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19/04/2007 - 20h20

Divulgação de vídeo de atirador choca famílias e acende polêmica

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da Folha Online

Fotos e arquivos em vídeo enviados pelo autor do pior massacre em um campus dos Estados Unidos na história chocaram familiares e amigos das 32 vítimas, que criticaram nesta quinta-feira sua divulgação pela mídia. O material, enviado pelo atirador Cho Seung-hui na manhã de segunda-feira (16), entre os ataques cometidos no campus do Instituto Tecnológico da Virgínia (Virginia Tech), contém fotografias violentas e mensagens de ódio aos ricos.

NBC/reprodução
Imagem contida em pacote enviado à NBC mostra Cho apontando arma para a câmera
Imagem contida em pacote enviado à NBC mostra Cho apontando arma para a câmera
"Peço pelo amor de deus e por nossos filhos a todas as TVs e jornais que parem de retransmitir aquele vídeo [de Cho]. É um segundo ataque a nós", disse o pai de Mary Read, que morreu no massacre, em entrevista à rede de TV CNN.

Enquanto os familiares expressaram sua repulsa à divulgação das imagens, a polícia que investiga o massacre disse que o material ajudou muito pouco no esclarecimento dos fatos.

Para o chefe da polícia estadual da Virgínia, Steve Flaherty, as famílias das vítimas foram atingidas duas vezes --uma pelas 32 mortes causadas pelos ataques a tiros de Cho e outra pela atenção da mídia sobre o material enviado pelo atirador à rede de TV americana NBC. "Sinto muito que todos tenham sido expostos a essas imagens", disse Flaherty.

"O pacote, simplesmente, confirma o que já sabíamos na maior parte dos casos", completou. Na universidade, as autoridades enfrentam dura pressão agora que se tornou público que os problemas mentais do atirador, que estudava inglês na instituição, foram notados 17 meses antes que ele cometesse os ataques desta segunda-feira.

Oficiais da Virginia Tech insistem que não eram responsáveis pelo monitoramento do cuidado psiquiátrico com Cho depois que ele foi enviado em 2005 a um centro de saúde mental por ser considerado suicida.

O governador Tim Kaine anunciou a organização de um painel que incluirá o ex-secretário de segurança Tom Ridge para investigar a responsabilidade da universidade no ataque, depois que a instituição foi acusada de lentidão ao alertar os estudantes sobre a presença de um homem armado no campus.

Massacre

A Virginia Tech enfrentou dois ataques nesta segunda-feira. As ações, que ocorreram em lados opostos do campus, tiveram início às 7h15 (8h15 de Brasília) em West Ambler Johnston Hall, residência estudantil que abriga ao menos 895 pessoas. Duas pessoas morreram.

Reuters
O atirador Cho Seung-Hui, 23, estudava inglês na Virginia Tech
O atirador Cho Seung-Hui, 23, estudava inglês na Virginia Tech
Duas horas depois, Norris Hall, edifício da engenharia, foi alvo de outro ataque a tiros. Outras 30 pessoas morreram, na maioria estudantes.

Cho, que se suicidou em seguida, usou duas armas --uma pistola Glock 9 milímetros e outra arma calibre 22 no massacre. A polícia também encontrou facas com o estudante.

Nesta terça-feira, uma carta encontrada pela polícia aparentemente indica que Cho premeditou a ação. No texto de várias páginas, ele se queixa dos garotos "ricos, festeiros e charlatões" da universidade e afirma que foram eles que "causaram a tragédia".

Vítimas

A Virginia Tech informou que as vítimas de Cho receberão seus diplomas póstumos de graduação. As aulas serão retomadas na próxima segunda-feira (23), mas os estudantes que assim o desejarem poderão pedir a finalização de seus semestres e receber créditos pelo trabalho já realizado.

O massacre na universidade lembrou os EUA de outro ataque, o da escola Columbine, no qual dois adolescentes mataram 13 pessoas antes de se suicidarem há oito anos. As semelhanças não acabam por aí: Cho disse no material enviado à NBC que admirava os atos dos assassinos de Columbine, chamando-os de mártires. "Vocês vandalizaram meu coração, violaram minha alma e torturaram minha consciência", diz ele em um dos vídeos.

Em outro arquivo, Cho afirma que as vítimas "não deixaram outra alternativa" e foram as responsáveis pelo massacre. Ele enviou também fotografias e textos em um pacote pelo correio para a sede da NBC em Nova York.

"Havia centenas de bilhões de opções e maneiras para evitar o que aconteceu hoje", afirma ele em um dos 29 arquivos de vídeo que enviou para a NBC. "Mas vocês decidiram derramar meu sangue. Vocês me encurralaram e me deixaram apenas uma opção. Agora têm suas mãos manchadas de sangue para o resto de suas vidas".

"Eu não precisava ter feito isso. Eu poderia ter partido, eu poderia ter fugido. Mas não, vou parar de fugir. Não é por mim. Por meus filhos, por meus irmãos e minhas irmãs que vocês agridem", completa.

Família devastada

Familiares de Cho lamentaram os ataques nesta quinta-feira. "Estou devastado, não sei o que poderia dizer às famílias das vítimas e aos cidadãos americanos. Expresso minhas sinceras desculpas, como membro da família", disse o tio do estudante, identificado como Kim, 50.

A divulgação das imagens de Cho também afetou os membros de sua própria família. Eles cancelaram sua participação em programas da rede de TV NBC após a divulgação do vídeo. "Nós planejávamos entrevistar membros da família na manhã de hoje, mas eles cancelaram sua aparição devido à exibição das imagens", disse uma apresentadoras do programa "Today", da NBC, Meredith Vieira.

Cho deixou a Coréia do Sul em 1992 com a família, em busca de uma vida melhor nos Estados Unidos. Seu tio diz que não o reconheceu ao ver suas imagens mostradas na TV, já que o estudante e sua família não retornaram à Coréia do Sul desde que deixaram o país.

Segundo Kim, a mãe de Cho, que é sua irmã, telefonava de vez em quando para os parentes na Coréia do Sul, mas nunca mencionou enfrentar problemas com Cho. "Ela dizia que as crianças estavam bem e estudando. Ela não parecia estar preocupada com os filhos", disse.

"Ele não falava muito quando era criança, era muito quieto, e isto nos preocupava, tentávamos encorajá-lo a falar mais. Mas não imaginávamos que ele poderia apresentar problemas graves", afirmou ainda o tio.

O avô do estudante, igualmente identificado como Kim, 82, também disse que o neto era um garoto "tranqüilo e inteligente", mas que o fato de ser quieto demais preocupava seus pais

"Quando minha filha me telefonava, eu perguntava a ela como estava Cho, e ela dizia que ele estava muito bem. Como ele pode fazer isso?", questionou o avô do estudante.

Com agências internacionais

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