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12/12/2006 - 08h36

Corpo de Pinochet será cremado hoje em cerimônia militar

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PAULINA ABRAMOVICH
da France Presse

Os restos mortais do ditador chileno Augusto Pinochet descansaram nesta segunda-feira na Escola Militar de Santiago à espera de seu funeral nesta terça-feira, sem honras de Estado e no mais estrito protocolo militar, em um país dividido acerca de seu legado.

Um dia depois de sua morte, centenas de chilenos fizeram fila nesta segunda para conseguir ver o caixão, com o corpo do ditador em traje militar cinza, correspondente ao grau de capitão-general do Exército chileno, uma patente que apenas ele e o libertador Bernardo O'Higgins ostentam.

De lado, foram colocados dois círios e uma guarda de honra com cadetes que cuidarão do corpo de Pinochet até o momento de seu funeral, previsto para as 11h de amanhã (12h de Brasília), com uma última missa a ser realizada no pátio Alpatacal da Escola Militar, informou o Exército.

Pinochet receberá todas as honras militares, mas seu funeral não terá caráter de uma cerimônia de Estado, nem será motivo de luto nacional, de acordo com decisão tomada pela presidente Michelle Bachelet, que faz parte dos 28.000 chilenos torturados durante a ditadura (1973-1990).
Bachelet deu a entender que não autorizou um funeral com honras de Estado para o ditador Augusto Pinochet, porque pensou "no país".

"Quando não existem normas, leis previstas para determinadas situações, nós, os líderes, os governantes, temos de tomar decisões pensando no país", afirmou.

Os restos mortais do ditador serão trasladados de helicóptero até o crematório do Cemitério Parque del Recuerdo. Depois, as cinzas serão entregues a sua família, que provavelmente as levará para sua fazenda de descanso de Los Boldos, na costa central chilena, o lugar de veraneio preferido de Pinochet.

O Exército não especificou se as exéquias serão fechadas ou abertas ao público. De qualquer maneira, espera-se que um grande número de simpatizantes do ditador compareça à Escola Militar.

O governo se prepara agora para controlar as manifestações de seus críticos, como as ocorridas no domingo, após a notícia de seu falecimento, e que terminaram em atos de violência, com 43 policiais feridos e vários detidos.

Após a confusão de domingo, Santiago parecia ter voltado a sua rotina nesta segunda, mas em muitos lugares viam-se janelas quebradas, orelhões arrancados ou restos de objetos incendiados.

Familiares de desaparecidos durante a ditadura convocaram uma série de manifestações para esta segunda-feira à tarde.

"Estamos convocando para esta tarde uma manifestação no Memorial do Preso Desaparecido, no Cemitério Geral, e uma concentração na Praça Itália", disse a presidente da organização dos familiares, Lorena Pizarro.

O contraste dos atos de alegria com os gestos de pesar de seus simpatizantes expôs a divisão que a figura do ditador ainda provoca na sociedade chilena, quase 17 anos após ter deixado o poder, em 11 de março de 1990.

Hoje, os dirigentes políticos mostraram até que ponto Pinochet os divide: enquanto a esquerda condena um regime que por 17 anos provocou o desaparecimento de mais de 3.000 pessoas, a direita privilegia o legado econômico de Pinochet que, dizem, gerou a base do chamado "milagre chileno".

No resto do mundo, também houve manifestações, e a imprensa hoje deu ampla cobertura à morte de Pinochet. Os jornais latino-americanos destacaram a morte sem condenação judicial do ditador, assim como a imprensa americana e a européia, que também lamentaram o fato de ele ter morrido impune.

O chanceler espanhol, Miguel Angel Moratinos, afirmou que será a "história" que ditará a sentença sobre a vida de Pinochet. Já para o primeiro-ministro francês, Dominique de Villepin, "uma etapa trágica da história do Chile terminou".

O juiz espanhol Baltasar Garzón, responsável pela detenção de Augusto Pinochet em Londres, em 1998, disse que a ação judicial contra o ditador "deve continuar". Em contrapartida, a Justiça francesa encerrou sua instrução no julgamento contra Pinochet, que seguia à revelia, pelo desaparecimento de quatro franceses.

O ditador morreu aos 91 anos, produto de uma descompensação generalizada, uma semana após sofrer um infarto grave e um edema pulmonar agudo, que o mantinham internado no Hospital Militar.

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