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12/12/2006 - 10h51

Velório de Pinochet expõe divisões e feridas chilenas

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BRUNO LIMA
enviado especial da Folha de S.Paulo a Santiago

O primeiro dia do Chile sem seu mais controvertido personagem --o ditador Augusto Pinochet Ugarte, que comandou o país de 1973 a 1990 e que morreu anteontem aos 91 anos-- expôs ao mundo as feridas abertas na política e no povo chileno e se materializou em violência e choro em diversos pontos de Santiago.

Ontem, sob o sol e um calor de 29 ºC, pelo menos 15 mil pessoas esperaram até cerca de oito horas na fila para ficar três segundos diante do caixão de Pinochet, cujo rosto podia ser visto pelo vidro. Com farda de gala, o general foi velado em uma capela improvisada no salão de honra da mesma escola militar em que prestou serviços como tenente e capitão nos anos 40 e 50.

Com a presença do chefe da Igreja Católica chilena, cardeal Francisco Javier Errázuriz, que pediu "que Deus não leve em conta os males" de Pinochet, foi cantado o hino nacional, incluindo o verso que cita os "valentes soldados chilenos", que não é cantado oficialmente desde a redemocratização.

Marco Antonio Pinochet, filho do ditador, disse que, por "respeito à família", gostaria que nenhum membro do governo chileno fosse aos ritos fúnebres de ontem e hoje. O governo do Chile, no entanto, confirmou que a ministra da defesa, Vivianne Soza, comparecerá ao funeral.

Pinochet, que deve ser cremado hoje após uma missa ao ar livre, não recebeu honras de chefe de Estado por decisão da presidente Michelle Bachelet. Teve direito apenas aos rituais destinados a ex-comandantes-chefes do Exército.

Violência

Ontem, Bachelet disse que "pensou no bem do país" para tomar sua decisão e disse ver com pesar as manifestações violentas ocorridas na cidade.

Entre a noite de anteontem e a madrugada de ontem, manifestações em todo o Chile terminaram com 99 detidos e 43 policiais militares feridos. Houve saques a lojas, vandalismo, queima de carros e ônibus.

A polícia usou gás lacrimogêneo contra centenas de pessoas que celebravam no centro de Santiago, perto do Palácio de La Moneda, sede do governo, a morte do ditador como se fosse uma vitória de futebol, com cerveja e buzinaço.

Havia pessoas até de madrugada no local --várias delas com a bandeira do Partido Comunista. "É carnaval, já morreu o general", cantavam. "Olê, olê, morreu o "Perrochet" [referência à palavra perro, que em espanhol pode significar cão].

Em frente ao Hospital Militar, onde morreu Pinochet, admiradores do ditador esperavam o translado do corpo. "Sou muito grata a ele porque salvou meu país de ser uma segunda Cuba", afirmou Milena Izquierdo, 51. Na fila para ver o corpo, a aposentada Berta Sales, 80, dizia que os sistemas de saúde e Previdência chilenos são os deixados por Pinochet. "Vim com minha empregada. Ambas amamos Pinochet. Há gente de todas as classes."

Divisões

No Chile, é bem mais definida do que em outros países da América Latina a separação política entre esquerda e direita. Pinochet, como figura política, ajuda a evidenciar essa marca.

Os comunistas foram os que mais ostensivamente comemoraram nas ruas a morte do ditador. Eles integravam a Unidade Popular de Salvador Allende, derrubado por Pinochet em 1973, mas hoje são minoritários e estão fora da Concertação, coalizão formada por socialistas e democrata-cristãos que governa o Chile desde 1990.

Mas setores políticos mais conservadores também já haviam rompido com Pinochet antes da morte. Na direita mais extrema, a UDI (União Democrática Independente), o grande baque veio com a revelação das contas milionárias mantidas por Pinochet nos EUA.

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