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23/11/2006
-
14h55
da Folha Online
O funeral do ministro da Indústria Pierre Gemayel, 34 --assassinado a tiros em Beirute há dois dias-- levou centenas de milhares de libaneses às ruas e acabou por se transformar em ato anti-Síria nesta quinta-feira.
Segundo a rede de TV americana CNN, que cita fontes da segurança libanesa, ao menos 200 mil pessoas foram às ruas. Como era esperado, a multidão que participou do funeral transformou o cortejo em uma manifestação contrária à oposição política libanesa, ligada ao grupo islâmico extremista xiita Hizbollah, e à influência da Síria no país.
Os manifestantes queimaram fotos do presidente da Síria, Bashar al Assad, e de líderes libaneses pró-Síria.
Parte dos protestos foi dirigida ao presidente do Líbano, Emile Lahoud, que apóia a Síria, e várias pessoas levavam cartazes pedindo sua saída do governo. Gemayel, assim como o primeiro-ministro libanês, Fouad Siniora, era contrário à influência síria no Líbano.
O presidente não participou do funeral. Ele permaneceu no palácio presidencial, onde a segurança foi reforçada, por temor de que a multidão fosse até lá para exigir sua renúncia.
Hizbollah
Manifestantes também protestaram contra o Hizbollah, que havia convocado outros protestos em um esforço para derrubar Siniora. O grupo xiita, no entanto, cancelou o ato após a morte de Gemayel, e afirmou que não convocará novas mobilizações até que a situação se acalme.
Apesar disso, o Hizbollah acusou a maioria anti-Síria do Parlamento de usar o assassinato de Gemayel para pressionar o governo por seus objetivos políticos.
"Estávamos prestes a sair às ruas", disse Hussein Khalil, conselheiro político do líder do Hizbollah, Hassan Narsrallah. "O governo estava em um grande impasse. Eles precisavam de sangue para servir como um tipo de oxigênio, que daria a eles uma nova vida."
Funeral
Pela manhã, o Exército libanês estava mobilizado na capital, em particular no centro da cidade, para se preparar para o funeral do ministro.
Uma multidão que empunhava bandeiras do Líbano e de partidos cristãos-- entre eles, a do partido Falange, de Gemayel-- lotaram a praça dos Mártires, no centro de Beirute, antes do funeral na Catedral de São Jorge dos Maronitas. Unidades do Exército bloqueavam os acessos à praça.
Na noite de ontem, foram armadas barreiras para proibir a entrada dos carros no centro da cidade, onde pequenos grupos de libaneses começaram a se reunir. O comércio estava fechado e as ruas quase desertas, por causa do luto nacional de três dias decretado pelo governo.
As tropas também estavam presentes em outros bairros da capital. Blindados do Exército estavam posicionados a cada 20 metros na avenida que domina o centro da cidade e que liga o bairro cristão de Achrafieh à zona oeste, de maioria muçulmana, em Beirute.
Crime
Gemayel sofreu um atentado quando um grupo de homens armados abriu fogo contra o comboio que levava o ministro, no bairro cristão de Sin el Fil. Ele foi levado às pressas para um hospital da região, mas não resistiu aos ferimentos e morreu nesta terça-feira (21).
O ministro é o sexto político anti-Síria assassinado nos últimos dois anos. A morte, que foi condenada pela comunidade internacional, deve acirrar ainda mais a tensão entre a maioria anti-Síria e a oposição que apóia Damasco.
Político em ascensão, Gemayel foi eleito para o Parlamento em 2005 e era o mais jovem legislador da casa. Ele vinha de uma família com tradição política. Seu pai, Amin, foi presidente libanês entre 1982 e 1988.
Saad al Hariri, filho do ex-primeiro-ministro assassinado em 2005, Rafik al Hariri, e líder da maioria parlamentar anti-Síria, deu uma entrevista na TV libanesa logo após o anúncio da morte de Gemayel.
Segundo ele, o ministro era "um amigo, um irmão", e "a justiça chegará para aqueles que o mataram".
Tribunal
Ontem, o governo do Líbano pediu à ONU que fornecesse ajuda técnica para encontrar os assassinos do ministro, pedido que foi recebido favoravelmente pelo secretário-geral Kofi Annan.
Na última terça-feira, o Conselho de Segurança (CS) da ONU havia aprovado uma carta que autoriza Annan a completar os preparativos para um tribunal especial que julgará os suspeitos do assassinato de Al Hariri. Devem ser julgados também suspeitos de outros assassinatos políticos desde então.
A lista de mortos contém 14 nomes, a maioria políticos que, como Gemayel, eram contrários à influência síria no Líbano.
Recentemente, seis ministros xiitas pró-Síria que eram contrários à aprovação do tribunal renunciaram ao governo do Líbano. Hassan Nasrallah, do Hizbollah, pediu a seus seguidores que preparem grandes demonstrações populares para derrubar o primeiro-ministro.
Crise política
Após o anúncio da morte de Gemayel, Fouad Siniora foi à TV libanesa para afirmar que seu governo não seria abalado pela violência.
No entanto, o governo de Siniora já enfrenta uma grave crise. Com a morte de Gemayel e a renúncia dos seis ministros, os atuais ministros do governo podem não ser suficientes para a aprovação de medidas. Para piorar a situação, se Siniora perder mais algum ministro, seu governo cairia automaticamente --ao menos é o que prevêem as normas no Líbano.
Enquanto o governo luta contra a crise interna, externamente as relações libanesas também se tornam cada vez mais tensas. Os aliados políticos do primeiro-ministro --a chamada coalizão do 14 de março-- culpou a Síria pelo assassinato de Gemayel. A coalizão é formada por políticos pró-ocidentais sunitas, drusos e cristãos.
Os EUA sugeriram, em um comunicado, que o assassinato foi planejado pela Síria, em um plano com o Irã para desestabilizar o Líbano. A Síria nega.
A Casa Branca investiu pesadamente na sobrevivência do governo de Siniora, em uma tentativa de minar a influência iraniana na região.
Com agências internacionais
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Especial
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Funeral de ministro se torna manifestação anti-Síria no Líbano
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O funeral do ministro da Indústria Pierre Gemayel, 34 --assassinado a tiros em Beirute há dois dias-- levou centenas de milhares de libaneses às ruas e acabou por se transformar em ato anti-Síria nesta quinta-feira.
Segundo a rede de TV americana CNN, que cita fontes da segurança libanesa, ao menos 200 mil pessoas foram às ruas. Como era esperado, a multidão que participou do funeral transformou o cortejo em uma manifestação contrária à oposição política libanesa, ligada ao grupo islâmico extremista xiita Hizbollah, e à influência da Síria no país.
Reuters |
Manifestantes queimam cartazes de presidente sírio durante funeral de ministro em Beirute |
Parte dos protestos foi dirigida ao presidente do Líbano, Emile Lahoud, que apóia a Síria, e várias pessoas levavam cartazes pedindo sua saída do governo. Gemayel, assim como o primeiro-ministro libanês, Fouad Siniora, era contrário à influência síria no Líbano.
O presidente não participou do funeral. Ele permaneceu no palácio presidencial, onde a segurança foi reforçada, por temor de que a multidão fosse até lá para exigir sua renúncia.
Hizbollah
Manifestantes também protestaram contra o Hizbollah, que havia convocado outros protestos em um esforço para derrubar Siniora. O grupo xiita, no entanto, cancelou o ato após a morte de Gemayel, e afirmou que não convocará novas mobilizações até que a situação se acalme.
Apesar disso, o Hizbollah acusou a maioria anti-Síria do Parlamento de usar o assassinato de Gemayel para pressionar o governo por seus objetivos políticos.
"Estávamos prestes a sair às ruas", disse Hussein Khalil, conselheiro político do líder do Hizbollah, Hassan Narsrallah. "O governo estava em um grande impasse. Eles precisavam de sangue para servir como um tipo de oxigênio, que daria a eles uma nova vida."
Funeral
Pela manhã, o Exército libanês estava mobilizado na capital, em particular no centro da cidade, para se preparar para o funeral do ministro.
AP |
Libaneses carregam caixão durante funeral de ministro assassinado a tiros em Beirute |
Na noite de ontem, foram armadas barreiras para proibir a entrada dos carros no centro da cidade, onde pequenos grupos de libaneses começaram a se reunir. O comércio estava fechado e as ruas quase desertas, por causa do luto nacional de três dias decretado pelo governo.
As tropas também estavam presentes em outros bairros da capital. Blindados do Exército estavam posicionados a cada 20 metros na avenida que domina o centro da cidade e que liga o bairro cristão de Achrafieh à zona oeste, de maioria muçulmana, em Beirute.
Crime
Gemayel sofreu um atentado quando um grupo de homens armados abriu fogo contra o comboio que levava o ministro, no bairro cristão de Sin el Fil. Ele foi levado às pressas para um hospital da região, mas não resistiu aos ferimentos e morreu nesta terça-feira (21).
O ministro é o sexto político anti-Síria assassinado nos últimos dois anos. A morte, que foi condenada pela comunidade internacional, deve acirrar ainda mais a tensão entre a maioria anti-Síria e a oposição que apóia Damasco.
AP |
Ministro libanês e líder cristão Pierre Gemayel, morto em atentado |
Saad al Hariri, filho do ex-primeiro-ministro assassinado em 2005, Rafik al Hariri, e líder da maioria parlamentar anti-Síria, deu uma entrevista na TV libanesa logo após o anúncio da morte de Gemayel.
Segundo ele, o ministro era "um amigo, um irmão", e "a justiça chegará para aqueles que o mataram".
Tribunal
Ontem, o governo do Líbano pediu à ONU que fornecesse ajuda técnica para encontrar os assassinos do ministro, pedido que foi recebido favoravelmente pelo secretário-geral Kofi Annan.
Na última terça-feira, o Conselho de Segurança (CS) da ONU havia aprovado uma carta que autoriza Annan a completar os preparativos para um tribunal especial que julgará os suspeitos do assassinato de Al Hariri. Devem ser julgados também suspeitos de outros assassinatos políticos desde então.
A lista de mortos contém 14 nomes, a maioria políticos que, como Gemayel, eram contrários à influência síria no Líbano.
Recentemente, seis ministros xiitas pró-Síria que eram contrários à aprovação do tribunal renunciaram ao governo do Líbano. Hassan Nasrallah, do Hizbollah, pediu a seus seguidores que preparem grandes demonstrações populares para derrubar o primeiro-ministro.
Crise política
Após o anúncio da morte de Gemayel, Fouad Siniora foi à TV libanesa para afirmar que seu governo não seria abalado pela violência.
No entanto, o governo de Siniora já enfrenta uma grave crise. Com a morte de Gemayel e a renúncia dos seis ministros, os atuais ministros do governo podem não ser suficientes para a aprovação de medidas. Para piorar a situação, se Siniora perder mais algum ministro, seu governo cairia automaticamente --ao menos é o que prevêem as normas no Líbano.
Enquanto o governo luta contra a crise interna, externamente as relações libanesas também se tornam cada vez mais tensas. Os aliados políticos do primeiro-ministro --a chamada coalizão do 14 de março-- culpou a Síria pelo assassinato de Gemayel. A coalizão é formada por políticos pró-ocidentais sunitas, drusos e cristãos.
Os EUA sugeriram, em um comunicado, que o assassinato foi planejado pela Síria, em um plano com o Irã para desestabilizar o Líbano. A Síria nega.
A Casa Branca investiu pesadamente na sobrevivência do governo de Siniora, em uma tentativa de minar a influência iraniana na região.
Com agências internacionais
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