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17/04/2007 - 19h44

Após ataque, especialista duvida de mudança em lei de armas nos EUA

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ANDREA MURTA
da Folha Online

O massacre no Instituto Tecnológico da Virgínia (Virginia Tech), no qual um estudante sul-coreano matou 32 alunos e professores nesta segunda-feira antes de se suicidar, alimentou o debate sobre a venda de armas nos Estados Unidos, mas não deverá influenciar nas leis que facilitam o acesso a elas.

A opinião é do professor associado do departamento de ciência política da Universidade do Kansas Donald Haider-Markel, 39.

Ele lembra que, embora muitos americanos sejam favoráveis a uma legislação mais restritiva ao acesso de armas nos EUA, as leis não mudaram desde 1994.

"Se nem mesmo a matança em Columbine [na qual dois estudantes mataram 13 pessoas em uma escola antes de se suicidarem], em 1999, foi capaz de mudar as leis, não tenho muita confiança de que elas irão mudar após esse novo ataque", disse Haider-Markel nesta terça-feira, em entrevista exclusiva por telefone à Folha Online.

"O Estado da Virgínia, que tem leis bastante permissivas quanto à venda de armas, poderá se tornar mais restritivo, mas não consigo ver uma mudança a nível nacional com relação à legislação que permite o acesso a armas", afirma o especialista, que é autor de um ensaio sobre o ataque em Columbine ("Gun Policy, Opinion, Tragedy, and Blame Attribution: The Conditional Influence of Issue Frames", publicado no Journal of Politics 63, de maio de 2001).

A tragédia, que deu origem ao documentário "Tiros em Columbine" (2002), dirigido por Michael Moore, completa oito anos na próxima sexta-feira (20).

Reprodução
O sul-coreano Cho Seung-hui, 23, autor dos ataques contra universidade na Virgínia
O sul-coreano Cho Seung-hui, 23, autor dos ataques contra universidade na Virgínia
Nesta segunda-feira, o sul-coreano Cho Seung-hui, 23 foi identificado como autor de outra tragédia, o massacre na Virginia Tech. Aparentemente, ele premeditou a ação, já que a polícia achou uma carta na qual ele se queixava de colegas e dizia que eles eram culpados.

Cho comprou legalmente, por US$ 571, as armas e a munição usadas no ataque ao campus.

Ontem, em dois ataques que ocorreram em cerca de duas horas, o estudante protagonizou o mais grave ataque a mão armada em um campus de universidade nos EUA desde 1966. Cho matou 32 pessoas [a maioria estudantes] e se suicidou.

Um dia após a tragédia, o governo americano já descartou rever as leis de controle de armas em vigor nos Estados Unidos. A porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, afirmou que é preciso aplicar a lei, e não limitar o porte de armas.

Fenômeno americano

Para Haider-Markel, episódios como os ocorridos em Virginia Tech, no qual um indivíduo adquire armas e atira contra várias pessoas em seu local de estudo ou trabalho, é um fenômeno tipicamente americano.

"Temos muito mais violência perpetrada com armas de fogo neste país [EUA] do que em qualquer outra parte do mundo. Há dois fatores principais que contribuem para isso: primeiramente, uma cultura que valoriza a violência, e em segundo lugar, uma legislação que facilita imensamente o acesso de qualquer pessoa a armas de fogo", afirma o especialista.

Segundo o professor, mesmo países que não têm leis restritivas quanto à compra de armas costumam permitir o acesso a rifles e armas para caça, mas não a pistolas e revólveres.

Haider-Markel diz acreditar que a maioria das pessoas atribuirá a tragédia a uma doença mental do assassino ou ao culto à violência nos EUA. "Esse caso é um pouco diferente por se tratar de um estrangeiro, que não viveu a vida toda nos EUA, mas a culpa deve recair na cultura jovem dos americanos, além de em uma suposta insanidade do autor do crime."

Prevenção

Questionado sobre o que fazer para prevenir massacres como o de ontem, o professor se mostrou cético. "Quando analisamos as causas, na maioria das vezes descobrimos que não há muito a ser feito para prevenir esses ataques. As pessoas querem saber a causa porque só conseguem seguir adiante depois de uma explicação que possam compreender", afirmou.

Segundo ele, as escolas já fazem muito para tentar prevenir episódios de violência por meio de programas de aconselhamento e apoio psicológico aos estudantes.

"Sempre haverá estudantes que não sabem destes programas e não são identificados como problemáticos, mas acredito que a maior mudança que deverá ser feita a partir de agora será com os procedimentos de reação aos ataques", disse Haider-Markel.

Ele critica também a falta de policiamento nas universidades "As polícias universitárias são relativamente pequenas e o acesso aos campi normalmente é irrestrito", lembra. Mas as melhoras na segurança não serão de grande ajuda se o assassino fizer parte da instituição.

"Por isso, a melhor forma de prevenir é usando os serviços de apoio psicológico", diz.

Armas para o massacre

Após o massacre em Virgínia Tech, duas armas foram encontradas pela polícia que continham as impressões digitais de Cho.

O número de série de uma das pistolas foi apagado, mas a polícia americana rastreou sua origem por meio de uma nota fiscal encontrada na mochila do assassino.

De acordo com o dono da loja de armas que fez a venda para o assassino, John Markell, ele entrou na loja e comprou uma pistola Glock 9 milímetros e uma caixa de munição, pagando com cartão de crédito.

"Foi uma venda comum", afirmou Markell, acrescentando que a venda foi feita em março. "Ele parecia um garoto comum, não venderíamos a arma se ele parecesse suspeito", afirmou.

"Descobrir que a arma utilizada foi comprada em minha loja foi algo horrível", afirmou o comerciante.

Com agência internacionais

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