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18/04/2007 - 08h50

Parentes e alunos fazem luto por mortos em massacre na Virgínia

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da Folha Online

Familiares de vítimas e estudantes nos Estados Unidos e em outros países fazem luto nesta quarta-feira em homenagem às 32 vítimas do massacre ocorrido em um campus da Virgínia na segunda-feira (16), no pior ataque em uma universidade da história do país.

O sul-coreano Cho Seung-hui, 23, estudante do último ano de Letras, foi apontado ontem pela polícia como autor dos ataques. Ele comprou munição e uma das duas armas que utilizou no massacre em março por US$ 571 em uma loja. Após a ação, ele se suicidou.

Na Índia e em Israel, parentes estão em luto para homenagear os professores Liviu Librescu, 76, e G.V. Loganathan, 51, que estavam entre as vítimas.

Librescu, que era israelense, ensinava Engenharia e Matemática e tentou impedir que Cho entrasse em sua sala de aula antes de ser morto com um tiro na cabeça.

"Meu pai bloqueou a porta e pediu que os estudantes saíssem. Muitos alunos pularam pelas janelas", afirmou o filho do professor, Joe Librescu, que vive em Tel Aviv.

O professor, que era sobrevivente do Holocausto imigrou da Romênia para Israel em 1978, e mudou-se para a Virgínia em 1985.

O indiano G.V. Loganathan, 51, que dava aulas no Departamento de Engenharia Civil, foi derrubado no chão por Cho durante o ataque, afirmou seu irmão G.V. Palanivel à rede NDTV do Estado indiano de Tamil Nadu (sul). "Nós sentimos como se tivéssemos levado um choque elétrico [com a morte], não sabemos o que fazer", disse Palanivel.

Loganathan, que nasceu em Chennai, no sul da Índia, estava na Virgínia desde 1982.

A imprensa local informa que um estudante indiano também pode estar entre as vítimas.

"Estamos em contato com a embaixada indiana em Washington", afirmou o porta-voz do Ministério indiano das Relações Exteriores, Navtej Sarna.

Representantes indianos seguirão para os Estados Unidos na manhã desta quarta-feira.

Vigília

No campus do Instituto Politécnico da Virgínia, uma multidão de estudantes fez uma vigília e acendeu milhares de velas na noite desta terça-feira para homenagear os mortos.

A esplanada central do campus, que fica próxima do edifício da engenharia, Norris Hall, onde morreram 30 pessoas, ficou repleta de estudantes pela primeira vez desde os ataques.

"Quero que os Estados Unidos e o mundo vejam esta expressão de apoio. Isto é amor", afirmou Zenobia Hikes, vice-presidente para assuntos estudantis, ao abrir a cerimônia.

Feng Lee, 24, carregava um retrato de Julia Pryde, uma das estudantes mortas, que era sua colega de classe. "Estamos muito tristes, foi algo muito próximo de nós", afirmou ela.

Entre os presentes havia também moradores da cidade de Blacksburg, de cerca de 40 mil habitantes, cujo centro é a universidade, que conta com cerca de 26 mil alunos.

"Tem sido horrível. Não tenho palavras para descrever o que sinto", disse a estudante brasileira Daisy Galán, 19, que é aluna do curso de Biologia.

Pouco a pouco, os alunos se dividiram em pequenos grupos. Alguns rezavam em círculos, outros cantavam, outros acendiam velas e colocavam flores em um altar improvisado.

Armas

O massacre suscitou críticas nos EUA e em vários países a respeito da venda livre de armas.

Em Sydney, o premiê australiano, John Howard, afirmou nesta terça-feira que os ataques foram reflexo da "cultura de armas" americana, que exerce impacto negativo na sociedade.

Howard, que pressionou sua liderança política a enducerer a lei de armas depois que um atirador matou 35 pessoas na Austrália, afirmou esperar que tragédias como a da Virgínia nunca mais sejam vistas em seu país.

"Nunca se pode garantir que estas coisas não irão mais ocorrer em seu país", afirmou. "Nós tivemos um episódio terrível em Port Arthur há 11 anos, mas depois disso decidimos limitar o livre acesso às armas, que era uma influência negativa dos EUA em nosso país", afirmou.

Na Índia, também houve críticas à cultura armamentista. "Não é apenas a questão de que um professor indiano foi morto. Isto está relacionado com as leis de armas americanas", afirmou K. Subrahmanyam, ex-membro do Conselho de Segurança Nacional da Índia. "Não podemos fazer nada a esse respeito, aconteceu nos EUA. Eles têm que mudar suas leis", afirmou.

Nesta terça-feira, o professor associado do departamento de ciência política da Universidade do Kansas Donald Haider-Markel, 39, disse em entrevista à Folha Online que duvida que o massacre suscite uma mudança nas leis americanas.

"Se nem mesmo a matança em Columbine [na qual dois estudantes mataram 13 pessoas em uma escola antes de se suicidarem], em 1999, foi capaz de mudar as leis, não tenho muita confiança de que elas irão mudar após esse novo ataque", disse o especialista.

Venda

De acordo com John Markell, dono da loja em que Cho comprou uma das armas, ele entrou no local e comprou uma pistola Glock 9 milímetros e uma caixa de munição.

A arma foi encontrada pela polícia e continha as impressões digitais de Cho.

"Foi uma venda comum", afirmou Markell, acrescentando que a venda foi feita em março. Ele parecia um garoto comum, não venderíamos a arma se ele parecesse suspeito", afirmou.

O número de série da pistola foi apagado, mas a polícia americana rastreou sua origem por meio de uma nota fiscal encontrada na mochila de Cho. "Descobrir que a arma utilizada foi comprada em minha loja foi algo horrível", afirmou Markell.

A polícia também encontrou uma arma calibre 22 que também teria sido usada nos ataques.

As duas ações, que ocorreram em lados opostos do campus, tiveram início às 7h15 (8h15 de Brasília) em West Ambler Johnston Hall, residência estudantil que abriga ao menos 895 pessoas. Duas pessoas morreram. Duas horas depois, Norris Hall, edifício da engenharia, foi alvo de outro ataque a tiros. Outras 30 pessoas morreram, na maioria estudantes.

Muitos alunos questionaram a falta de um alerta das autoridades entre um ataque e outro, que tiveram um intervalo de duas horas. "A universidade tem sangue nas mãos devido à falta de ação após o primeiro incidente", afirmou Billy Bason, 18, que mora no 7º andar de West Ambler Johnston, residência estudantil onde os ataques tiveram início.

Carta

Nesta terça-feira, uma carta encontrada pela polícia aparentemente indica que Cho premeditou a ação. No texto de várias páginas, ele se queixa dos garotos "ricos, festeiros e charlatões" da universidade e afirma que foram eles que "causaram a tragédia".

Segundo o jornal "Chicago Tribune", ele dava sinais de comportamento violento e fora do normal, tendo inclusive ateado fogo a um dormitório e assediado estudantes da universidade.

De acordo com Carolyn Rude, chefe do Departamento de Inglês, seu comportamento causava apreensão entre professores. "Havia preocupação a respeito dele", disse ela.
Cho vivia nos Estados Unidos desde 1992, de acordo com o porta-voz do Departamento de Imigração americano, Chris Bentley. Ele morava com a família em Centreville, na Virgínia.

"Ele era um solitário, estamos tendo dificuldades para obter informações a seu respeito", disse o porta-voz da universidade, Larry Hincker.

Segundo a polícia, ele chegou a ser submetido a tratamento para depressão. Seu corpo foi encontrado entre os 31 mortos em Norris Hall, prédio da Engenharia. De acordo com a polícia, os corpos das vítimas foram encontrados em quatro salas de aula e nas escadas.

Com agências internacionais

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