Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
24/11/2006 - 11h07

Ex-espião envenenado deixa carta acusando presidente da Rússia

Publicidade

da Folha Online

O ex-espião russo Alexander Litvinenko, 43, morto ontem após passar mais de 20 dias hospitalizado em decorrência de um suposto envenenamento, deixou uma carta culpando o presidente da Rússia, Vladimir Putin, por sua morte, afirmaram amigos da vítima.

A declaração de Litvinenko foi lida ontem para repórteres do lado de fora do hospital onde ele estava internado, em Londres. Litvinenko acusa Putin de não ter "respeito pela vida, liberdade ou qualquer valor civilizado".

"Você [Putin] demonstrou ser indigno de seu cargo, indigno da confiança de homens e mulheres civilizados", diz o ex-espião no texto.

"Você poderá ser bem-sucedido em silenciar um homem, mas os protestos irão reverberar em todo o mundo", acrescenta.

Alex Goldfarb, amigo de Litvinenko que leu a declaração, disse que o ex-espião ditou o texto antes de perder a consciência, e o assinou na presença de sua mulher, Marina.

Defesa

O governo de Putin nega qualquer envolvimento com a morte do ex-espião. "As alegações contra a Rússia sobre este assunto são uma besteira", disse o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov antes que a declaração fosse divulgada.

"Isso é tão bobo e inacreditável que não merece comentários", disse Peskov em Helsinki (Finlândia), onde Putin participa de um encontro com líderes da União Européia (UE).

"Agora o caso será investigado pelos serviços britânicos, e esperamos que os responsáveis sejam levados à Justiça", acrescentou.

Suspeitas

Litvinenko, um feroz crítico do governo russo, sofreu uma parada cardíaca na noite de ontem após passar vários dias em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva), segundo os médicos do Hospital University College, em Londres. A causa da doença do ex-espião ainda é um mistério.

Andrei Nekrasov, outro amigo de Litvinenko que esteve com o ex-espião pouco antes de ele perder a consciência, também disse que o agente acusou o serviço de inteligência russo de o envenenar.

Segundo amigos próximos, ele trabalhava para desvendar a corrupção dentro do Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB), e para descobrir os assassinos de outra feroz crítica do governo, a jornalista Anna Politkovskaya. Ela foi morta a tiros na frente de sua casa em outubro.

"Ele estava convencido que o assassinato da jornalista foi planejado pelo FSB", disse Nekrasov.

Envenenamento

Litvinenko disse à polícia que acreditava ter sido envenenado no dia 1º de novembro, quando investigava o assassinato da jornalista russa. Seus cabelos caíram, sua garganta ficou inchada e seus sistemas imunológico e nervoso foram seriamente comprometidos.

Efe
Alexander Litvinenko, ex-espião russo internado em Londres
O ex-espião foi transferido de um hospital no norte de Londres para o University College Hospital no dia 17 de novembro, quando sua condição se deteriorou gravemente.

Os médicos que o atenderam não souberam explicar sua rápida piora. Eles desconsideraram as teorias anteriormente divulgadas, de que o ex-espião havia sido envenenado com tálio ou com uma substância radioativa.

O diretor da UTI do hospital, Geoff Bellingan, disse que não se sabe ainda a causa da morte.

A Polícia Metropolitana de Londres confirmou a morte do ex-espião às 21h21 desta quinta-feira (19h21 pelo horário de Brasília).

Segundo a polícia, agentes antiterrorismo investigam a morte.

Perigo para o mundo

"Foi uma morte horrível e ele enfrentou tudo como um homem", disse o pai de Litvinenko, Walter Litvinenko, nesta sexta-feira.

"Este regime [da Rússia] é um perigo mortal para o mundo", acrescentou. Litvinenko estava cercado por seu pai, sua mulher e seu filho de dez anos, Anatoli, quando morreu, disse Nekrasov. Ele tinha três filhos.

Segundo Nekrasov, Litvinenko acreditava ter sido envenenado pelo Kremlin porque havia ameaçado revelar alguns fatos sobre o governo. "A única explicação lógica é a vingança. Eles o consideravam um inimigo (...) era um crítico incansável de Putin, e tinha uma missão de desmascarar o que acreditava serem crimes cometidos por seus ex-colegas", afirmou.

Espionagem

O ex-espião se mudou para o Reino Unido em 2000, quando pediu asilo político no país. Ele se uniu às forças de contra-inteligência da KGB em 1988, e chegou a ser coronel do Serviço de Segurança Nacional da Rússia.

Em 1991, Litvinenko começou a se especializar em terrorismo e crime organizado, e foi transferido para o mais secreto departamento sobre organizações criminosas do serviço de segurança russo em 1997.

Desde que deixou a Rússia, há seis anos, o ex-espião é um feroz crítico do Kremlin. Com relação ao assassinato de Politkovskaya, sobre o qual ele teria discutido com um contato italiano no dia do envenenamento, Litvinenko culpou o presidente da Rússia.

Livro

Em 2003, Litvinenko escreveu um livro no qual acusa o serviço secreto da Rússia de estar por trás da explosão de apartamentos em 1999 que mataram mais de 300 pessoas no país.

As explosões foram o estopim da segunda guerra da Tchetchênia.

Um legislador de oposição ao governo russo afirmou ao jornal "Moscow Times" que uma lei aprovada em 2006 na Rússia permite que agentes do país operem no exterior. "Eu não descarto a possibilidade de que nossos rapazes são os responsáveis [pelo envenenamento do ex-espião]", disse o legislador Viktor Ilyukhin ao jornal.

Com agências internacionais

Leia mais
  • Especialista italiano admite ter jantado com ex-espião envenenado
  • Polícia britânica coloca ex-espião russo envenenado sob vigilância

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a KGB
  • Leia o que já foi publicado sobre o Kremlin
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página