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21/11/2006 - 16h36

Especialista italiano admite ter jantado com ex-espião envenenado

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da Folha Online

Um especialista em segurança italiano confirmou nesta terça-feira ter jantado com um ex-espião russo em Londres logo antes de sua internação com sintomas de envenenamento. A polícia britânica e os médicos suspeitam que o ex-espião, feroz crítico do Kremlim, tenha sido envenenado por algum metal tóxico.

O especialista, Mario Scaramella, disse a jornalistas durante uma entrevista coletiva em Roma que se encontrou com o coronel Alexander Litvinenko, ex-oficial da KGB e do Serviço de Segurança Nacional russo, em um restaurante de sushi na tarde do dia 1º de novembro. Horas mais tarde, o russo foi internado.

Reuters
O italiano Mario Scaramella admitiu hoje ter almoçado com o ex-espião russo envenenado
O italiano Mario Scaramella admitiu hoje ter almoçado com o ex-espião russo envenenado
Segundo Scaramella, os dois se reuniram para discutir informações sobre o assassinato da jornalista investigativa russa Anna Politkovskaya, que foi morta por atiradores em 7 de outubro.

Scaramella afirmou que recebeu e-mails de uma fonte confidencial identificando um grupo de São Petersburgo como responsável pelo assassinato da jornalista.

O grupo teria ainda uma lista de alvos potenciais que inclui o próprio especialista italiano, o ex-espião russo e o senador italiano Paolo Guzzanti, que presidia uma comissão parlamentar para examinar a infiltração da KGB na Itália.

O especialista disse não acreditar na informação sobre o grupo, mas afirmou que o encontro com o ex-espião o ajudaria a clarificar a questão. Litvinenko foi um dos contatos de Scaramella quando ele trabalhava para a comissão italiana sobre a KGB como consultor.

Almoço

Antes de iniciar a conversa com Scaramella, o russo se serviu no buffet do restaurante e tomou uma sopa trazida por um garçom, segundo o especialista. Médicos afirmam que Litvinenko provavelmente ingeriu uma substância tóxica. Scaramella disse que não comeu nada durante o encontro porque este se deu logo após o almoço.

"Ele me pareceu perfeitamente normal no restaurante", disse o italiano.

Atualmente, Litvinenko está internado em uma unidade de terapia intensiva de um hospital em Londres, vítima do que amigos e críticos do Kremlim dizem se tratar de uma tentativa de assassinato do governo da Rússia.

O Kremlim e a agência de segurança russa negam qualquer envolvimento. O senador italiano Paolo Guzzanti, no entanto, disse que essa é uma possibilidade real. "Ele era considerado um traidor", afirmou. Segundo o senador, o ex-espião ajudava rebeldes tchetchenos, o que o tornava ainda mais perigoso para o governo russo.

Envenenamento

Os médicos disseram nesta terça-feira que o ex-espião pode ter sido envenenado com tálio radioativo.

Segundo John Henry, médico do University College Hospital que atendeu Litvinenko, há três possibilidades para o caso: a primeira, de que o ex-espião tenha sido envenenado com o metal tóxico tálio e com uma segunda droga ainda não identificada; a segunda, de que ele foi envenenado com tálio e com um segundo componente radioativo; e a terceira, de que Litvinenko foi envenenado com uma forma radioativa do tálio.

"Hoje, o tálio radioativo é a causa mais provável", afirmou o médico. O tálio é um metal pesado sem cor, sem cheiro e solúvel em água que pode ser fatal mesmo em doses tão pequenas quanto um grama. O tálio radioativo é tão tóxico quanto sua forma não-radioativa, mas acrescenta o risco de câncer a longo prazo.

Se Litvinenko tiver sido realmente envenenado com tálio radioativo, ele pode precisar de um transplante de medula no futuro.

Espionagem

O ex-espião se mudou para o Reino Unido em 2000, quando pediu asilo político no país. Ele se uniu às forças de contra-inteligência da KGB em 1988, e chegou a ser coronel do Serviço de Segurança Nacional da Rússia.

Em 1991, Litvinenko começou a se especializar em terrorismo e crime organizado, e foi transferido para o mais secreto departamento sobre organizações criminosas do serviço de segurança em 1997.

Desde que ele saiu da Rússia em direção ao Reino Unido, há seis anos, o ex-espião é um feroz crítico do Kremlim. Com relação ao assassinato da jornalista Anna Politkovskaya, sobre o qual ele teria discutido no encontro com o especialista italiano, Litvinenko afirmou que o responsável é o presidente da Rússia, Vladimir Putin.

Em 2003, Litvinenko escreveu um livro no qual acusa o serviço secreto da Rússia de estar por trás da explosão de apartamentos em 1999 que mataram mais de 300 pessoas no país em 1999. As explosões foram o estopim da segunda guerra da Tchetchênia.

Um legislador de oposição ao governo russo afirmou ao jornal "Moscow Times" que uma lei aprovada em 2006 na Rússia permite que agentes do país operem no exterior. "Eu não descarto a possibilidade de que nossos rapazes são os responsáveis [pelo envenenamento do ex-espião]", disse o legislador Viktor Ilyukhin, de acordo com o jornal.

A Polícia Metropolitana britânica anunciou ontem que sua unidade de contraterrorismo assumirá a investigação sobre o envenenamento.

Com agências internacionais

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