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11/10/2000
-
09h08
NELSON DE SÁ, editor da ilustrada
da Folha de S.Paulo
Na sequência do primeiro debate entre Al Gore e George W. Bush, a C-Span -a TV Senado norte-americana- apresentou o histórico debate entre John Kennedy e Richard Nixon, em 1960. A TV paga brasileira mostrou.
Pouca coisa mudou, em 40 anos, e foi para pior. O formato do "quiz show", de programas como "Show do Milhão", se mantém, apesar dos esforços de variação, feitos para recuperar audiência - este ano, prevista para chegar à casa dos 90 milhões, como no debate Clinton-Bush-Perot, há oito anos, ela ficou em 46 milhões.
Entre os formatos alternativos que vêm sendo buscados nos EUA, o mais recorrente é o do "town hall meeting", do "encontro da comunidade", em que candidatos respondem a grupos de cidadãos, como numa assembléia, com um mediador.
Mas o predomínio é ainda do "quiz show", com perguntas pontuais e pouquíssimo tempo para resposta. Em 40 anos, a publicidade dominou esse "quiz show" político, fazendo com que os debates sejam pouco além de um amontoado de frases feitas, criadas por equipes de redatores e testadas em pesquisas qualitativas.
Foi assim no debate de Gore e Bush, com o primeiro repetindo dez vezes a expressão "o 1% mais rico", que seriam os favorecidos por plano de Bush; e com o segundo batendo na estratégia de independência, chamada pelos marqueteiros de "triangulação", falando nove vezes em unir "republicanos e democratas". Além da dramaturgia o mais delineada possível, os dois foram dirigidos, maquiados etc. como atores.
É significativo que o único "erro" de monta, o único momento de espontaneidade, ou seja, os ruídos e caretas de desaprovação de Gore quando Bush falava, tenha sido efeito de equívoco da organização. Foi o que Gore disse à TV CNN, afirmando que as regras garantiam que, quando um falasse, o outro estaria fora do ar.
Diante da precisão do teatro eleitoral Gore-Bush, o debate de 60 surgiu na TV com o que pareciam dois políticos ingênuos. Kennedy e Nixon não se recusaram a críticas diretas um ao outro, o que as pesquisas qualitativas ultimamente desaconselham, por soar como ataques pessoais. Mas está tudo lá, embrionário.
Nixon perdeu o debate e, supõe-se, a eleição daquele ano por equívocos cênicos que candidato nenhum mais comete. A falta de maquiagem e a iluminação inadequada tornaram o republicano, nas imagens de 40 anos atrás, uma figura abatida, com a barba por fazer -na realidade, descobriu-se depois, o problema era a luz, que penetrava a pele.
Gore, este ano, sabedor de seu problema não muito diverso do de Nixon -o suor excessivo-, arrancou da organização que o estúdio seria mantido sempre na temperatura de 18. Qual é a importância disso para a escolha de um presidente? Nenhuma.
Leia mais no especial Eleições nos EUA.
Marqueteiros dominaram 1º debate à Presidência dos EUA
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da Folha de S.Paulo
Na sequência do primeiro debate entre Al Gore e George W. Bush, a C-Span -a TV Senado norte-americana- apresentou o histórico debate entre John Kennedy e Richard Nixon, em 1960. A TV paga brasileira mostrou.
Pouca coisa mudou, em 40 anos, e foi para pior. O formato do "quiz show", de programas como "Show do Milhão", se mantém, apesar dos esforços de variação, feitos para recuperar audiência - este ano, prevista para chegar à casa dos 90 milhões, como no debate Clinton-Bush-Perot, há oito anos, ela ficou em 46 milhões.
Entre os formatos alternativos que vêm sendo buscados nos EUA, o mais recorrente é o do "town hall meeting", do "encontro da comunidade", em que candidatos respondem a grupos de cidadãos, como numa assembléia, com um mediador.
Mas o predomínio é ainda do "quiz show", com perguntas pontuais e pouquíssimo tempo para resposta. Em 40 anos, a publicidade dominou esse "quiz show" político, fazendo com que os debates sejam pouco além de um amontoado de frases feitas, criadas por equipes de redatores e testadas em pesquisas qualitativas.
Foi assim no debate de Gore e Bush, com o primeiro repetindo dez vezes a expressão "o 1% mais rico", que seriam os favorecidos por plano de Bush; e com o segundo batendo na estratégia de independência, chamada pelos marqueteiros de "triangulação", falando nove vezes em unir "republicanos e democratas". Além da dramaturgia o mais delineada possível, os dois foram dirigidos, maquiados etc. como atores.
É significativo que o único "erro" de monta, o único momento de espontaneidade, ou seja, os ruídos e caretas de desaprovação de Gore quando Bush falava, tenha sido efeito de equívoco da organização. Foi o que Gore disse à TV CNN, afirmando que as regras garantiam que, quando um falasse, o outro estaria fora do ar.
Diante da precisão do teatro eleitoral Gore-Bush, o debate de 60 surgiu na TV com o que pareciam dois políticos ingênuos. Kennedy e Nixon não se recusaram a críticas diretas um ao outro, o que as pesquisas qualitativas ultimamente desaconselham, por soar como ataques pessoais. Mas está tudo lá, embrionário.
Nixon perdeu o debate e, supõe-se, a eleição daquele ano por equívocos cênicos que candidato nenhum mais comete. A falta de maquiagem e a iluminação inadequada tornaram o republicano, nas imagens de 40 anos atrás, uma figura abatida, com a barba por fazer -na realidade, descobriu-se depois, o problema era a luz, que penetrava a pele.
Gore, este ano, sabedor de seu problema não muito diverso do de Nixon -o suor excessivo-, arrancou da organização que o estúdio seria mantido sempre na temperatura de 18. Qual é a importância disso para a escolha de um presidente? Nenhuma.
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