes na Constituição do país, imposta pelos EUA após a Segunda Guerra.

"Muitos acham que o prazo de validade destas limitações expirou", diz Samuels. "Eles estão cansados do pacifismo e das constantes desculpas", explica.

Constituição

As restrições presentes na Constituição japonesa imposta pelos EUA se referem, principalmente, ao âmbito militar.

"Hoje o Japão não pode socorrer um navio americano se este estiver sendo atacado em alto-mar. Ou seja, um aliado estará sendo atacado, e eles não têm o direito de defendê-lo. No entanto, os EUA são obrigados a defender o Japão em qualquer lugar do mundo", diz Samuels.

As primeiras tentativas de empreender mudanças na lei foram feitas pelo ex-premiê Nobusuke Kishi (1957-1960), que é avô de Abe. "Ele era muito conservador, fazia parte do governo durante a guerra e, mesmo antes do conflito, era uma das autoridades que administravam a Manchúria (China) para o Exército japonês".

O Japão invadiu a Manchúria em 1931, e ocupou várias partes da China até 1945.

Desde a década de 60, segundo Samuels, a questão ficou esquecida, e só voltou à tona agora, com a volta dos conservadores ao governo.

No entanto, ele diz que as mudanças na lei japonesa devem levar certo tempo. "O Japão ainda está se habituando com a idéia. Abe e os conservadores que agora estão no poder estão mais próximos de mudar a interpretação da Constituição do que propriamente mudar a lei."

China

Em relação à China, Samuels diz que a tendência é que haja um "esforço" da nova liderança para melhorar as relação entre os dois países. Como exemplo, ele cita a primeira visita oficial de Abe, que será a Pequim, e não aos Estados Unidos.

"No entanto, Abe nem mesmo concordou com o pedido de desculpas do Japão à China devido à Segunda Guerra. Ou seja, ele é considerado mais 'linha-dura' ideologicamente que Koizumi".

No ano passado, no 60º aniversário da rendição japonesa, Koizumi voltou a pedir desculpas pelas agressões aos países vizinhos durante a Segunda Guerra e evitou comparecer ao templo Yasukuni, em Tóquio, em que os 2,5 milhões de militares japoneses mortos são homenageados ao lado de criminosos de guerra condenados.

Samuels traça uma comparação entre a postura de Abe em relação à China à do ex-presidente americano Richard Nixon (1969-1974). "Por ser um conservador, ele tem confiança de que a sua base de suporte se manterá, mesmo indo à China. Isso é o mesmo que Nixon fez. Ele era tão anticomunista que, quando ia à China, não perdia o apoio que tinha da direita americana", diz.

Jiu-jítsu

Samuels elogia os cinco anos que Koizumi passou à frente do governo japonês. "Eu costumo chamá-lo de presidente do jiu-jítsu, porque tomou a força de seus oponentes e a usou a seu favor, ele foi brilhante no âmbito doméstico. Hoje o PLD é mais forte do que nunca graças a ele".

O especialista enumera ainda o empenho de Koizumi em levantar a questão de uma reforma econômica. "Esse tema é algo com que Abe não se familiariza muito. Vamos ver como ele agirá neste sentido", diz.

Segundo ele, os graves problemas fiscais e o elevado déficit enfrentados pelo Japão devem obrigar Abe a aumentar os impostos, o que "nunca é algo fácil."

Sobre as relações entre Japão e EUA, Samuels diz acreditar que o novo premiê não terá dificuldades. "Koizumi é amigo próximo de George W. Bush, e Abe também possui amigos no governo americano. Ele é bastante popular em Washington, não vejo problemas nessa relação".

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