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13/12/2006 - 14h18

Iraquianos apresentam a EUA seu próprio plano estratégico

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da Folha Online

Já se passou uma semana desde que o Grupo de Estudos sobre o Iraque, comissão bipartidária americana, apresentou ao presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, uma proposta para mudança na estratégia da guerra que assola o país árabe. Os iraquianos, no entanto, não estão parados enquanto esperam Bush decidir se pretende ou não adotar as recomendações do grupo: eles apresentaram recentemente sua própria proposta para controlar a segurança no Iraque.

A informação foi divulgada nesta quarta-feira no jornal americano "The New York Times" (NYT). Segundo a reportagem, o plano iraquiano prevê a transferência da responsabilidade pela segurança em Bagdá para as tropas locais, enquanto as forças americanas seriam enviadas para a periferia da capital.

O conselheiro nacional de segurança do Iraque, Mowaffak al Rubaie, afirmou em uma entrevista que o plano foi apresentado durante o encontro em Amã (Jordânia) entre Bush e o premiê Nouri al Maliki no dia 30 de novembro.

"Acredito que é de extrema importância que os EUA reduzam sua visibilidade e sua presença em Bagdá", disse Rubaie. Segundo o conselheiro, as tropas americanas "deveriam estar nos subúrbios" da capital.

Um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Gordon Johndroe, afirmou que o general George Casey --líder do comando americano no Iraque-- estava estudando o plano.

Vantagem ou risco?

Segundo o "NYT", o plano iraquiano é atraente para o governo Bush, que está imerso em sua própria revisão sobre a estratégia utilizada no Iraque, mas também apresenta riscos.

Ao mesmo tempo em que poderá reduzir o número de vítimas entre os soldados americanos no Iraque --hoje estimadas em 2.939 desde a invasão do país, em 2003--, a retirada de Bagdá é consistente com o desejo do governo dos EUA de transferir para os iraquianos maior responsabilidade pelo controle da violência no país.

No entanto, teme-se que a violência sectária aumente com a saída das tropas da capital. O governo, liderado pelo xiita Al Maliki, é considerado "lento" no controle de milícias que agem contra sunitas em todo o país.

Os comandantes americanos no Iraque --assim como políticos sunitas-- temem que as forças do governo sejam usadas para "limpar" a cidade de sunitas, já que elas estão infiltradas por milícias e são constantemente acusadas por ataques.

Exército americano

O plano iraquiano, se implementado, significaria uma grande mudança na ação militar americana. Os comandos dos EUA iniciaram a guerra lutando contra uma insurgência árabe sunita. Mais tarde, aumentaram seu espectro de ação para incluir milícias xiitas entre os combatidos, depois que esses grupos se tornaram ativos em 2006.

Há meses, os comandantes destacam o fato de que hoje é preciso lutar contra ambos os inimigos com igual vigor.

O plano iraquiano, no entanto, traria consigo uma mudança de foco, levando as tropas americanas a concentrarem esforços contra insurgentes e extremistas sunitas.

Estratégia

A nova estratégia proposta pelos iraquianos prevê a retirada da maioria das tropas americanas de Bagdá e a redefinição de sua missão. As forças dos EUA ficariam concentradas em lutar contra forças que, suspeita-se, são apoiadas pela rede terrorista Al Qaeda, além de organizações de insurgentes sunitas.

O esforço para controlar a violência sectária na capital seria responsabilidade das forças majoritariamente xiitas do governo.

Enquanto isso, as tropas americanas na periferia de Bagdá impediriam homens-bomba e outros terroristas antes que eles penetrassem na cidade. Os esforços para impedir a infiltração de terroristas na capital são extremamente falhos, em parte, segundo o "NYT", porque o Exército iraquiano não foi capaz de equipar adequadamente os postos de controle de segurança.

Em Bagdá, permaneceriam apenas conselheiros americanos que orientariam unidades iraquianas, além de soldados de apoio em bases da capital.

Oposição

O plano foi duramente criticado por políticos sunitas, que disseram não poder acreditar que os americanos entregariam a segurança para um governo que acreditam ser profundamente sectário.

"Será um desastre", afirmou o membro sunita do Parlamento Mahmoud al Mashhadani. "Acho que os americanos não são tão estúpidos assim. A cidade se tornaria um lugar seguro para as milícias."

No último domingo, o próprio Al Rubaie se manifestou contrariamente à retirada das tropas americanas do Iraque. Segundo o conselheiro, o país precisa de mais "paciência estratégica" por parte de Washington. Ele afirmou que os Estados Unidos devem continuar no Iraque até derrotarem a violência e os terroristas que ameaçam tomar a região.

Al Rubaie também pediu à Casa Branca e a líderes regionais que apóiem seu plano de oferecer anistia geral a insurgentes e milícias, mas alertou para um possível aumento na violência caso a rede terrorista Al Qaeda consiga ganhar mais poder no Iraque.

"Se não agirmos para conter a Al Qaeda, a violência vai se espalhar terrivelmente, não apenas para a Arábia Saudita mas também para a Síria, o Irã e além", disse o conselheiro durante uma conferência no Instituto Internacional de Estudos Estratégicos em Bahrein.

Ele afirmou também que a violência sectária entre xiitas e sunitas poderia se espalhar para a Arábia Saudita, Bahrein, Paquistão e Índia, todos países que possuem grandes populações muçulmanas xiitas.

Grupo de Estudos sobre o Iraque

O Grupo de Estudos para o Iraque, liderado pelo ex-secretário de Estado republicano James A. Baker e pelo ex-legislador democrata Lee Hamilton, divulgou na última semana um relatório dizendo que a estratégia no Iraque "falhou" e que é preciso uma vasta mudança de foco, que incluiria o início da retirada das tropas de coalizão lideradas pelos EUA.

A comissão pede a retirada das tropas liderada pelos EUA até 2008.

A comissão recomendou também que os EUA acelerem o treinamento das forças iraquianas para que elas possam defender o país. Para o grupo, assim como já vem afirmando vários oficiais do Exército americano, as tropas americanas devem passar do papel de combatentes para um papel de apoio para as forças locais.

Violência

Enquanto as negociações sobre uma mudança de estratégia não avançam, a violência continua sem tréguas no país. Um carro-bomba explodiu próximo a um ponto de ônibus lotado no leste de Bagdá na hora do rush da manhã desta quarta-feira, matando ao menos 11 pessoas e ferindo 27. A região da explosão é majoritariamente xiita, segundo a polícia.

No bairro de Kamaliyah, às 8h45 (3h45 pelo horário de Brasília), outra bomba explodiu a cerca de 50 metros da mesquita xiita de Al Rasoul, mas o prédio não foi danificado, ainda de acordo com a polícia. Aparentemente, a mesquita não foi o alvo da explosão.

O atentado no ponto de ônibus atingiu mulheres e crianças que esperavam transporte para irem ao mercado de frutas e vegetais de Bagdá, disseram testemunhas. O carro utilizado para o ataque foi um Volkswagem, que explodiu ao lado do ponto.

Regiões pobres de Bagdá parecem ser o mais novo alvo da violência sectária que arrasa o Iraque. No dia 23 de novembro, supostos insurgentes sunitas realizaram o mais sangrento ataque do país desde o início da guerra, em março de 2003.

O ataque, que envolveu bombas e morteiros, deixou ao menos 215 pessoas mortas em uma praça do bairro xiita Sadr City.

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