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23/04/2007
-
13h10
da Folha Online
Primeiro líder russo eleito democraticamente, Boris Ieltsin, 76, que morreu nesta segunda-feira em Moscou supostamente em decorrência de problemas cardíacos, assumiu a Presidência do país logo no início da era pós-comunismo, e levou ao país em direção ao pluralismo e à economia de mercado.
Antecessor do atual presidente russo, Vladimir Putin, ele defendia com veemência a liberdade de imprensa, mas era freqüentemente acusado de manipular a mídia russa. Em várias ocasiões ele deixou de lado os meios democráticos e recorreu ao uso de força para resolver disputas políticas, alegando que isso era "necessário" para manter o país unido.
Ieltsin sempre foi uma figura política polêmica. Em sua biografia, lançada em 2000, reconheceu que em alguns momentos de seu mandato agiu sob a influência do álcool e recordou uma situação constrangedora em Berlim, em 1994.
No livro, ele conta que durante uma cerimônia com o então chanceler (premiê) alemão, Helmut Kohl, diz que "baixou a guarda" e, depois de vários copos, sentiu que poderia fazer qualquer coisa, como reger a banda de música. À época, a cena transmitida por TV provocou risos no mundo inteiro.
Após deixar o governo, disse que preferia ficar vendo shows de Celine Dion e George Michael em DVD a voltar a trabalhar como político.
"Quem se aposenta tem de fazer sua escolha: se manter na vida pública, viajar, dar palestras, continuar a trabalhar ou devotar seu tempo a quem gosta", afirmou em 2000 ao jornal russo "Komsomolskaya Pravda". "Eu escolhi a segunda opção, mais coerente com meu momento."
Corrupção
Embora tenha ganhado popularidade devido à promessa de combate à corrupção, ele não foi eficaz nesse sentido, deixando de combater crimes dentro de sua própria administração.
As reformas econômicas implementadas durante seu governo empobreceram a Rússia, causando inflação e desemprego, além do não-pagamento de pensões do governo.
Durante a era Ieltsin, a renda per capita caiu 75% na Rússia, e a população russa caiu 2 milhões, em grande parte devido à má administração dos serviços de saúde.
Conflitos
Em outubro de 1993, Ieltsin enviou tropas às ruas para enfrentar partidários leais a um Parlamento hostial ao seu governo, que gerou violentos confrontos em Moscou.
Em dezembro de 1994, ele lançou um conflito contra rebeldes separatistas do república da Tchetchênia (sul), que terminou em 1996 com uma humilhante derrota dos russos.
Dezenas de milhares de pessoas morreram no conflito, que não resolveu o impasse.
Em 1999, ele lançou uma nova ação armada na Tchetchênia, supervisionada, em grande parte, pelo atual presidente russo, Vladimir Putin, seu sucessor na liderança do Kremlin.
Ieltsin, que sempre sofreu de problemas cardíacos, e renunciou à Presidência em 1999, vários meses antes do fim oficial de seu mandato. Putin, que era seu primeiro-ministro, tornou-se presidente em exercício e foi eleito democraticamente para o cargo em 2000.
Saúde
Nos últimos anos de seu governo, ele foi vítima de graves problemas de saúde e chegou a ficar afastado em alguns períodos. Freqüentemente ele deixava Moscou e seguia para sua casa de campo, permanecendo afastado do Kremlin por dias ou até mesmo semanas.
Apesar das falhas, Ieltsin introduziu vários direitos democráticos na Rússia, como o direito à liberdade de imprensa e à propriedade privada, as eleições multipartidárias e a abertura das fronteiras para o livre comércio e o turismo.
Ao contrário de presidentes que o antecederam, ele revelou publicamente detalhes de sua vida pessoal.
"A depressão, a insônia e as dores de cabeça no meio da noite, as lágrimas do desespero (...) a dor de ver pessoas próximas que não me apoiaram no último minuto, que me prejudicaram, eu suportei tudo isso", escreveu Ieltsin em seu livro de memórias, "A luta pela Rússia".
Carreira
Nascido em 1º de fevereiro de 1931, Ieltsin cresceu em uma família de camponeses de Butka, perto de Yekaterimburgo, 1.500 km ao leste de Moscou. Ele se formou em engenharia e começou sua carreira política aos 37 anos como chefe da organização local do Partido Comunista Soviético (PCUS).
Em 1981, foi nomeado membro do Comitê Central do PCUS, despertou a atenção do número um do regime soviético, Michail Gorbatchov e, em 1985, Ieltsin passou a ser o primeiro-secretário dos comunistas de Moscou.
No entanto, a relação com Gorbatchov se deteriorou e Ieltsin foi excluído do Politburo e de suas funções ministeriais até 1989. Naquele ano, no entanto, conseguiu se eleger deputado por Moscou no Parlamento soviético, com 90% dos votos. Em junho de 1991, venceu as eleições presidenciais russas com 57,38% dos votos. Ele apareceu para o mundo todo como o "salvador da democracia" diante da ameaça da volta dos comunistas ao poder.
Em julho de 1996, foi reeleito presidente da Rússia e em novembro foi submetido a uma cirurgia para colocação de cinco pontes de safena.
Em 31 de dezembro de 1999, Ieltsin apresentou sua demissão. Desde então, levava uma vida discreta, distante da política. Ieltsin era casado, tinha duas filhas e vários netos.
Com France Presse e agências internacionais
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Antecessor do atual presidente russo, Vladimir Putin, ele defendia com veemência a liberdade de imprensa, mas era freqüentemente acusado de manipular a mídia russa. Em várias ocasiões ele deixou de lado os meios democráticos e recorreu ao uso de força para resolver disputas políticas, alegando que isso era "necessário" para manter o país unido.
Alexander Zemlianichenko/AP |
Boris Ieltsin, primeiro presidente russo da era pós-comunismo |
No livro, ele conta que durante uma cerimônia com o então chanceler (premiê) alemão, Helmut Kohl, diz que "baixou a guarda" e, depois de vários copos, sentiu que poderia fazer qualquer coisa, como reger a banda de música. À época, a cena transmitida por TV provocou risos no mundo inteiro.
Após deixar o governo, disse que preferia ficar vendo shows de Celine Dion e George Michael em DVD a voltar a trabalhar como político.
"Quem se aposenta tem de fazer sua escolha: se manter na vida pública, viajar, dar palestras, continuar a trabalhar ou devotar seu tempo a quem gosta", afirmou em 2000 ao jornal russo "Komsomolskaya Pravda". "Eu escolhi a segunda opção, mais coerente com meu momento."
Corrupção
Embora tenha ganhado popularidade devido à promessa de combate à corrupção, ele não foi eficaz nesse sentido, deixando de combater crimes dentro de sua própria administração.
As reformas econômicas implementadas durante seu governo empobreceram a Rússia, causando inflação e desemprego, além do não-pagamento de pensões do governo.
Durante a era Ieltsin, a renda per capita caiu 75% na Rússia, e a população russa caiu 2 milhões, em grande parte devido à má administração dos serviços de saúde.
Conflitos
Em outubro de 1993, Ieltsin enviou tropas às ruas para enfrentar partidários leais a um Parlamento hostial ao seu governo, que gerou violentos confrontos em Moscou.
Em dezembro de 1994, ele lançou um conflito contra rebeldes separatistas do república da Tchetchênia (sul), que terminou em 1996 com uma humilhante derrota dos russos.
Dezenas de milhares de pessoas morreram no conflito, que não resolveu o impasse.
Em 1999, ele lançou uma nova ação armada na Tchetchênia, supervisionada, em grande parte, pelo atual presidente russo, Vladimir Putin, seu sucessor na liderança do Kremlin.
Ieltsin, que sempre sofreu de problemas cardíacos, e renunciou à Presidência em 1999, vários meses antes do fim oficial de seu mandato. Putin, que era seu primeiro-ministro, tornou-se presidente em exercício e foi eleito democraticamente para o cargo em 2000.
Saúde
Nos últimos anos de seu governo, ele foi vítima de graves problemas de saúde e chegou a ficar afastado em alguns períodos. Freqüentemente ele deixava Moscou e seguia para sua casa de campo, permanecendo afastado do Kremlin por dias ou até mesmo semanas.
Apesar das falhas, Ieltsin introduziu vários direitos democráticos na Rússia, como o direito à liberdade de imprensa e à propriedade privada, as eleições multipartidárias e a abertura das fronteiras para o livre comércio e o turismo.
Ao contrário de presidentes que o antecederam, ele revelou publicamente detalhes de sua vida pessoal.
"A depressão, a insônia e as dores de cabeça no meio da noite, as lágrimas do desespero (...) a dor de ver pessoas próximas que não me apoiaram no último minuto, que me prejudicaram, eu suportei tudo isso", escreveu Ieltsin em seu livro de memórias, "A luta pela Rússia".
Carreira
Nascido em 1º de fevereiro de 1931, Ieltsin cresceu em uma família de camponeses de Butka, perto de Yekaterimburgo, 1.500 km ao leste de Moscou. Ele se formou em engenharia e começou sua carreira política aos 37 anos como chefe da organização local do Partido Comunista Soviético (PCUS).
Em 1981, foi nomeado membro do Comitê Central do PCUS, despertou a atenção do número um do regime soviético, Michail Gorbatchov e, em 1985, Ieltsin passou a ser o primeiro-secretário dos comunistas de Moscou.
No entanto, a relação com Gorbatchov se deteriorou e Ieltsin foi excluído do Politburo e de suas funções ministeriais até 1989. Naquele ano, no entanto, conseguiu se eleger deputado por Moscou no Parlamento soviético, com 90% dos votos. Em junho de 1991, venceu as eleições presidenciais russas com 57,38% dos votos. Ele apareceu para o mundo todo como o "salvador da democracia" diante da ameaça da volta dos comunistas ao poder.
Em julho de 1996, foi reeleito presidente da Rússia e em novembro foi submetido a uma cirurgia para colocação de cinco pontes de safena.
Em 31 de dezembro de 1999, Ieltsin apresentou sua demissão. Desde então, levava uma vida discreta, distante da política. Ieltsin era casado, tinha duas filhas e vários netos.
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