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08/10/2006 - 08h00

Especialistas descartam dissolução do governo palestino

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ANDREA MURTA
da Folha Online

Se depender da diminuição da tensão que enfrenta hoje no cargo, o mal-estar sentido na última sexta-feira (6) pelo premiê palestino e líder do braço político do Hamas, Ismail Haniyeh, 43, não deverá ser o único [ele desmaiou quando se preparava para falar a milhares de simpatizantes de seu governo].

Desde que derrotou democraticamente o Fatah em eleições ocorridas em janeiro deste ano, o Hamas vê crescer a crise financeira palestina, acirrada pelo boicote de ajuda de governos ocidentais e, principalmente, pela interrupção do repasse de valores arrecadados em impostos por parte de Israel, o que que leva à míngua a infra-estrutura dos territórios palestinos [já bastante deteriorada ] e desencadeia confrontos devido ao atraso de salários de 130 mil funcionários.

Na última semana, 12 palestinos morreram e mais de cem se feriram durante enfrentamentos entre Hamas e Fatah [partidos políticos apoiados por braços armados].

Especialistas ouvidos pela Folha Online divergem quanto à possibilidade de um acordo a curto prazo que minimize a tensão em Gaza. Para Salem Nasser, 37, doutor em direito internacional pela USP (Universidade de São Paulo) e professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), os dois partidos devem encontrar um equilíbrio já nos próximos dias. "Ambos são muito presentes na sociedade palestina, então não há como fazer um deles desaparecer. A única saída é encontrar o equilíbrio, seja ele mais ou menos satisfatório", afirma.

Já Samuel Feldberg, 50, cientista político e professor do curso de relações internacionais da USP, não vê conciliação entre os partidos num horizonte próximo. "Mesmo que haja um acordo, isso vai depender da abertura do Hamas para mudar sua posição, o que não parece perto de acontecer", disse, em referência à negativa do partido em reconhecer Israel. O governo israelense também não reconhece o governo do Hamas e se nega a negociar com seus dirigentes.

Na última quarta-feira (4), o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas [ligado ao Fatah], deu mostras de que pretende "forçar um acordo", quando ameaçou dissolver o Parlamento e destituir Haniyeh caso não seja alcançado um entendimento para um governo de coalizão.

Os dois pesquisadores, no entanto, concordam que dificilmente uma atitude radical como a dissolução do Parlamento será tomada. Apesar de Abbas ter, juridicamente, poder para tal, Feldberg e Nasser afirmam que seria um grande risco para o Fatah convocar novas eleições -- passo natural após uma dissolução-- pois é grande a chance de uma nova derrota nas urnas.

Violência

A violência entre os dois grupos não surpreende os analistas. Feldberg avalia que que toda a estrutura governamental palestina está baseada em forças de segurança e a queda do Fatah levou a uma situação que fomenta a violência.

"As forças armadas que estavam sob o controle da ANP e foram criadas pelo Fatah se tornaram 'bandos armados'. Sem remuneração e sem a legitimidade de trabalhar para um governo eleito, a violência se torna solução para o grupo tentar reverter o quadro", diz.

Para Nasser, a perda de poder do Fatah agrava o que já era complicado. "Os dois [Hamas e Fatah] têm sua parcela de legitimidade política; os dois tem grupos armados. O conflito armado acaba surgindo", afirma.

Bloqueio

Apesar de depositarem no bloqueio econômico sofrido pelo governo palestino grande parcela da culpa pelo conflito atual, os pesquisadores têm posições muito diferentes sobre os efeitos da liberação dos recursos.

Nasser afirma categoricamente que o fim do embargo minimizaria o confronto entre os partidos. "Uma boa parte do dinheiro que movimenta a sociedade palestina e dá algum respiro são os salários da ANP, que não estão entrando. Isso é uma receita infalível para a intranqüilidade social", diz, acrescentando que o bloqueio é uma tentativa declarada de sufocar o Hamas por parte das potências ocidentais.

Feldberg vai em outra direção. Para ele, apesar de aliviar a situação da população, o dinheiro não resolveria a disputa entre Hamas e Fatah. "Poderia haver uma intensificação da luta a partir da disputa pelos recursos entre os dois partidos."

Confrontado com a crise entre Fatah e Hamas, o premiê de Israel, Ehud Olmert, considerou retroceder no acordo de novembro de 2005, pelo qual o Exército cedeu o controle da passagem fronteiriça de Rafah, entre Gaza e Egito, ao governo palestino.

Na última quinta-feira (5), o chefe do Serviço de Segurança Geral de Israel (Shin Bet), Yuval Diskin, disse que as facções palestinas contrabandearam do Egito para Gaza 20 toneladas de explosivos. Segundo fontes militares israelenses, o Hamas está transformando sua milícia em Gaza num verdadeiro "exército", que já conta com 7.500 homens.

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