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05/12/2006 - 17h55

Análise: América Latina vira à esquerda, mas sem imitar Chávez

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FRANÇOISE KADRI
da France Presse, em Montevidéu

O ano eleitoral de 2006 confirmou a guinada à esquerda da América Latina e seu desejo de se liberar da hegemonia americana, mas a maioria dos países querem aplicar seu próprio modelo sem imitar o venezuelano Hugo Chávez.

A esquerda chegou ao poder na Bolívia com Evo Morales, no Chile com Michelle Bachelet, foi confirmada no Brasil com a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva e voltou à Nicarágua com o sandinista Daniel Ortega e ao Equador com o economista "humanista" Rafael Correa.

É preciso acrescentar a estes nomes os do peronista de esquerda Nestor Kirchner na Argentina e do social-democrata Tabaré Vázquez no Uruguai. Assim, a direita latino-americana fica representada apenas na Colômbia com Alvaro Uribe, e no México, com Felipe Calderon.

A última eleição do ano, em 3 de dezembro, consagrou Hugo Chávez com mais de 61% dos votos venezuelanos, o que o incentivará a seguir adiante com sua revolução "bolivariana" e o "socialismo do século 21".

No entanto, além de suas retórica contra o "império" americano ou o "diabo" George W. Bush, os contornos ideológicos de seu projeto ainda estão mal definidos.

"O socialismo [à venezuelana] deve aproveitar o melhor das experiências socialistas conhecidas e deixar o resto de lado", disse o vice-ministro das Relações Exteriores Vladimir Villegas.

Os analistas notam que Chávez também sabe ser pragmático: ele nunca deixou de enviar petróleo aos Estados Unidos, seu principal cliente. Ele também fez concessões sobre uma reforma agrária apresentada inicialmente como uma "guerra contra os latifundiários".

No âmbito internacional, seu carisma mostrou seus limites em novembro quando, após meses de viagem que o levaram até a África e a Ásia, ele fracassou ao tentar juntar os votos necessários para conseguir uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU.

A próximidade que ele ostenta com regimes polêmicos, como o Irã, perturbam até mesmo seus aliados, como Kirchner, em um momento em que a justiça argentina acaba de acusar Teerã de estar por trás de um atentado cometido em 1994 contra uma associação judaica em Buenos Aires.

Até Rafael Correa, o novo presidente equatoriano que prometeu renegociar os contratos petroleiros e a dívida externa, rejeita o qualificativo de "nova versão" de Chávez.

Outra decepção para o presidente venezuelano: assim que foi eleito, seu amigo Daniel Ortega, ex-guerrilheiro marxista e beneficiário dos generosos envios venezuelanos de petróleo, estendeu a mão aos Estados Unidos garantindo a manutenção do tratado de livre-comércio entre Manágua e Washington.

Entretanto, de um modo geral, a América Latina quer ser mais independente de Washington e dos organismos internacionais: Brasil, Argentina e Uruguai quitaram suas dívidas com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para acabar com as imposições da instituição em matéria de privatizações.

Porém, cada nação busca seu próprio caminho. Assim, Michelle Bachelet não nega os benefícios do "milagre econômico chileno" (abertura aos investimentos e tratados de livre-comércio), mas quer ampliar o acesso à saúde e à educação, privatizadas pelo ex-ditador Augusto Pinochet.

Da mesma forma, Lula deve lidar com acusações de traição por defender o emprego e os pobres jugulando a inflação.

O escritor peruano Mario Vargas Llosa elogiava recentemente uma esquerda latino-americana "responsável e pragmática", citando como exemplos Brasil, Chile e Uruguai. Porém, ele alertou contra uma "ressurgência do populismo", dizendo-se "muito preocupado" com Venezuela e Bolívia.

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