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12/12/2006 - 10h57

Com morte de Pinochet, chilenos se dividem entre champanhe e luto

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BRUNO LIMA
enviado especial da Folha de S.Paulo a Santiago

Augusto Pinochet Ugarte morreu no Dia Internacional dos Direitos Humanos. Morreu no aniversário de 84 anos de sua mulher, Lucía Hiriart. Morreu às 14h15 do domingo de um feriado prolongado no Chile e mudou os planos de chilenos que passavam o dia com a família.

A vendedora Karen Naranjo, 27, viu o pai, ex-preso político, vir da cozinha com uma garrafa de champanhe. Logo depois começou um churrasco. Mais tarde, a festa continuou no centro da cidade, em frente ao palácio sede do governo chileno. "Na minha casa, era assim: almoço, Pinochet. Jantar, Pinochet. Cresci com esse assunto o tempo todo. Esperei 27 anos para celebrar esse dia", contou.

Outro churrasco estava armado na casa de Palmira Valdéz, 49, cinco filhos e três netos. Era sua festa de aniversário, havia bolo sobre a mesa e convidados por chegar. A dona-de-casa, porém, cancelou tudo. Saiu chorando pela rua, caminhou 20 quadras até o hospital onde estava internado Pinochet e acabou se desencontrando da família. Ligou então para o marido. "Morreu meu general Pinochet", disse, repetindo o tratamento pinochetista.

Naranjo e Váldez, chilenas, passaram a madrugada de ontem nas ruas de Santiago, enroladas em bandeiras de seu país. Ambas tinham lágrimas nos olhos ao falar à Folha sobre o "novo Chile" que dizem acreditar ter nascido anteontem.

"Sempre esconderam os problemas do país trazendo à tona o tema Pinochet. Agora quero ver como vão fazer os governantes", afirmou Valdéz. Às 3h de ontem, com outros pinochetistas, gritava repetidamente "E não o condenaram!" do lado de fora dos portões da escola onde seria velado o general.

"Estávamos muito reprimidos. É como se a ditadura tivesse acabado hoje", disse Naranjo. A seu lado, a amiga Carolina Cerezeda, 26, universitária, complementou: "Pinochet não existe mais, é só um vulto histórico. Antes, eu ainda tinha medo. Hoje, sinto que não há mais repressão militar".

Ela mostrou os braços com escoriações e contou: "Jogaram gás lacrimogêneo e caí. Umas 30 pessoas passaram por cima de mim, mas estou feliz. Estaria mesmo que me partissem a cabeça".

Daniela Maler, 20, assistiu à chegada do corpo de Pinochet à escola militar na madrugada. Filha de um militar morto em serviço, revelou que fará seleção para ser policial militar. "Graças a Deus meu pai me contou a verdade. Quero seguir lutando por meu general Pinochet", disse.

"Nós, pinochetistas, nunca fazemos discórdia. E pagamos os semáforos, os ônibus, as árvores que os comunistas destroem. Até quando eles vão achar que têm o monopólio sobre o direito de sofrer? Também deveria haver justiça para nós, para que honremos Pinochet."

Também pelas histórias que ouviu do pai, o universitário Jorge Albornoz, 20, tornou-se "pinochetista". "Iam matar meu pai. Nasci graças a meu general Pinochet."

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