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31/10/2000
-
19h49
MARCOS RESENDE*
especial para a Folha Online
Quarto jato de transporte comercial projetado pela Boeing, o B-747 é o maior avião civil já construído. Os quase 1.000 aviões desse tipo que estão em operação já transportaram, de 1963 até hoje, aproximadamente 2,2 bilhões de pessoas (40% da população da terra).
Para tanto, percorreram uma distância somada de 32 bilhões de quilômetros, construindo um histórico de confiabilidade e segurança que ainda não tem concorrência.
Seu projeto teve início no começo dos anos 60, depois que a Boeing perdeu um contrato para a construção de um novo avião de transporte militar para a força aérea dos EUA.
A fábrica concorrente Lockheed foi a vencedora, com o C-5A Galaxy. Os engenheiros da Boeing trataram então de estudar aplicações civis para seu projeto militar, que evoluiu como um avião quadrimotor, asa baixa, de configuração convencional.
Uma particularidade era a protuberância na parte superior dianteira da fuselagem, que abrigaria um segundo "deck" (andar), ligado à cabine de passageiros principal por uma escada em caracol.
Oito passageiros podiam ser acomodados nesse novo espaço, chamado "upper deck". A capacidade do "upper deck" foi sendo aumentada e os últimos modelos comportam até 69 passageiros no "segundo andar".
Em 1965 os conceitos deste novo avião, então já designado B-747, estavam estabelecidos e o novo motor Pratt & Whitney JT9D foi escolhido pela Boeing para equipar a aeronave.
Eram inúmeros os desafios que envolviam a construção de um avião tão grande, e os problemas foram aparecendo. Para que as pistas existentes pudessem suportar seu peso, a Boeing desenvolveu um trem de pouso com 18 rodas, divididas em quatro conjuntos principais e um trem de nariz.
Os engenheiros construíram uma espécie de simulador de táxi, montado em cima de um caminhão, para provar que os pilotos poderiam manobrar o avião no solo com segurança, apesar de seu tamanho.
Como a maioria de seus contemporâneos, o B-747 foi projetado para ser operado por uma equipe de três tripulantes: dois pilotos e um engenheiro de vôo. Com encomendas firmadas pela empresa americana Pan Am em 14 de julho de 1966, seguida pela alemã Lufthansa e pela japonesa JAL, a Boeing foi em frente.
Um novo centro industrial foi construído em Everett, Washington, para abrigar a linha de montagem do B-747. O primeiro vôo ocorreu em 9 de fevereiro de 1969. O modelo original estava equipado com motores JT9D -1 ou -3, e seu peso máximo certificado era de 322.055 kg.
Essas primeiras variantes ficaram conhecidas como B-747-100. O modelo B-747-200 voou em 11 de outubro de 1970, mais pesado, com maior autonomia e motores mais potentes.
Os modelos 100/200 podem levar até 516 passageiros, em configuração de máxima densidade. Versões cargueiras (B-747-F) e mistas (B-747-C) foram desenvolvidas, com uma seção de nariz especial que se levanta, permitindo o embarque da carga pela frente.
Uma porta convencional de carga, na seção traseira direita da fuselagem foi incorporada em 1974 no modelo B-747 Combi. Todas estas versões têm dimensões externas similares, mas a fuselagem do modelo 747-SP , que fez seu primeiro vôo em 4 de julho de 1975, é 14,6 m mais curta.
O Boeing B-747-100 foi certificado em 30 de dezembro de 1969, e seu primeiro vôo comercial sobre o Atlântico Norte ocorreu em 21 de jaaneiro de 1970, pelas cores da Pan American. O modelo 747-200 entrou em serviço pouco depois, operado pela empresa holandesa KLM.
Em 1980 a Boeing propôs uma nova variante do 747. O "upper deck" foi esticado em 7,11m aumentando a capacidade do upper deck para até 69 passageiros. Essa versão foi chamada de 747-300, e voou pela primeira vez em 5 de outubro de 1982. Este modelo, com peso máximo similar aos anteriores, pode acomodar até 624 passageiros.
No final dos anos 80, a Boeing redesenhou o 747, criando o modelo 400. Embora seja externamente parecido com os modelos anteriores, o B-747-400 incorpora mudanças estruturais e aerodinâmicas significativas, que o tornaram mais econômico e eficiente.
Um aspecto que permite ao observador diferenciar o 747-400 de seus "irmãos" está nas asas, equipadas com "wing tips" (as pontas das asas são viradas para cima) que reduzem o arrasto induzido, contribuindo para a economia de combustível.
Todos os sistemas da aeronave foram extensivamente modernizados, e a automatização permitiu a operação do novo modelo por apenas dois pilotos, eliminando a posição do engenheiro de vôo. Comparado com os modelos anteriores, que tinham em torno de 971 mostradores, interruptores e luzes na cabine, o 747-400 é muito mais "simples": esse número baixou para "apenas" 365, devido ao uso de computadores para automatizar uma série de sistemas.
Aumentos significativos nos pesos máximos e no alcance do Boeing 747-400 foram possíveis graças ao emprego de motores de nova geração, mais potentes e econômicos. Com seu peso e alcance, o B-747-400 não têm similar no mercado, e o único avião capaz de fazer o seu serviço é outro 747.
Com aproximadamente 500 aeronaves entregues, o B-747-400 é o único avião da família de "jumbos" fabricado atualmente pela Boeing, e já é o modelo mais vendido entre todos. O primeiro 747-400 foi recebido pela empresa norte-americana Northwest em 1988. Mais de 1200 B-747, de todas as séries, foram fabricados. Destes, mais de 1000 ainda se encontram em serviço, operando sob as bandeiras de inúmeras empresas ao redor do mundo, fazendo do "Jumbo" , aquele do "calombo em cima", o avião comercial mais reconhecido da história.
A aeronave envolvida no acidente em Taiwan era um B-747-400, prefixo 9V-SPK, número de série 28023/1099, fabricada em 1997 e entregue nova para a Singapore Airlines.
Ficha Técnica Boeing B-747-400
Passageiros: 416 em configuração de 3 classes
Envergadura: 64,4 m
Comprimento: 70,6 m
Altura: 19,4 m
Largura Interna: 6,1 m
Peso Máximo de Decolagem: 396.890 kg
Combustível Máximo: 216.840 L
Alcance Máximo: 13.570 km
Velocidade de Cruzeiro: 910 km/h Mach .85 (35.000 ft)
Motores: 4 unidades PW4062 de 63.300 lbs;
ou 4 unidades RB211-524H de 59.500 lbs;
ou 4 unidades CF6-80C2 B5F de 62.100 lbs.
* Marcos Resende é piloto da aviação civil.
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Saiba tudo sobre o Boeing 747
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Quarto jato de transporte comercial projetado pela Boeing, o B-747 é o maior avião civil já construído. Os quase 1.000 aviões desse tipo que estão em operação já transportaram, de 1963 até hoje, aproximadamente 2,2 bilhões de pessoas (40% da população da terra).
Para tanto, percorreram uma distância somada de 32 bilhões de quilômetros, construindo um histórico de confiabilidade e segurança que ainda não tem concorrência.
Seu projeto teve início no começo dos anos 60, depois que a Boeing perdeu um contrato para a construção de um novo avião de transporte militar para a força aérea dos EUA.
A fábrica concorrente Lockheed foi a vencedora, com o C-5A Galaxy. Os engenheiros da Boeing trataram então de estudar aplicações civis para seu projeto militar, que evoluiu como um avião quadrimotor, asa baixa, de configuração convencional.
Uma particularidade era a protuberância na parte superior dianteira da fuselagem, que abrigaria um segundo "deck" (andar), ligado à cabine de passageiros principal por uma escada em caracol.
Oito passageiros podiam ser acomodados nesse novo espaço, chamado "upper deck". A capacidade do "upper deck" foi sendo aumentada e os últimos modelos comportam até 69 passageiros no "segundo andar".
Em 1965 os conceitos deste novo avião, então já designado B-747, estavam estabelecidos e o novo motor Pratt & Whitney JT9D foi escolhido pela Boeing para equipar a aeronave.
Eram inúmeros os desafios que envolviam a construção de um avião tão grande, e os problemas foram aparecendo. Para que as pistas existentes pudessem suportar seu peso, a Boeing desenvolveu um trem de pouso com 18 rodas, divididas em quatro conjuntos principais e um trem de nariz.
Os engenheiros construíram uma espécie de simulador de táxi, montado em cima de um caminhão, para provar que os pilotos poderiam manobrar o avião no solo com segurança, apesar de seu tamanho.
Como a maioria de seus contemporâneos, o B-747 foi projetado para ser operado por uma equipe de três tripulantes: dois pilotos e um engenheiro de vôo. Com encomendas firmadas pela empresa americana Pan Am em 14 de julho de 1966, seguida pela alemã Lufthansa e pela japonesa JAL, a Boeing foi em frente.
Um novo centro industrial foi construído em Everett, Washington, para abrigar a linha de montagem do B-747. O primeiro vôo ocorreu em 9 de fevereiro de 1969. O modelo original estava equipado com motores JT9D -1 ou -3, e seu peso máximo certificado era de 322.055 kg.
Essas primeiras variantes ficaram conhecidas como B-747-100. O modelo B-747-200 voou em 11 de outubro de 1970, mais pesado, com maior autonomia e motores mais potentes.
Os modelos 100/200 podem levar até 516 passageiros, em configuração de máxima densidade. Versões cargueiras (B-747-F) e mistas (B-747-C) foram desenvolvidas, com uma seção de nariz especial que se levanta, permitindo o embarque da carga pela frente.
Uma porta convencional de carga, na seção traseira direita da fuselagem foi incorporada em 1974 no modelo B-747 Combi. Todas estas versões têm dimensões externas similares, mas a fuselagem do modelo 747-SP , que fez seu primeiro vôo em 4 de julho de 1975, é 14,6 m mais curta.
O Boeing B-747-100 foi certificado em 30 de dezembro de 1969, e seu primeiro vôo comercial sobre o Atlântico Norte ocorreu em 21 de jaaneiro de 1970, pelas cores da Pan American. O modelo 747-200 entrou em serviço pouco depois, operado pela empresa holandesa KLM.
Em 1980 a Boeing propôs uma nova variante do 747. O "upper deck" foi esticado em 7,11m aumentando a capacidade do upper deck para até 69 passageiros. Essa versão foi chamada de 747-300, e voou pela primeira vez em 5 de outubro de 1982. Este modelo, com peso máximo similar aos anteriores, pode acomodar até 624 passageiros.
No final dos anos 80, a Boeing redesenhou o 747, criando o modelo 400. Embora seja externamente parecido com os modelos anteriores, o B-747-400 incorpora mudanças estruturais e aerodinâmicas significativas, que o tornaram mais econômico e eficiente.
Um aspecto que permite ao observador diferenciar o 747-400 de seus "irmãos" está nas asas, equipadas com "wing tips" (as pontas das asas são viradas para cima) que reduzem o arrasto induzido, contribuindo para a economia de combustível.
Todos os sistemas da aeronave foram extensivamente modernizados, e a automatização permitiu a operação do novo modelo por apenas dois pilotos, eliminando a posição do engenheiro de vôo. Comparado com os modelos anteriores, que tinham em torno de 971 mostradores, interruptores e luzes na cabine, o 747-400 é muito mais "simples": esse número baixou para "apenas" 365, devido ao uso de computadores para automatizar uma série de sistemas.
Aumentos significativos nos pesos máximos e no alcance do Boeing 747-400 foram possíveis graças ao emprego de motores de nova geração, mais potentes e econômicos. Com seu peso e alcance, o B-747-400 não têm similar no mercado, e o único avião capaz de fazer o seu serviço é outro 747.
Com aproximadamente 500 aeronaves entregues, o B-747-400 é o único avião da família de "jumbos" fabricado atualmente pela Boeing, e já é o modelo mais vendido entre todos. O primeiro 747-400 foi recebido pela empresa norte-americana Northwest em 1988. Mais de 1200 B-747, de todas as séries, foram fabricados. Destes, mais de 1000 ainda se encontram em serviço, operando sob as bandeiras de inúmeras empresas ao redor do mundo, fazendo do "Jumbo" , aquele do "calombo em cima", o avião comercial mais reconhecido da história.
A aeronave envolvida no acidente em Taiwan era um B-747-400, prefixo 9V-SPK, número de série 28023/1099, fabricada em 1997 e entregue nova para a Singapore Airlines.
Ficha Técnica Boeing B-747-400
ou 4 unidades RB211-524H de 59.500 lbs;
ou 4 unidades CF6-80C2 B5F de 62.100 lbs.
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