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05/12/2006 - 08h09

Serviço secreto russo envenenou ex-espião, diz "The Times"

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da Folha Online

Os serviços secretos do Reino Unido estão convencidos de que o envenenamento do ex-espião russo Alexander Litvinenko --que morreu no dia 23 de novembro após ser contaminado com uma alta dose de polônio 210, uma substância radioativa-- foi autorizado pelo Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB, antiga KGB). A informação é de uma reportagem publicada nesta terça-feira no jornal britânico "The Times".

Segundo o jornal, que afirma ter entrevistado fontes dos serviços secretos, o FSB orquestrou um "complô altamente sofisticado" e é possível que alguns de seus ex-agentes envenenaram pessoalmente Litvinenko em Londres.

Sabemos como o FSB opera no exterior e, considerando as circunstâncias da morte de Litvinenko, o FSB tem que ser o primeiro suspeito", disse uma fonte de inteligência ao "The Times".

A participação de um ex-agente do serviço secreto russo tornou mais fácil atrair o ex-espião para reuniões em vários locais de Londres, evitando assim que o Kremlin fosse implicado diretamente na trama, explica o jornal. Antes de morrer, Litvinenko assinou uma carta na qual acusa o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de estar por trás de seu envenenamento.

Além disso, os investigadores britânicos acreditam --segundo o "The Times"-- que apenas agentes do FSB poderiam obter uma quantidade considerável do polônio 210.

Espionagem

O "Times" afirma que o serviço de contra-espionagem britânico MI5, assim como o serviço de espionagem, o MI6, trabalham ao lado da Scotland Yard na investigação da morte do ex-espião.

Com agências internacionais

Efe
Alexander Litvinenko, ex-espião russo envenenado em Londres
Uma fonte policial disse ao jornal britânico que o estranho método utilizado para matar Litvinenko tinha a intenção de enviar uma mensagem a seus amigos e aliados.

No dia 1º de novembro, quando foi internado, Litvinenko se reuniu com três russos em um hotel em Londres e posteriormente com Mario Scaramella, um contato italiano, em um restaurante japonês.

Scaramella está atualmente em um hotel em Londres, e exames para detectar uma eventual contaminação por radioatividade no italiano deram resultado positivo.

Nove detetives da Scotland Yard estão hoje em Moscou para entrevistar várias pessoas na investigação sobre a morte de Litvinenko.

Chantagem

Em outra denúncia, publicada há poucos dias, o jornal "The Observer" afirma que Litvinenko, 43, pretendia arrecadar dezenas de milhares de libras por meio de chantagem a espiões e empresários russos.

De acordo com o jornal, a revelação foi feita pela acadêmica russa Julia Svetlichnaja, que se reuniu em várias ocasiões com Litvinenko neste ano, de quem recebeu mais de cem e-mails.

Segundo o "Observer", Svetlichnaja revelou que o ex-espião possuía documentos do FSB. Ele teria convidado Svetlichnaja, que mora em Londres, a entrar em um negócio para "ganhar dinheiro". Litvinenko também entregou à acadêmica algumas fotos. Em uma delas, o ex-espião aparece ao lado da jornalista russa Anna Politkovskaya, assassinada em outubro em Moscou.

"Ele me disse que iria chantagear ou vender informações confidenciais a respeito de pessoas poderosas na Rússia, incluindo oligarcas, autoridades corruptas e fontes no Kremlin", afirmou Svetlichnaja, que estuda política na Universidade de Westminster. "Ele estava sem dinheiro, e mencionou que pediria 10 mil libras a cada um para que não divulgasse documentos do FSB."

Svetlichnaja entrevistou Litvinenko no ano passado para escrever um livro sobre a Tchetchênia.

O "Observer" informa ainda que agentes da Scotland Yard envolvidos na investigação da morte do ex-espião viajaram a Washington para interrogar o ex-agente da KGB Yuri Shvets. Ele era um contato do italiano Mario Scaramella, que esteve com Litvinenko em um restaurante do centro de Londres em 1º de novembro.

Segundo o jornal britânico, Shvets afirmou na semana passada, antes de ser interrogado por agentes da Scotland Yard e do FBI [polícia federal americana] que tinha idéia do que pode ter acontecido a Litvinenko. Shvets, que mora na Virgínia, não teria fornecido mais detalhes.

Dossiê

No entanto, um empresário associado a Shvets, que falou a um terceiro jornal britânico, o "Guardian", em condição de anonimato, afirmou que Litvinenko revelou, semanas antes de sua morte, que possuía um dossiê com denúncias sobre as relações entre o Kremlin e a companhia de petróleo Yukos.

A empresa é de propriedade do oligarca russo Mikhail Khordorkovsky, que cumpre pena de sete ano de prisão na Rússia por evasão de divisas. Seus partidários afirmam que sua condenação foi fruto de um "complô" orquestrado pelo Kremlin.

O suposto acesso do ex-espião a documentos secretos envolvendo o Kremlin e a Yukos faria de Litvinenko um inimigo tanto do governo russo quanto da companhia de petróleo.

Nesta semana, a Scotland Yard deve interrogar dois russos: Andrei Lugovoy, ex-agente do FSB, e Dmitry Kovtun. Ambos encontraram Litvinenko no Hotel Millennium Mayfair no mesmo dia em que ele almoçou com Scaramella e passou a sentir-se mal.

Traços de polônio foram encontrados nos aviões em que ambos viajaram de Londres a Moscou.

Contaminação

No total, três aviões da empresa aérea British Airways testaram positivo para contaminação por polônio 210, desencadeando uma onda de medo em passageiros em Londres.

O Reino Unido, porém, descartou nesta semana o risco para a saúde dos passageiros dos vôos. "Os três aviões foram examinados. O nível de polônio não representa nenhum risco", informou uma porta-voz da Agência Britânica de Saúde Pública (HPA, na sigla em inglês).

Uma porta-voz da companhia confirmou que não há riscos e informou que dois dos aparelhos que já haviam recebido a autorização da Autoridade de Aviação Civil britânica (Civil Aviation Authority, CAA) para retomar os vôos.

"Com um pouco de sorte, isto deveria ocorrer neste final de semana", informou, explicando que o terceiro avião está à espera da decisão da CAA. "No que diz respeito à British Airways, a investigação (da polícia) está concentrada unicamente nestes três 767", acrescentou.

Trinta e três mil passageiros e três mil tripulantes pegaram algum dos 221 vôos realizados por estes aviões em toda a Europa durante as semanas em que foi feita a investigação policial.

Em toda a cidade de Londres, investigadores encontraram traços de radioatividade em 12 dentre 24 locais examinados.

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