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21/03/2007 - 08h28

Negociar com governo palestino seria "ato suicida", diz israelense

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DANIELA LORETO
Editora de Mundo da Folha Online

A aceitação do novo governo de coalizão formado entre os partidos Hamas e Fatah, aprovado pelo Parlamento palestino no sábado (17), e eventuais negociações com essa liderança seria um "ato suicida" por parte de Israel, na opinião do diplomata Nimrod Barkan, diretor do Centro de Pesquisa Política do Ministério das Relações Exteriores israelense.

Segundo Barkan, que visitou a Folha de S.Paulo nesta terça-feira, o novo governo pertence basicamente "ao Hamas", e finge ser algo "que na realidade não é". "Por isso, Israel escolheu não ser seu parceiro. Negociar com este governo seria um ato suicida", afirmou o diplomata durante a visita.

Para ele, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas--ligado ao Fatah--, se "vendeu" para o Hamas ao aceitar o Acordo de Meca, assinado em fevereiro com o premiê palestino, Ismail Haniyeh, sob o patrocínio do rei saudita Abdullah.

Apesar da aparente inclinação dos Estados Unidos e de alguns países da União Européia (EU) para negociar com o novo governo da ANP, Barkan afirmou que Israel não teme ficar isolado no boicote à liderança conjunta entre Hamas e Fatah. "Só porque em um certo momento se está sozinho, não significa que se esteja errado", afirmou ele.

De acordo com o diplomata, aqueles que criticam seu país muitas vezes não compreendem que Israel vive "sob ameaça direta". "Os EUA fizeram concessões porque têm necessidade política de se aliar ao Fatah, e os países europeus não estão diretamente ligados à questão. Israel tem de fazer o que for melhor para sua segurança".

Exigências

Segundo Barkan, o chamado Documento de Reconciliação Nacional, no qual se baseia a união entre os dois partidos, foi analisado por autoridades israelenses em julho de 2006 e reflete "muitas das exigências" feitas pelo grupo extremista Hamas.

Partido político e considerado grupo terrorista por Israel, pelos EUA e pela UE, o grupo não aceita a existência de Israel e prega sua destruição em sua carta de fundação, de 1988.

Entre as exigências do Hamas estariam o retorno dos refugiados palestinos às terras de origem e o direito à resistência.

"Subliminarmente, isto significa pregar a destruição de Israel", diz Barkan, para quem "resistência" seria um disfarce para a defesa de atos terroristas contra alvos israelenses.

O texto também impõe exigências para eventuais acordos de paz com Israel. "Qualquer tipo de iniciativa precisaria ser ratificada por referendo entre os palestinos, inclusive os refugiados". O documento aponta ainda que os acordos só serão aceitos se forem de interesse palestino. "Ou seja, este governo não está comprometido com nada", diz Barkan.

Irã

Durante a visita, o diplomata comentou ainda a polêmica em torno do programa nuclear iraniano. Questionado se o Irã representa uma ameaça para Israel, Barkan explica que existem "vários momentos" do desenvolvimento nuclear iraniano que podem ser "ameaças".

O primeiro seria o momento em que Teerã for capaz de dominar a tecnologia nuclear, o que, segundo o diplomata, deve acontecer dentro de um prazo de seis meses a um ano. "Não se sabe ao certo, porque o Irã não revela, mas calcula-se esse período", diz Barkan.

A segunda etapa seria quando o Irã possuir material nuclear suficiente para construir uma bomba, o que, de acordo com o embaixador israelense, deve acontecer dentro de 5 anos.

"Além disso, eles [Teerã] precisam decidir que querem construir uma bomba", diz.

De acordo com ele, uma eventual ação militar de Israel contra o Irã dependerá do "ritmo do desenvolvimento nuclear iraniano". No entanto, seu país prefere a "solução diplomática".

Sanções

Em relação à Rússia e à China, Barkan diz acreditar que, em uma situação-limite, os dois países apoiariam mais sanções contra o Irã e ficariam ao lado dos países ocidentais.

"A Rússia entende o perigo que o Irã representa", diz ele. "O governo russo apoiou as sanções já impostas, e deve apoiar uma nova resolução, assim como a China", disse.

Em dezembro, o Conselho de Segurança impôs sanções limitadas contra o Irã por sua recusa em interromper o programa de enriquecimento de urânio. As medidas determinavam que todos os países parassem de fornecer material e tecnologia que pudessem ser usados nos programas nuclear e de mísseis iranianos, e também que os bens de alguns indivíduos e empresas envolvidos fossem congelados. Porém, o Irã acelerou seu programa nuclear.

Teerã insiste que o enriquecimento de urânio tem fins pacíficos, porém os EUA, a ONU e a UE temem que o governo iraniano esteja querendo produzir armamento nuclear.

Na semana passada, os cinco membros permanentes do CS --EUA, Reino Unido, França, China e Rússia-- mais a Alemanha chegaram a um acordo a respeito de novas sanções.

"Fico feliz por ver que a Rússia está caminhando ao lado dos países ocidentais", diz Barkan.

Segundo ele, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ainda acredita que poderá usar sua participação na reunião do CS da ONU como "um pódio", mas que a estratégia não dará certo. "Ele acha que pode mudar algo simplesmente por estar lá, mas não é verdade".

Nova guerra

Durante a visita, Barkan descartou a possibilidade de eclosão de uma nova guerra envolvendo Israel a curto prazo. "Não acho que um conflito como o que houve com o Líbano em 2006 volte a acontecer tão cedo, ainda neste ano", afirmou.

Para o diplomata, tais rumores em Israel ocorrem porque grande parte da população ainda "não compreendeu os avanços obtidos com a guerra do Líbano".

Entre eles, Barkan cita que a milícia xiita Hizbollah foi expulsa da área da fronteira, hoje vigiada por soldados da ONU e pelo Exército libanês. "O Hizbollah foi derrotado", diz.

Ele também descarta uma guerra de Israel contra a Síria, e uma guerra civil no Líbano.

"Tudo é possível, mas acredito que os poderes [no Líbano] que querem evitar a guerra são hoje mais fortes do que aqueles que desejam estar em guerra", analisa.

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