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04/12/2006 - 10h46

Reeleito com ampla vantagem, Chávez sinaliza virada à esquerda

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da Folha Online
da Associated Press

Fortalecido pela larga vantagem nas urnas, que lhe garantiram a reeleição, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, possui agora todo o capital político que precisa para levar o país mais firmemente em direção a plataformas socialistas de governo. Ao mesmo tempo, a vitória confere ao presidente maior poder para continuar a desafiar a influência dos Estados Unidos na América Latina.

O principal adversário derrotado, Manuel Rosales, aceitou a vitória do presidente na noite de ontem, mas prometeu continuar a fazer oposição a Chávez, que ele acusa de se tornar cada vez mais autoritário.

Ao comemorar sua vitória com um discurso para milhares de apoiadores, Chávez disse que os venezuelanos podem esperar uma "expansão da revolução" para redistribuir a riqueza do petróleo para os mais pobres. "Vida longa à revolução!" gritou Chávez da varanda do palácio presidencial, em Caracas.

"A Venezuela está demonstrando que um mundo novo e melhor é possível, que estamos construindo-o", afirmou o presidente. Com 78% da apuração completada, Chávez alcança 61% dos votos, contra 38% de Rosales.

Apoio entre os pobres

Chávez ganhou um apoio leal entre os mais pobres do país por meio de programas sociais multibilionários, que incluem subsídios para comida, universidades gratuitas e verba assistencial para mães solteiras.

Chávez, que diz ver Fidel Castro com um pai, dedicou sua vitória ao líder cubano em recuperação, e aproveitou a oportunidade para criticar o presidente dos EUA, George W. Bush. "É outra derrota para o 'diabo' [referindo-se a Bush], que tenta dominar o mundo". "Fora com o imperialismo. Precisamos de um novo mundo."

Antes mesmo do final da votação, simpatizantes de Chávez celebravam sua vitória nas ruas, lançando fogos de artifício, buzinando seus carros e usando gritos de guerra em toda a capital do país.

Desde sua primeira vitória para a Presidência da Venezuela, em 1998, Chávez domina cada vez mais o governo, e seus aliados agora controlam também o Congresso e o judiciário.

Reeleição infinita

A lei atual da Venezuela impede Chávez de disputar uma nova eleição em 2012, mas o presidente já afirmou que pretende reformar a constituição para incluir a possibilidade de reeleição ao final de cada mandato, sem intervalos.

Chávez impõe desafios crescentes para os EUA ao mesmo tempo em que consolida sua liderança do bloco dos esquerdistas da América Latina e influencia eleições em toda a região. Adversários tradicionais dos americanos, como o Irã e a Síria, são aliados do venezuelano.

Mesmo assim, os EUA continuam a ser o principal comprador do petróleo da Venezuela. Chávez vem tentando diversificar os compradores tanto na América Latina quanto entre países mais distantes como a China.

O reverendo Jesse Jackson, conhecido líder americano de direitos civis que já se encontrou com Chávez no passado, afirmou em uma entrevista por telefone que espera que o governo Bush aproveite a reeleição do venezuelano para minimizar as tensões com o país latino. "Os EUA e a Venezuela precisam um do outro", afirmou Jackson.

Nas urnas

Resultados parciais divulgados até a noite deste domingo (3) mostram que Chávez tem cerca de 6 milhões de votos, contra os 3,7 milhões de Rosales. A taxa de comparecimento às urnas era superior a 70%, segundo informações oficiais. O voto não é obrigatório na Venezuela.

"Reconhecemos que fomos derrotados", disse Rosales a simpatizantes de sua campanha. "Vamos continuar nossa luta." Alguns apoiadores do oponente choravam, e outros manifestavam sua raiva.

Rosales, um fazendeiro que deve agora retornar para seu posto como governador do rico Estado petrolífero de Zulia, disse que a eleição era uma escolha entre a liberdade e o crescente controle estatal sobre a vida dos cidadãos. Ele também denunciou o aumento de crimes e da corrupção --os pontos mais vulneráveis da campanha do presidente.

Muitos que votaram em Chávez disseram que os programas sociais financiados pelo petróleo estão fazendo uma grande diferença na vida das pessoas. "Estamos aqui para dar apoio a nosso presidente, que nos ajudou tanto", disse o trabalhador Jose Domingo Izaquirre, que recentemente se mudou para uma casa construída pelo governo.

Hugo Chávez

Chávez, 52, é um político marcado pelo tom populista que sobreviveu a diversas crises políticas e a um breve "golpe" promovido pela Confederação dos Trabalhadores da Venezuela (CTV) e pela Fedecámaras [principal associação empresarial do país].

Em sua primeira eleição vitoriosa, em 1998, Chávez venceu com 56,2% dos votos, derrotando os tradicionais partidos políticos venezuelanos. Eleito, Chávez reformou a Constituição, o Congresso e a Justiça, e, sobretudo, irritou Washington várias vezes com o discurso antiimperialista, suas visitas aos governantes da Líbia e ao então ditador iraquiano Saddam Hussein, e sua amizade com Fidel.

Internamente, Chávez tomou medidas polêmicas e enfrentou diversas greves e o acirramento da oposição. Em 2001, decretou uma lei que permitia a expropriação de terras improdutivas acima de 5.000 hectares e outra que aumentava os royalties pagos por empresas estrangeiras pela exploração do petróleo.

Posteriormente, para afastar uma eventual invasão externa, demonstrou sua intenção de aumentar o poder bélico da Venezuela. No ano passado, Chávez comprou 100 mil fuzis Kalashnikov do governo russo e 40 helicópteros blindados, no valor de US$ 174 milhões. Em julho deste ano, a Venezuela firmou com a Rússia um contrato de US$ 1 bilhão para a compra de armas e equipamentos militares.

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