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05/12/2006
-
15h37
da Folha Online
A Rússia se recusará a extraditar suspeitos pela morte do ex-espião Alexander Litvinenko, 43 --envenenado com polônio radioativo-- para o Reino Unido, informou Procuradoria Geral russa.
Segundo o procurador-geral, Yuri Chaika, investigadores britânicos começaram a investigar o assassinato em 23 de novembro. A equipe chegou a Moscou um dia antes, como parte dos trabalhos. Antes de morrer, em Londres, o ex-espião acusou Putin por seu envenenamento.
O Kremlin negou envolvimento no crime, e oficiais russos se comprometeram a dar à polícia britânica todo a ajuda necessária para a realização dos inquéritos. No entanto, de acordo com Chaika, nenhum suspeito foi extraditado para o Reino Unido.
"Se eles quiserem prendê-los, será impossível, porque eles são cidadãos russos, e a Constituição russa não permite", afirmou o procurador-geral.
Não ficou claro se a polícia britânica poderá interrogar o ex-agente russo Andrei Lugovoi, que se encontrou com Litvinenko em Londres em 1º de novembro, quando ele passou mal.
Ontem, autoridades russas descartaram a possibilidade de uma reunião entre autoridades britânicas e o ex-agente russo Mikhail Trepashkin, segundo a agência de notícias Interfax.
No dia 1º de novembro, quando foi internado, Litvinenko se reuniu com três russos em um hotel em Londres e posteriormente com Mario Scaramella, um contato italiano, em um restaurante japonês. Scaramella está atualmente hospitalizado em Londres, depois que exames para detectar uma eventual contaminação por radioatividade no italiano deram resultado positivo.
Hoje, Scaramella, afirmou em entrevista publicada no jornal italiano "La Repubblica", que passou ao Parlamento 'tudo o que sabe' sobre Litvinenko. Scaramella negou ainda que possua informações sobre o assassinato da jornalista russa Anna Politkovskaya, ocorrida em Moscou.
Acusação
Nesta terça-feira, o jornal britânico "Times" informou que os serviços secretos do Reino Unido estão convencidos de que o envenenamento de Litvinenko foi autorizado pelo Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB, antiga KGB).
Segundo o jornal, o FSB orquestrou um "complô altamente sofisticado" e é possível que alguns de seus ex-agentes envenenaram pessoalmente Litvinenko em Londres. De acordo com o "Times", apenas agentes do FSB poderiam obter uma quantidade considerável do polônio 210.
Uma fonte policial disse ao jornal britânico que o estranho método utilizado para matar Litvinenko tinha a intenção de enviar uma mensagem a seus amigos e aliados.
Visita
Nove detetives da Scotland Yard estão em Moscou e planejam entrevistar uma série de testemunhas no inquérito, incluindo aqueles que encontraram Litvinenko em 1º de novembro.
O Ministério das Relações Exteriores informou que a equipe planeja visitar a Embaixada britânica em Moscou, mas não confirmou que estejam investigando o caso do ex-espião.
A visita seria uma medida de precaução, segundo o Ministério.
No entanto, o ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, alertou ontem que as sucessivas sugestões de que o governo russo esteja envolvido no crime pode ser "prejudicial" para as relações diplomáticas entre Londres e Moscou.
Chantagem
Em outra denúncia, publicada há poucos dias, o jornal 'The Observer' afirma que Litvinenko, 43, pretendia arrecadar dezenas de milhares de libras por meio de chantagem a espiões e empresários russos.
De acordo com o jornal, a revelação foi feita pela acadêmica russa Julia Svetlichnaja, que se reuniu em várias ocasiões com Litvinenko neste ano, de quem recebeu mais de cem e-mails.
Segundo o "Observer", Svetlichnaja revelou que o ex-espião possuía documentos do FSB. Ele teria convidado Svetlichnaja, que mora em Londres, a entrar em um negócio para "ganhar dinheiro". Litvinenko também entregou à acadêmica algumas fotos. Em uma delas, o ex-espião aparece ao lado da jornalista russa Anna Politkovskaya, assassinada em outubro em Moscou.
O "Observer" informa ainda que agentes da Scotland Yard envolvidos na investigação da morte do ex-espião viajaram a Washington para interrogar o ex-agente da KGB Yuri Shvets. Ele era um contato do italiano Mario Scaramella, que esteve com Litvinenko em um restaurante do centro de Londres em 1º de novembro.
Segundo o jornal britânico, Shvets afirmou na semana passada, antes de ser interrogado por agentes da Scotland Yard e do FBI [polícia federal americana] que tinha idéia do que pode ter acontecido a Litvinenko. Shvets, que mora na Virgínia, não teria fornecido mais detalhes.
Dossiê
No entanto, um empresário associado a Shvets, que falou a um terceiro jornal britânico, o "Guardian", em condição de anonimato, afirmou que Litvinenko revelou, semanas antes de sua morte, que possuía um dossiê com denúncias sobre as relações entre o Kremlin e a companhia de petróleo Yukos.
A empresa é de propriedade do oligarca russo Mikhail Khordorkovsky, que cumpre pena de sete ano de prisão na Rússia por evasão de divisas. Seus partidários afirmam que sua condenação foi fruto de um "complô" orquestrado pelo Kremlin.
O suposto acesso do ex-espião a documentos secretos envolvendo o Kremlin e a Yukos faria de Litvinenko um inimigo tanto do governo russo quanto da companhia de petróleo.
Contaminação
No total, três aviões da empresa aérea British Airways testaram positivo para contaminação por polônio 210, desencadeando uma onda de medo em passageiros em Londres.
O Reino Unido, porém, descartou nesta semana o risco para a saúde dos passageiros dos vôos. "Os três aviões foram examinados. O nível de polônio não representa nenhum risco", informou uma porta-voz da Agência Britânica de Saúde Pública (HPA, na sigla em inglês).
Trinta e três mil passageiros e três mil tripulantes pegaram algum dos 221 vôos realizados por estes aviões em toda a Europa durante as semanas em que foi feita a investigação policial.
Em toda a cidade de Londres, investigadores encontraram traços de radioatividade em 12 dentre 24 locais examinados.
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A Rússia se recusará a extraditar suspeitos pela morte do ex-espião Alexander Litvinenko, 43 --envenenado com polônio radioativo-- para o Reino Unido, informou Procuradoria Geral russa.
Segundo o procurador-geral, Yuri Chaika, investigadores britânicos começaram a investigar o assassinato em 23 de novembro. A equipe chegou a Moscou um dia antes, como parte dos trabalhos. Antes de morrer, em Londres, o ex-espião acusou Putin por seu envenenamento.
O Kremlin negou envolvimento no crime, e oficiais russos se comprometeram a dar à polícia britânica todo a ajuda necessária para a realização dos inquéritos. No entanto, de acordo com Chaika, nenhum suspeito foi extraditado para o Reino Unido.
"Se eles quiserem prendê-los, será impossível, porque eles são cidadãos russos, e a Constituição russa não permite", afirmou o procurador-geral.
Efe |
Alexander Litvinenko, ex-espião russo envenenado em Londres |
Ontem, autoridades russas descartaram a possibilidade de uma reunião entre autoridades britânicas e o ex-agente russo Mikhail Trepashkin, segundo a agência de notícias Interfax.
No dia 1º de novembro, quando foi internado, Litvinenko se reuniu com três russos em um hotel em Londres e posteriormente com Mario Scaramella, um contato italiano, em um restaurante japonês. Scaramella está atualmente hospitalizado em Londres, depois que exames para detectar uma eventual contaminação por radioatividade no italiano deram resultado positivo.
Hoje, Scaramella, afirmou em entrevista publicada no jornal italiano "La Repubblica", que passou ao Parlamento 'tudo o que sabe' sobre Litvinenko. Scaramella negou ainda que possua informações sobre o assassinato da jornalista russa Anna Politkovskaya, ocorrida em Moscou.
Acusação
Nesta terça-feira, o jornal britânico "Times" informou que os serviços secretos do Reino Unido estão convencidos de que o envenenamento de Litvinenko foi autorizado pelo Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB, antiga KGB).
Segundo o jornal, o FSB orquestrou um "complô altamente sofisticado" e é possível que alguns de seus ex-agentes envenenaram pessoalmente Litvinenko em Londres. De acordo com o "Times", apenas agentes do FSB poderiam obter uma quantidade considerável do polônio 210.
Uma fonte policial disse ao jornal britânico que o estranho método utilizado para matar Litvinenko tinha a intenção de enviar uma mensagem a seus amigos e aliados.
Visita
Nove detetives da Scotland Yard estão em Moscou e planejam entrevistar uma série de testemunhas no inquérito, incluindo aqueles que encontraram Litvinenko em 1º de novembro.
O Ministério das Relações Exteriores informou que a equipe planeja visitar a Embaixada britânica em Moscou, mas não confirmou que estejam investigando o caso do ex-espião.
A visita seria uma medida de precaução, segundo o Ministério.
No entanto, o ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, alertou ontem que as sucessivas sugestões de que o governo russo esteja envolvido no crime pode ser "prejudicial" para as relações diplomáticas entre Londres e Moscou.
Chantagem
Em outra denúncia, publicada há poucos dias, o jornal 'The Observer' afirma que Litvinenko, 43, pretendia arrecadar dezenas de milhares de libras por meio de chantagem a espiões e empresários russos.
De acordo com o jornal, a revelação foi feita pela acadêmica russa Julia Svetlichnaja, que se reuniu em várias ocasiões com Litvinenko neste ano, de quem recebeu mais de cem e-mails.
Segundo o "Observer", Svetlichnaja revelou que o ex-espião possuía documentos do FSB. Ele teria convidado Svetlichnaja, que mora em Londres, a entrar em um negócio para "ganhar dinheiro". Litvinenko também entregou à acadêmica algumas fotos. Em uma delas, o ex-espião aparece ao lado da jornalista russa Anna Politkovskaya, assassinada em outubro em Moscou.
O "Observer" informa ainda que agentes da Scotland Yard envolvidos na investigação da morte do ex-espião viajaram a Washington para interrogar o ex-agente da KGB Yuri Shvets. Ele era um contato do italiano Mario Scaramella, que esteve com Litvinenko em um restaurante do centro de Londres em 1º de novembro.
Segundo o jornal britânico, Shvets afirmou na semana passada, antes de ser interrogado por agentes da Scotland Yard e do FBI [polícia federal americana] que tinha idéia do que pode ter acontecido a Litvinenko. Shvets, que mora na Virgínia, não teria fornecido mais detalhes.
Dossiê
No entanto, um empresário associado a Shvets, que falou a um terceiro jornal britânico, o "Guardian", em condição de anonimato, afirmou que Litvinenko revelou, semanas antes de sua morte, que possuía um dossiê com denúncias sobre as relações entre o Kremlin e a companhia de petróleo Yukos.
A empresa é de propriedade do oligarca russo Mikhail Khordorkovsky, que cumpre pena de sete ano de prisão na Rússia por evasão de divisas. Seus partidários afirmam que sua condenação foi fruto de um "complô" orquestrado pelo Kremlin.
O suposto acesso do ex-espião a documentos secretos envolvendo o Kremlin e a Yukos faria de Litvinenko um inimigo tanto do governo russo quanto da companhia de petróleo.
Contaminação
No total, três aviões da empresa aérea British Airways testaram positivo para contaminação por polônio 210, desencadeando uma onda de medo em passageiros em Londres.
O Reino Unido, porém, descartou nesta semana o risco para a saúde dos passageiros dos vôos. "Os três aviões foram examinados. O nível de polônio não representa nenhum risco", informou uma porta-voz da Agência Britânica de Saúde Pública (HPA, na sigla em inglês).
Trinta e três mil passageiros e três mil tripulantes pegaram algum dos 221 vôos realizados por estes aviões em toda a Europa durante as semanas em que foi feita a investigação policial.
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