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17/10/2000 - 07h56

Candidatos nos EUA divergem sobre política internacional

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do "EL PAÍS"
da Folha de S.Paulo

Foram precisos a derrota de Slobodan Milosevic na Iugoslávia e, sobretudo, os acontecimentos sangrentos no Oriente Médio para que os norte-americanos descobrissem que Al Gore e George W. Bush não têm apenas programas domésticos diferentes, mas também visões muito distintas quanto ao papel dos Estados Unidos no mundo.

Mais favorável ao intervencionismo humanitário do que Bill Clinton, Gore teria agido antes na Bósnia e, talvez, tivesse socorrido Ruanda. Bush, pelo contrário, propõe que os EUA reforcem seu poderio militar, incluindo a construção de um escudo antimísseis, e empreguem seus soldados apenas para ganhar guerras em defesa dos interesses vitais do país.

A política internacional ocupou menos de cinco minutos do primeiro debate entre os dois candidatos, no início de outubro. Sem inimigos externos de importância e desfrutando de paz e bonança econômica, os EUA passam por uma fase de introversão política.

Quando olham à sua volta, o fazem essencialmente em busca de lugares onde investir, comprar ou vender - como a China. Esta semana, porém, com os soldados de Israel, seu principal aliado, novamente enfrentando as massas palestinas nas ruas e, há poucos dias, o atentado suicida contra um de seus destróieres no porto iemenita de Áden, os EUA desviaram o olhar de seu próprio umbigo.

A política externa dominou metade do tempo do segundo debate entre os candidatos à Presidência, na última quarta-feira (11).

O espantoso foi que Bush - que, um ano atrás, nem sequer soube dizer o nome do líder do Paquistão - venceu nessa matéria o homem que é vice-presidente do país há oito anos.

Bush provou que fez sua lição de casa e soube expor com clareza as lições que aprendeu com sua competente equipe de assessores: Dick Cheney, ex-secretário da Defesa e seu candidato à vice-presidência, Colin Powell, ex-chefe do Estado-Maior, e uma jovem e brilhante professora afro-americana chamada Condoleeza Rice.

A base da visão de Bush está resumida numa fórmula que agrada a muitos de seus compatriotas: "Não podemos ser a polícia do mundo".

Bush acusa o governo de Bill Clinton e Gore de ter enfraquecido as Forças Armadas norte-americanas e se propõe a reforçá-las. Mas, afirma, apenas as empregaria nas situações previstas na chamada "doutrina Powell": "para travar e vencer guerras nas quais estejam em jogo os interesses nacionais".

O modelo evidente de Bush é a Guerra do Golfo (1991), liderada por seu pai. Já Gore acha que os EUA têm uma missão a cumprir no mundo: "defender a democracia e os direitos humanos" e "combater a injustiça e as desigualdades".

Para o candidato democrata, "os interesses nacionais dos EUA não estão em jogo unicamente nos países petrolíferos". Se o presidente tivesse sido ele, em lugar de Clinton, a intervenção dos EUA na Bósnia teria se dado antes, e o país talvez tivesse entrado em Ruanda para tentar impedir o genocídio (94).

Gore defende que as Forças Armadas norte-americanas participem no que se conhece no país como "construção de nações", e cita como precedente positivo o Plano Marshall e a presença militar americana na Alemanha e no Japão após a 2ª Guerra Mundial.

É essa a principal diferença entre Bush e Gore em matéria de política internacional. "A construção de nações não é tarefa de nosso Exército", diz Bush, que aplaude Clinton por não ter ordenado uma intervenção norte-americana em Ruanda ou Serra Leoa, ao mesmo tempo em que o critica por tê-lo feito na Somália e no Haiti.

O governador do Texas crê que os soldados do país "já estão presentes em lugares demais". Se chegar à Casa Branca, pedirá aos membros europeus da Otan (aliança militar ocidental) que se encarreguem das operações na Bósnia e em Kosovo.

Em consonância com a tradição isolacionista americana, a equipe de Bush acusa Gore de querer transformar os EUA em "bombeiro arrogante", que aparece para apagar todos os incêndios do planeta.

Bush se proclama defensor de uma visão "humilde" dos EUA, dizendo que prefere que sejam coalizões regionais que resolvam as crises: européias, no caso dos Bálcãs, australianas e asiáticas, como em Timor Leste, nigerianas e africanas em geral em Serra Leoa.

Seja qual for o próximo presidente, é provável que a população cubana saia perdedora das eleições. Gore se declara "frustrado" porque Fidel Castro não aproveitou as tímidas aberturas oferecidas por Clinton, proclama-se um "falcão" em relação ao líder cubano e adianta que não suspenderá o embargo econômico à ilha.

Embora quase todos em Washington saibam que o embargo fortalece Fidel e prejudica a população cubana e as empresas norte-americanas, Gore deve cortejar o eleitorado cubano da Flórida, um dos Estados-chave no próximo dia 7 de novembro.

Bush compete com Gore em declarações de intransigência sobre Cuba. Em troca, é mais original sua posição sobre a América Latina, que, declara, será o principal objeto de sua atenção internacional.

Filho do presidente que negociou o Tratado de Livre Comércio (Nafta) com o México e governador de um Estado que tem mais de mil quilômetros de fronteira com o país, Bush procura falar espanhol e mantém uma política de apoio à imigração hispânica e ao ensino bilíngue, rompendo com a tradição republicana.

Outra novidade é que ele adianta que será contra qualquer tentativa de retorno ao poder dos militares latino-americanos.

No ano passado, quando foi reprovado num "exame" televisivo de política internacional, Bush declarou que "o importante para os EUA é a relação com o México".

Ele já se reuniu com o presidente mexicano eleito, Vicente Fox, e os dois acordaram um aumento da cooperação petrolífera e do intercâmbio comercial. Bush diz que, se for eleito, ampliará os acordos de livre comércio para todo o continente americano, a começar pelo Chile.


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