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24/11/2006 - 13h45

Ex-espião russo foi morto com material radioativo, diz Reino Unido

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da Folha Online

A morte do ex-espião russo Alexander Litvinenko, 43, ocorrida nesta quinta-feira em um hospital de Londres, se deveu a um envenenamento com material radioativo, informou a Agência Britânica de Proteção à Saúde nesta sexta-feira.

Segundo o cientista Roger Cox, foram encontrados vestígios de polônio 210 --material altamente radioativo-- em exames de laboratório realizados em amostras de urina de Litvinenko.

De acordo com a diretora da agência, Pat Troop, os exames detectaram uma alta concentração do elemento no organismo do ex-espião, o que indica que ele "inalou, ingeriu ou foi exposto à substância por meio de um ferimento". "Nós apenas sabemos que a dose foi alta", afirmou ela.

Efe
Alexander Litvinenko, ex-espião russo internado em Londres
Segundo Cox, o risco de contaminação da equipe médica que atendeu Litvinenko é "muito pequeno". Ele disse ainda que é cedo para afirmar se há risco público no restaurante em Londres onde Litvinenko jantou antes de passar mal e ser internado, em 1º de novembro.

Litvinenko, um feroz crítico do governo russo, sofreu uma parada cardíaca na noite de ontem após passar vários dias internado na UTI do Hospital University College, em Londres.

Segundo amigos próximos, ele trabalhava para desvendar a corrupção dentro do Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB), e para descobrir os assassinos de outra feroz crítica do governo, a jornalista Anna Politkovskaya. Ela foi morta a tiros na frente de sua casa em outubro.

O ex-espião disse à polícia que acreditava ter sido envenenado no dia 1º de novembro, quando investigava o assassinato da jornalista russa. Seus cabelos caíram, sua garganta ficou inchada e seus sistemas imunológico e nervoso foram seriamente comprometidos.

O ex-espião foi transferido de um hospital no norte de Londres para a UTI do University College Hospital no dia 17 de novembro, quando sua condição se deteriorou gravemente.

Carta

Antes de morrer, Litvinenko deixou uma carta culpando o presidente da Rússia, Vladimir Putin, por seu envenenamento. A declaração foi lida ontem por amigos do ex-espião em Londres.

Na carta, Litvinenko acusa Putin de não ter "respeito pela vida, liberdade ou qualquer valor civilizado".

"Você [Putin] demonstrou ser indigno de seu cargo, indigno da confiança de homens e mulheres civilizados", diz o ex-espião no texto. "Você poderá ser bem-sucedido em silenciar um homem, mas os protestos irão reverberar em todo o mundo", acrescenta.

Alex Goldfarb, amigo de Litvinenko que leu a declaração, disse que o ex-espião ditou o texto antes de perder a consciência, e o assinou na presença de sua mulher, Marina.

Segundo amigos, Litvinenko acreditava ter sido envenenado pelo Kremlin porque havia ameaçado revelar informações confidenciais sobre o governo.

"Foi uma morte horrível. Este regime [da Rússia] é um perigo mortal para o mundo", disse o pai do ex-espião, Walter Litvinenko, nesta sexta-feira. Ele era casado e tinha três filhos.

Rússia

O presidente russo, Vladimir Putin, descreveu a morte de Livtinenko como uma "tragédia", mas afirmou que "não há provas" de que a morte tenha sido violenta, o que seria uma "especulação".

"A morte de um homem é sempre uma tragédia, e eu a lamento", disse Putin, pouco antes do início de uma conferência entre líderes da União Européia (UE).

Segundo Putin, o fato de a carta de Litvinenko ter sido divulgada apenas depois de sua morte mostra que a declaração é uma "provocação". "É lamentável que tal tragédia esteja sendo usada com fins políticos", afirmou o presidente russo.

"Eu acredito que nossos colegas britânicos sabem o tamanho de sua responsabilidade com os seus cidadãos, inclusive os de origem russa, não importa qual seja a sua visão política. Espero que eles não estimulem escândalos políticos sem qualquer embasamento", disse ainda Putin.

O líder russo disse ainda que seu país está "pronto para ajudar" nas investigações do ex-espião da KGB (serviço secreto da ex-União Soviética). "Se necessário, há especialistas russos e promotores capazes de empreender tudo o que for necessário para ajudar na investigação".

Espionagem

O ex-espião se mudou para o Reino Unido em 2000, quando pediu asilo político no país. Ele se uniu às forças de contra-inteligência da KGB em 1988, e chegou a ser coronel do Serviço de Segurança Nacional da Rússia.

Em 1991, Litvinenko começou a se especializar em terrorismo e crime organizado, e foi transferido para o mais secreto departamento sobre organizações criminosas do serviço de segurança russo em 1997.

Desde que deixou a Rússia, há seis anos, o ex-espião é um feroz crítico do Kremlin. Com relação ao assassinato de Politkovskaya, sobre o qual ele teria discutido com um contato italiano no dia do envenenamento, Litvinenko culpou o presidente da Rússia.

Livro

Em 2003, Litvinenko escreveu um livro no qual acusa o serviço secreto da Rússia de estar por trás da explosão de apartamentos em 1999 que matou mais de 300 pessoas no país.

As explosões foram o estopim da segunda guerra da Tchetchênia.

Um legislador de oposição ao governo russo afirmou ao jornal "Moscow Times" que uma lei aprovada em 2006 na Rússia permite que agentes do país operem no exterior. "Eu não descarto a possibilidade de que nossos rapazes são os responsáveis [pelo envenenamento do ex-espião]", disse o legislador Viktor Ilyukhin ao jornal.

Com agências internacionais

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