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21/04/2007 - 21h02

Atirador matou chefe na Nasa por discordar de avaliação

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da Folha Online

William Phillips, o engenheiro que prestava serviço à Nasa (agência espacial americana), matou seu supervisor no Centro Espacial Johnson, David Beverly, porque estava irritado com a má avaliação de seu trabalho, disse neste sábado o chefe de Polícia de Houston, no Texas, Harold Hurtt.

Phillips, 60, se suicidou nesta sexta-feira depois de matar Beverly e de manter uma secretária, Francelia Crenshaw, por quatro horas como refém.

Esse crime e o massacre em uma universidade norte-americana chocaram os Estados Unidos e o mundo. Na última segunda-feira (16), o sul-coreano Cho Seung-hui, 23, matou 32 pessoas em um campus universitário do Estado da Virgínia antes de se suicidar.

As cerimônias fúnebres das vítimas do mais sangrento massacre já ocorrido em uma universidade dos EUA começaram neste sábado, um dia depois que a família do jovem que matou colegas e professores pediu desculpas pela "dor insuportável" causada a tantas famílias.

20.04.2007/AP
Veículos policiais e de emergência cercam prédio da Nasa em Houston durante invasão
Veículos policiais e de emergência cercam prédio da Nasa em Houston durante invasão
A ação reacendeu no país o debate sobre a legislação de venda de armas e sua aplicabilidade: Cho, que já passou por tratamentos psiquiátricos em 2005, era proibido por lei federal de comprar armas, mas conseguiu adquirir o armamento utilizado nos ataques em uma loja local e na internet sem nenhum impedimento.

O debate se aprofunda agora depois das ações de Phillips. Por volta das 14h40 (15h40 de Brasília) de ontem, ele entrou armado na sala de conferências do prédio 44 do Centro Espacial Johnson, que abriga escritórios de comunicações e engenharia da Nasa, fez dois reféns e determinou que os outros deixassem o local.

Phillips manteve a segunda refém com os pés e as mãos atados a uma cadeira durante a invasão do centro, que durou quase quatro horas. Após o suicídio, ela foi libertada sem ferimentos graves.

O porta-voz da Nasa Doug Peterson disse que a agência vai revisar novamente suas medidas de segurança. Para entrar no centro espacial, funcionários devem apresentar cartões de identificação a guardas de segurança. Os cartões permitem apenas o acesso a prédios específicos.

Phillips não era casado e não tinha filhos, além de aparentemente viver sozinho. Phillips deixou mensagens números de telefone e nomes de pessoas a serem contatadas após seu suicídio. A polícia disse que ele escreveu um bilhete em um quadro na sala, mas seu conteúdo não foi revelado.

Reféns

O funcionário assassinado era David Beverly, 62, empregado da Nasa. Ele levou um tiro no peito nos primeiros momentos da invasão ao prédio, segundo a polícia.

20.abr.2007/AP
Policiais e ambulância se apresentam no centro espacial Johnson após invasão ontem
Policiais e ambulância se apresentam no centro espacial Johnson após invasão ontem
Sua mulher, Linda, informou que ele era especialista em sistemas elétricos e sentia que trabalhar para a Nasa era sua missão. "Ele realmente acreditava estar contribuindo", disse.

Linda Beverly confirmou já ter ouvido menções sobre Phillips por parte de seu marido, mas se negou a especificar os comentários. Segundo ela, "não seria justo" com Phillips.

A segunda refém era Fran Crenshaw, funcionária terceirizada que trabalhava para a empresa MRI Technologies. "Ela foi muito corajosa e exerceu uma influência calmante nesse episódio. Aparentemente, Crenshaw foi capaz de manter uma boa relação com o atirador, porque não temos conhecimento de ameaças a ela em nenhum momento", disse Hurtt.

Mistério na Virgínia

Uma reportagem publicada neste sábado no jornal "The New York Times" (NYT) revela que, sob a lei federal americana, o autor do massacre na Virgínia deveria ter sido proibido de comprar armas depois de ter passado por um tratamento psiquiátrico em 2005. Cho Seung-hui, 23, comprou regularmente por US$ 571 uma arma e munição com as quais matou 32 pessoas na última segunda-feira (16).

Cho foi considerado uma ameaça para si mesmo e por isso orientado pela Justiça a fazer tratamento psiquiátrico. Durante ao menos 17 meses antes do massacre, a Virginia Tech foi alertada de que o estudante apresentava sinais de comportamento fora do normal. Ele foi acusado de perseguir colegas, incendiar um quarto e tirar fotos impróprias durante as aulas.

NBC/reprodução
Imagem contida em pacote enviado à NBC mostra Cho apontando arma para a câmera
Imagem contida em pacote enviado à NBC mostra Cho apontando arma para a câmera
O "NYT" informou que a lei federal dos EUA proíbe qualquer pessoa que tenha sido "identificada como mentalmente suspeita" ou "involuntariamente internada em uma instituição de tratamento mental" de comprar uma arma. Apesar disso, o estudante não teve problemas para adquirir uma arma em uma loja local e outra pela internet. Teoricamente, vendedores são obrigados a checarem antecedentes dos compradores antes de negociar armas.

A ordem especial da Justiça no final de 2005 que orientou Cho a buscar tratamento como paciente externo e o declarou mentalmente doente preenche os critérios federais e deveria ter imediatamente desqualificado o estudante como comprador de armas, disse Richard Bonnie, líder da Corte Suprema da Comissão da Virgínia para Reforma da Lei de Saúde Mental, citado pelo "NYT".

Um porta-voz do Birô Federal de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos também afirmou que, se Cho foi considerado mentalmente doente por uma corte, ele deveria ter tido negado o direito de comprar uma arma, disse o jornal americano.

Falhas

Para o "NYT", o fato de que Cho conseguiu comprar armas sem dificuldade apesar de sua condição destaca as falhas no fornecimento de informações para autoridades federais por parte dos Estados.

NBC
Cho enviou fotos de projéteis para rede de TV americana na manhã dos ataques na Virgínia
Cho enviou fotos de projéteis para rede de TV americana na manhã dos ataques na Virgínia
Um comunicado do Birô Federal de Investigação informou que atualmente apenas 22 Estados americanos fornecem todos os registros de saúde mental para o Sistema Nacional de Checagem de Antecedentes Criminais. O comunicado diz ainda que a Virgínia é o Estado líder no fornecimento de informações.

No entanto, discrepâncias entre a lei estadual da Vírgínia e a lei federal podem ter causado a falha com relação a Cho. Enquanto nacionalmente uma pessoa considerada "risco para si mesma" se encaixa nos critérios de impedimento para a compra de armas, nesse Estado apenas alguém que foi "involuntariamente internado" ou definido como 'mentalmente incapaz' é identificado para o sistema de checagem de antecedentes.

"Está claro que temos uma falta de conexão entre a lei federal e a estadual. Mas vamos corrigir isso", afirmou Bonnie, citado pelo "NYT".

Investigação

Enquanto as famílias começaram a enterrar as vítimas, investigadores trabalham nas provas do massacre e analisam os sinais de alerta no passado do atirador --incluindo reclamações de perseguição contra ele e a visita ao hospital psiquiátrico no qual ele foi considerado uma ameaça para si mesmo.

A polícia pediu um mandado para apreender o computador e o telefone celular usado por uma das primeiras vítimas, Emily Hilscher, que foi morta juntamente com Ryan Clark em um dormitório da universidade. Depois do ataque no dormitório, Cho matou outras 30 pessoas na faculdade de engenharia da Virginia Tech.

"O computador pode ter sido um meio de comunicação entre Cho e a vítima", diz o texto do mandado, que não explica porque a polícia suspeita que os dois tiveram contato. A rede de TV CNN afirmou ainda que a polícia tentava descobrir se Cho contou a alguém sobre seus planos para os ataques.

Com "The New York Times", Efe, France Presse e agências internacionais

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