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08/10/2006 - 02h32

Ataques expõem novo tipo de violência nas escolas dos EUA

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DANIELA LORETO
da Folha Online

A recente onda de ataques contra escolas dos EUA chama a atenção por inserir um novo fator neste tipo de crime: agora adultos atacam crianças, segundo especialistas em violência escolar ouvidos pela Folha Online.

Em apenas seis dias [entre 27 de setembro e o último dia 2], seis crianças morreram em três ataques contra escolas de diferentes Estados --Colorado, Wisconsin e Pensilvânia. Em dois deles, os agressores eram adultos.

"Na última década, não havia registro de ataques de maior repercussão cometidos por adultos, todos foram feitos por adolescentes", disse à Folha Online, por telefone, Jane Grady, 60, diretora-assistente do Centro de Estudos e Prevenção à Violência (CSPV, na sigla em inglês), da Universidade do Colorado.

"Geralmente, essas ações eram perpetradas por estudantes que enfrentavam problemas com outros alunos ou professores. Ataques de adultos é algo novo, que não sabemos ainda ao certo a motivação, tampouco o significado", diz Grady, que dirige o centro fundado em 1993.

Michael Sedler, especialista em Serviço Social que atua há 15 anos em escolas dos EUA, nas áreas pedagógica e de saúde mental, concorda com Grady. "O perfil típico destes agressores era de adolescentes solitários, influenciados por jogos de videogame ou pela internet", explica.

Dois dos recentes ataques foram realizados por adultos que, aparentemente, "sofriam de distúrbios mentais, ouviam vozes ou se sentiam deprimidos". "Os casos ainda estão sendo investigados e nos ajudarão a saber mais sobre este novo tipo de ataque", afirma.

Onda de violência

No último dia 27, Duane Morrison, 53, invadiu uma escola em Bailey, no Colorado, fez um grupo de seis alunas reféns, matou uma delas e, em seguida, se suicidou. Segundo a polícia, todas as seis alunas foram molestadas, e ao menos duas delas sofreram abusos sexuais.

Dois dias depois, um estudante de 15 anos armado invadiu uma escola rural do Condado de Richland, no Wisconsin, nos Estados Unidos, e disparou várias vezes contra o diretor, ferindo-o gravemente antes de ser detido. O aluno chegou à escola armado com uma pistola calibre 22 e um rifle.

Na última segunda-feira (2), um terceiro crime voltou a chocar a opinião pública americana. O motorista de caminhão Charles Carl Roberts, 32, invadiu a escola amish Wolf Rock, no Condado de Lancaster, na Pensilvânia, matando quatro alunas e se suicidando em seguida.

Pai de três filhos, Roberts disse à mulher que havia cometido ataques contra familiares há 20 anos e que "sonhava em repetir os abusos". A família disse desconhecer o caso. Segundo a polícia, a morte de uma das filhas de Roberts, há três anos, pode ter influenciado no ataque.

"Imitação"

Segundo Sedler, os "ataques em série" são comuns. "Quando um episódio acontece, outros tendem a imitá-lo. Epidemias de violência em escolas são comuns em várias culturas", diz ele.

Grady defende a mesma tese. "Foi levantada a possibilidade de que o ataque da Pensilvânia tenha sido uma 'imitação' do ataque em Bailey (Colorado), já que ambos os casos tinham caráter sexual e os dois agressores deram preferência às vítimas femininas", diz ela.

O especialista diz que, aparentemente, o agressor da Pensilvânia [Roberts] começou a se preparar para o ataque uma semana antes de agir, quando ocorreu o crime no Colorado. No entanto, ela ressalta que os ataques "ainda estão sendo investigados".

"Não é possível ter certeza se ele foi influenciado pelo incidente de Bailey, ou se agiria de qualquer maneira", diz.

De acordo com Grady, o ataque contra uma escola de Columbine [quando dois estudantes armados invadiram uma escola, matando 13 colegas e se matando em seguida], ocorrido em 1999, mudou as prioridades dos estabelecimentos de ensino e do governo em relação à este tipo de violência.

"Depois de Columbine, foram liberados mais recursos para a prevenção à violência escolar. Infelizmente, com o passar dos anos, muitas de nossas escolas mudaram seu foco e deixaram de investir em segurança como feito imediatamente depois do ataque", explica Grady.

Prevenção

Foi após a ação --que deu origem ao filme "Tiros em Columbine" ["Bowling for Columbine"], de 2002, dirigido por Michael Moore-- que o CSPV criou o programa "Safe Communities, Safe School" (SCSS) ["Comunidade Segura, Escola Segura", em tradução livre].

"Desde os ataques, trabalhamos nas escolas do Colorado para desenvolver um sistema de informação integrado entre pessoas ligadas às áreas pedagógica, de saúde mental e hospitalar, para criar uma equipe que possa detectar problemas de antemão", explica Grady.

Assim, professores e outros estudantes que percebam o comportamento estranho de um jovem podem avisar a equipe antes que se chegue a um crime. As informações repassadas são mantidas em sigilo e podem ser anônimas, para não expor o jovem. "A idéia não é criar paranóia nas escolas, mas de fato ajudar os adolescentes que possam estar enfrentando problemas".

Sedler também apóia o trabalho de prevenção, não só nas escolas como nas comunidades. "Quando há receio a respeito do comportamento de um indivíduo, isso deve ser relatado às autoridades competentes e investigado", afirma o especialista em violência.

Para reforçar a importância da prevenção, ele cita como exemplo o caso do ataque em Bailey. "Muitos haviam percebido que a atitude [do agressor] era estranha e assustadora, mas ninguém fez nada a respeito", diz Sedler, acrescentando que a educação é "a melhor forma de lutar contra a violência", cujo combate precisa de uma "forte ação" comunitária e nacional.

Má influência

Para Grady, o fácil acesso às armas é um dos principais motivos para que a ocorrência de ataques do tipo seja mais freqüentes nos EUA. "A acessibilidade é um fator determinante".

Ela rejeita, no entanto, a tese de que filmes como "Tiros em Columbine" possam ser, isolados, geradores de novos crimes contra escolas.

"Os ataques não são causados por um único fator. Crianças com problemas, com dificuldades de relacionamento na escola e em contato freqüente com videogames ou filmes violentos geram explosão de violência. "Mas se o adolescente for integrado ao ambiente escolar, sem problemas escolares ou familiares e assistir a algo violento, este último fator não será, sozinho, o estopim da violência".

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