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11/01/2007 - 03h03

Leia o discurso de George W. Bush sobre o Iraque

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da Folha Online

"A nova estratégia que anuncio esta noite irá mudar o curso da ação americana na Guerra do Iraque, e nos ajudar a vencer nossa luta contra o terror.

Quando falei a vocês há pouco mais de um ano, cerca de 12 milhões de iraquianos haviam votado por uma nação unificada e democrática. As eleições iraquianas de 2005 foram um feito incrível. Pensamos que essas eleições iriam unir os iraquianos, e que se treinássemos as forças de segurança iraquianas, poderíamos conseguir completar nossa missão com menos tropas americanas.

Mas em 2006, o oposto aconteceu. A violência no Iraque, particularmente em Bagdá, ofuscaram e ultrapassaram os avanços políticos que os iraquianos haviam conquistado. Terroristas da Al Qaeda e insurgentes sunitas reconheceram o perigo mortal que as eleições iraquianas representavam para sua causa, e responderam com atos terríveis de assassinato contra iraquianos inocentes.

Eles explodiram um dos templos mais sagrados dos muçulmanos xiitas --a Mesquita Dourada, em Samarra-- em um esforço calculado para provocar a retaliação da população xiita do Iraque. A estratégia funcionou. Elementos radicais xiitas, alguns com o apoio do Irã, formaram esquadrões da morte, e o resultado foi um ciclo terrível de violência sectária que continua até hoje.

A situação no Iraque é inaceitável para o povo americano, e é inaceitável para mim. Nossas tropas no Iraque lutaram bravamente. Eles fizeram tudo o que nós pedimos a eles para fazer. Onde erros foram cometidos, eu assumo a responsabilidade.

Está claro que precisamos mudar nossa estratégia no Iraque. Assim, meu time nacional de segurança, os comandantes militares e diplomatas fizeram uma grande revisão da ação. Ouvimos membros de ambos os partidos do Congresso, nossos aliados no exterior, e grandes especialistas internacionais. Usamos as inteligentes recomendações do Grupo de Estudos sobre o Iraque, um painel bipartidário liderado pelo ex-secretário de Estado James Baker e pelo ex-congressista Lee Hamilton.

Em nossas discussões, todos nós concordamos que não há fórmula mágica para resolver o problema do Iraque. E uma mensagem ficou muito clara: o fracasso no Iraque resultará em desastre para os Estados Unidos. As conseqüências do fracasso são claras. Extremistas radicais vão se fortalecer e ganhar mais adeptos. Eles estarão em uma posição melhor para derrubar governos moderados, criar caos na região e usar os lucros com o petróleo para financiar suas ambições.

O Irã ficará fortalecido em sua busca por armas nucleares. Nossos inimigos terão um espaço seguro para planejar e lançar ataques contra o povo americano. Em 11 de setembro de 2001, vimos o que um refúgio para extremistas do outro lado do mundo pode causar nas ruas de nossas próprias cidades.

Para a segurança de nossa gente, a América deve vencer no Iraque. A prioridade para conseguir vencer no Iraque é a segurança, especialmente em Bagdá. Cerca de 80% da violência sectária do Iraque acontece em até 48 km da capital. Esta violência está colocando Bagdá em um caos sectário, e abalando a confiança de todos os iraquianos.

Apenas os iraquianos podem acabar com a violência sectária e prover a segurança de seu povo. E o governo iraquiano vai empreender um plano agressivo para conseguir isso.

Nossos planos para garantir a segurança de Bagdá até hoje falharam por duas razões principais: primeiro, não havia tropas americanas nem iraquianas suficientes para manter a segurança de bairros que foram "limpos" de insurgentes e terroristas. E havia muitas restrições para as tropas que nós tínhamos.

Nossos comandantes militares revisaram o plano para o Iraque para responder a estes erros. Eles relataram que este plano pode funcionar.

Vou explicar os principais pontos deste esforço.

O governo iraquiano vai designar um comandante militar e dois vice-comandantes para a capital. Eles vão alocar brigadas do Exército iraquiano e da polícia nacional para os nove distritos de Bagdá. Quando estas forças estiverem todas lá, haverá 18 brigadas do Exército e da polícia nacional iraquiana engajadas nesta missão, ao lado da polícia local. Estas forças iraquianas irão operar a partir de estações de polícia locais, conduzindo patrulhas, armando postos de controle e indo de porta em porta para ganhar a confiança dos iraquianos.

Este é um compromisso forte, mas para que possa ser bem-sucedido, os comandantes dizem que os iraquianos vão precisar da nossa ajuda. Então, a América vai mudar nossa estratégia para ajudar os iraquianos a fazer sua campanha para acabar com a violência sectária e trazer segurança ao povo de Bagdá.

Para isso, será necessário aumentar o número de forças americanas. Então, eu me comprometi a enviar mais de 20 mil tropas adicionais ao Iraque. A grande maioria delas, cinco brigadas, irão para Bagdá. Essas tropas vão trabalhar ao lado de unidades iraquianas, e estarão imersas em suas formações. Nossas tropas terão uma missão bem-definida: ajudar os iraquianos a 'limpar' os bairros, a proteger a população local, e a garantir que as tropas iraquianas deixadas nestes locais serão capazes de prover a segurança que Bagdá precisa.

Vou explicar por que este esforço vai ser bem-sucedido, quando missões anteriores falharam. Vocês verão as diferenças.

Nas operações anteriores, as forças americanas e iraquianas "limparam" muitos bairros da presença de insurgentes, mas quando as tropas mudavam de alvo, os matadores voltavam. Desta vez, vamos ter o nível de tropas que precisamos para manter a segurança das áreas que foram "limpas".

Em operações anteriores, interferências políticas e sectárias impediram as forças americanas e iraquianas de entrar em bairros que são lares para aqueles que alimentam a violência sectária. Desta vez, forças americanas e iraquianas terão 'sinal verde' para entrar nestes bairros, e o premiê Nouri al Maliki garantiu que interferências políticas ou sectárias não serão toleradas.

Eu deixei claro para o premiê e para os demais líderes iraquianos que o compromisso da América não é infinito. Se o governo iraquiano não cumprir suas promessas, ele perderá o apoio do povo americano. E perderá o apoio do povo iraquiano.

Agora é a hora de agir. O premiê entende isso. Isto é o que ele disse a seu povo na semana passada: 'O plano de segurança de Bagdá não oferecerá um refúgio seguro para nenhum fora-da-lei, independentemente de sua filiação sectária ou política.'

Esta nova estratégia não vai acabar imediatamente com explosões suicidas, assassinatos, ou ataques. Nossos inimigos farão todo o possível para garantir que nossas TVs estejam cheias de imagens de morte e sofrimento. Ainda assim, podemos esperar ver os iraquianos perseguirem assassinos e ganhar a confiança duradoura dos residentes de Bagdá.

Quando isso acontecer, a vida cotidiana vai melhorar, os iraquianos terão confiança em seus líderes e o governo terá o espaço de que necessita para progredir em outras áreas críticas.

A maioria dos sunitas e xiitas do Iraque querem viver juntos e em paz. Reduzir a violência sectária em Bagdá vai tornar uma reconciliação possível.

Uma estratégia de sucesso para o Iraque deve ir além de operações militares. Cidadãos comuns do Iraque precisam ver que operações militares serão acompanhadas por melhorias visíveis em seus bairros e comunidades.

Por isso, a América vai exigir que o governo iraquiano cumpra as medidas que anunciou. Para estabelecer sua autoridade, o governo iraquiano planeja retomar o controle de todas as Províncias do Iraque até novembro.

Para dar a todos os cidadãos do Iraque uma participação na economia do país, o país vai aprovar uma legislação para compartilhar os lucros do petróleo com todos os iraquianos.

Para mostrar que está comprometido em conseguir uma vida melhor para seus cidadãos, o governo iraquiano vai gastar US$ 10 bilhões de seu próprio dinheiro para reconstrução e projetos de infra-estrutura que vão criar novos empregos.

Para dar poder a líderes locais, o Iraque planeja realizar eleições provinciais ainda neste ano.

E para permitir que mais iraquianos participem da vida política do país, o governo irá reformar suas leis, que desmontaram a estrutura do Baath [partido do ditador Saddam Hussein], e estabelecerá um processo justo para considerar emendas à Constituição iraquiana.

A América vai mudar nossa abordagem para ajudar o governo iraquiano a atingir essas metas.

Mantendo as recomendações do Grupo de Estudos para o Iraque, vamos aumentar a inserção de conselheiros americanos nas tropas do Exército iraquiano e alocar uma brigada da coalizão em cada divisão do Exército iraquiano. Vamos ajudar os iraquianos a construir um Exército maior e mais bem equipado. E vamos acelerar o treinamento de forças iraquianas --que continuará a ser a missão essencial das tropas americanas no Iraque.

Vamos dar a nossos comandantes maior flexibilidade para gastar verba em assistência econômica. Vamos dobrar o número de times de reconstrução provincial. Estes times unem especialistas civis e militares para ajudar comunidades locais a buscarem a reconciliação, fortalecerem os moderados, e acelerar a transição para um Iraque que seja auto-sustentável.

A secretária [de Estado americana, Condoleezza] Rice vai apontar em breve um coordenador de reconstrução em Bagdá para garantir melhores resultados para a assistência econômica que vem sendo feita no Iraque.

Enquanto fazemos estas mudanças, continuaremos a perseguir a Al Qaeda e os lutadores estrangeiros. A Al Qaeda ainda é ativa no Iraque. Ela está baseada na Província de Anbar. A Al Qaeda ajudou a tornar Anbar a área mais violenta do Iraque fora da capital. Um documento da Al Qaeda que capturamos descreve planos de se infiltrar e ganhar o controle da Província. Isto faria com que a Al Qaeda chegasse mais perto de seu objetivo de destruir a democracia iraquiana, construindo em seu lugar um império radical islâmico e lançar novos ataques contra os EUA.

Nossas forças militares em Anbar já mataram líderes da Al Qaeda na região. E estão protegendo a população local. Recentemente, líderes tribais locais começaram a mostrar a intenção de lutar contra a Al Qaeda, e como resultado, nossos comandantes acreditam que temos a oportunidade de infligir um sério dano aos terroristas.

Por isso, vou aumentar em 4.000 soldados a quantidade de tropas em Anbar. Esses soldados vão trabalhar com forças locais e com o Exército para manter a pressão contra os terroristas.

Mulheres e homens americanos em uniformes destruíram o refúgio da Al Qaeda no Afeganistão, e não vamos permitir que o restabeleçam no Iraque.

O sucesso no Iraque também requer que protejamos sua integridade territorial e estabilizemos a região apesar de desafios extremos. Isto começa com uma abordagem ao Irã e à Síria.

Estes dois países estão permitindo que terroristas e insurgentes usem seu território para entrar e sair do Iraque. O Irã está fornecendo apoio material para ataques contra tropas americanas. Vamos acabar com os ataques contra as forças, interromper o fluxo de apoio do Irã e da Síria, e acabar com as redes que fornecem armas e treinamento para nossos inimigos no Iraque.

Também vamos tomar outras medidas para melhorar a segurança no Iraque e proteger os interesses americanos no Oriente Médio. Recentemente, ordenei a alocação de um novo grupo de ataque para a região. Vamos aumentar o compartilhamento de informações de inteligência e fornecer sistemas de defesa para fortalecer nossos amigos e aliados.

Vamos trabalhar com os governos da Turquia e do Iraque para ajudá-los a resolver problemas na fronteira entre os dois países. E vamos trabalhar com outros para impedir o Irã de conseguir armas nucleares e dominar a região.

Vamos usar toda diplomacia de que dispomos para ajudar a conseguir mais apoio para o Iraque no Oriente Médio. Países com o Arábia Saudita, Egito, Jordânia e os Estados do golfo precisam entender que uma derrota americana no Iraque criará um novo santuário para extremistas, e uma ameaça estratégica para sua sobrevivência.

Essas nações devem ter participação em um Iraque bem-sucedido, em paz com seus vizinhos, e elas devem expressar seu apoio ao governo iraquiano.

Apoiamos a convocação do governo iraquiano para um pacote internacional que trará nova assistência econômica em troca de novas reformas econômicas.

Na próxima sexta-feira, a secretária Rice partirá para a região. Ela vai buscar apoio para o Iraque e continuará a diplomacia urgente para ajudar a trazer a paz para o Oriente Médio. Os desafios que ultrapassam as fronteiras do Oriente Médio são maiores do que um conflito militar. É a luta ideológica definitiva do nosso tempo.

De um lado, estão aqueles que acreditam na liberdade e na moderação. Do outro, estão extremistas que matam inocentes, e já declararam sua intenção de destruir nosso modo de vida. A longo prazo, a forma mais realista de proteger o povo americano é fornecer uma alternativa esperançosa ao ódio ideológico do inimigo, por meio do avanço da liberdade na região.

É do interesse dos Estados Unidos ficar ao lado dos valentes homens e mulheres que arriscam suas vidas pela liberdade, e ajudá-los a erguer uma sociedade justa e esperançosa ao longo do Oriente Médio. Do Afeganistão ao Líbano, passando pelos territórios palestinos, milhões de pessoas estão cansadas da violência, e querem um futuro de paz e oportunidades para seus filhos.

E eles estão olhando para o Iraque. Eles querem saber: a América vai sair e deixar o futuro daquele país para os extremistas, ou vamos ficar ao lado dos iraquianos que escolheram a liberdade?

As mudanças que descrevi hoje têm como objetivo ajudar o crescimento de uma jovem democracia, que está lutando por sua vida em uma parte do mundo de grande importância para a segurança americana.

Deixe-me ser claro: os terroristas no Iraque não têm consciência. E farão do ano a nossa frente um ano violento e sangrento. Mesmo se nossa estratégia funcionar exatamente como planejadas, ações mortais vão continuar, e devemos esperar mais mortes americanas e iraquianas.

A pergunta é: esta estratégia vai nos aproximar do sucesso? Acredito que sim. Mas o sucesso não vai se parecer com aquele que nossos pais e avós alcançaram. Não haverá cerimônia na qual o inimigo se rende. Mas a vitória no Iraque trará algo novo no mundo árabe: uma democracia que funciona, que controla seu território, segue as leis, respeita as liberdades humanas fundamentais e responde a seu povo.

Uma democracia no Iraque não será perfeita. Mas ele será um país que luta contra terroristas, ao invés de os abrigar. E irá ajudar a trazer um futuro de paz e segurança para nossos filhos e netos.

Este novo plano chega após consultas com o Congresso sobre o rumo que podemos tomar no Iraque. Muitos temem que os iraquianos estão se tornando muito dependentes dos EUA, e por isso nossa política deveria ser focada em proteger as fronteiras do Iraque e caçar a Al Qaeda. A solução destas pessoas é diminuir o esforço em Bagdá, ou anunciar a retirada gradual de nossas tropas de combate.

Consideramos estas propostas cuidadosamente e concluímos que sair agora forçaria o colapso do governo iraquiano, destruiria o país, e resultaria em um grande número de mortes, em escala inimaginável. Este cenário acabaria obrigando nossas tropas a permanecerem no Iraque por um prazo ainda maior, lutar contra um inimigo que é ainda mais mortal.

Se aumentarmos nosso apoio neste momento crucial, e ajudarmos os iraquianos a romper o atual ciclo de violência, poderemos apressar o dia em que nossas tropas retornarão para casa.

Nos próximos dias, meu time de segurança nacional vai falar com o Congresso sobre nossa estratégia. Se os membros sugerirem melhorias, faremos essas melhorias. Se as circunstâncias mudarem, vamos nos adaptar. Se as pessoas tiverem visões diferentes, poderão expressas suas discordâncias. Vamos expor nossa visão ao escrutínio público.

E todos os envolvidos têm uma responsabilidade de explicar como o caminho que eles propõe poderá ser melhor para conseguir o sucesso.

Nesses momentos extraordinários, os EUA são abençoados por terem homens e mulheres altruístas que estão dispostos a nos defender. Estes jovens americanos entendem que nossa causa no Iraque é nobre e necessária. E que o avanço da liberdade é o chamado de nossa época. Eles trabalham longe de suas famílias, que fazem o sacrifício silencioso de feriados solitários e cadeiras vazias durante o jantar. Eles observaram seus camaradas darem suas vidas em nome da nossa liberdade.

Nós fazemos luto pela morte de cada americano, e devemos a eles a construção de um futuro digno de seu sacrifício. Para nossos cidadãos, o ano de 2007 vai exigir mais paciência, sacrifício e vontade. Eles poderão ficar tentados a crer que a América pode abandonar a defesa da liberdade. São épocas de teste que revelam o caráter de uma nação. E ao longo da história, a América sempre desafiou os pessimistas, e viu nossa fé na liberdade ser recompensada.

Agora, a América está envolvida em uma nova luta, que ditará o curso do novo século. Nós podemos e vamos vencer. Avançamos com confiança que o autor da liberdade irá nos guiar através dessas horas desafiantes. Obrigado.

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